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sábado, 19 de outubro de 2019

Álvaro Pereira Júnior, que entrevistou o U2 no Brasil em 2017 para a Rede Globo, se recusou a escrever sobre a banda 30 anos antes, e disse que na primeira vinda ao Brasil o grupo "sentia o gosto amargo da decadência"


Dois anos atrás, o U2 esteve no Brasil com a 'The Joshua Tree Tour 2017'. A banda em São Paulo foi até os estúdios da Rede Globo para a gravação de um pocket show no heliponto do prédio, e gravaram uma entrevista com o repórter Álvaro Pereira Júnior para exibição no programa Fantástico.
Ele disse: "Será bacana. Que moral do Fantástico".
Álvaro Pereira Júnior no ano da primeira vinda do U2 ao Brasil, 1998, era colunista da Folha De São Paulo, e disse que a banda sentia o gosto amargo da decadência:

"Existem três tipos básicos de bandas que vêm ao Brasil:
1) Múmias viventes, zumbis vagando sobre os escombros do que foram um dia. Caso de Scorpions, Deep Purple e Rolling Stones;
2) Loucos e/ou idealistas, que baixam aqui pelo prazer da aventura de tocar para plateias exóticas. Foi o que aconteceu com os americanos do Fugazi, que se apresentaram em São Paulo no ano passado;
3) Bandas que começam a sentir o gosto amargo da decadência e, rejeitadas pelo mercado dos EUA, voltam os olhos para países periféricos de bom potencial de vendas, como México e Brasil.
O U2 está nessa última categoria. Seria exagero chamá-lo de grupo em fim de carreira, porque continua lotando arenas na Europa e, bem ou mal, ainda lança discos com músicas inéditas. Mas é preciso dizer que esses irlandeses sofreram um golpe violento no ano passado, ao tocar para estádios quase vazios nos EUA. Quem abria era o Oasis, que ainda não tinha muito cartaz com o público americano e pouco ajudou a turnê a decolar.
Assim, a banda que vem ao Brasil, e pelo menos em São Paulo atrairá multidões, já não integra a linha de frente do rock.
Não faz mais nada relevante, tenta uma carona de última hora na onda trip-hop, perde-se em gigantismo e naquele modus operandi que poderia ser chamado de "a tecnologia a serviço do nada".
O que levanta uma outra questão, agora mais polêmica: será que algum dia o U2 foi importante?
Se o critério for número de discos vendidos, é claro que sim.
Mas, a meu ver, esse U2 dos megashows de hoje nada mais é do que uma versão escancarada, sem disfarces, daquilo que eles sempre almejaram ser, desde álbuns como 'Boy' (1980), 'October' (1981) e 'War' (1983).
O U2 tem um vício de origem, tão comum a músicos irlandeses: o messianismo, a grandiosidade. Numa palavra, a pretensão. E a pretensão é o cadafalso do rock.
Em 1987, fui convidado pela Ilustrada a escrever sobre 'The Joshua Tree', considerado o disco "americano" do U2. Agradeci mas me esquivei, porque não tinha nenhum disco da banda e não havia meio de saber se eles tinham melhorado ou piorado, evoluído ou involuído. Onze anos depois, continua tudo igual.
Não tenho e nunca tive um disco deles. Acho de um vazio abismal grupos que se metem a interpretar o universo, a mudar o mundo. Se você tem menos de 25 anos e gosta de rock, atente para duas bandas da mesma época, infinitamente mais interessantes: Psychedelic Furs e Killing Joke.
Eu não vou ao show do U2, mas muita gente vai. Tudo bem. A vida é assim".

O mesmo Álvaro Pereira Júnior para a mesma Folha De São Paulo escreveu na segunda vinda do U2 ao Brasil em 2006:

"Hoje e amanhã tem U2 em São Paulo. O U2 existe há 30 anos.
A idolatria do público pelo U2 é algo sem paralelo. Gente que nem liga muito para rock se transforma completamente ao ouvir o nome de Bono e seus três companheiros. Pessoas "normais", quando abrem suas gavetas, revelam extensas coleções de CDs, vídeos, DVDs. Enfim, tudo o que se refere a U2.
A veneração do público pelo U2 só faz crescer. A banda se recusa a se transformar em cover de si mesma. Cada nova turnê acontece em função de um novo álbum. As canções mais recentes entram facilmente na lista de preferidas do público. O U2 não se alimenta unicamente do passado.
O mundo pop em que o U2 nasceu é bem diferente desse de hoje".
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