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quarta-feira, 2 de outubro de 2019

A nota no encarte de 'All That You Can't Leave Behind' do U2 sobre estupro e trauma ocorrido em Serra Leoa


Nas notas do encarte de 'All That You Can't Leave Behind' do U2, lançado em Outubro de 2000, está escrito:

Remember 16 year old Mabinti (name changed to protect identity), abducted, mutilated, and raped by rebel forces, Sierra Leone.

Lembre-se da garota de 16 anos Mabinti (nome alterado para proteger a identidade), sequestrada, mutilada e estuprada por forças rebeldes, Serra Leoa.



A nota faz uma referência ao mesmo caso descrito em Maio de 2000 no Los Angeles Times por Yinka Akinsulure-Smith, uma psicóloga de aconselhamento com especialidade em estupro e trauma que havia viajado para Serra Leoa:

"Quando eu estava conduzindo entrevistas em Serra Leoa, em uma investigação do Médicos para Direitos Humanos, a que não consigo esquecer é uma conversa com uma garota de 16 anos chamada Shirley. Tão ferida por estupros repetidos quando escapou de seus captores e voltou para casa, precisou de uma histerectomia completa. Quando perguntada sobre uma punição justa para os rebeldes da Frente Unida Revolucionária (RUF) que a escravizaram, que também mataram seus pais diante de seus olhos, ela respondeu: "Se eu pedir punição por eles, nunca será igual ao que eu passei. Então, o melhor é deixá-los para que possamos ter paz na Serra Leoa".

"Apenas os deixar" foi precisamente o que um acordo de paz mediado pela ONU, o Acordo de Paz de 1999, fez. O acordo forneceu anistia geral a todos os crimes cometidos na guerra civil de nove anos, dando posições superiores em um governo de coalizão ao líder da RUF, Foday Sankoh e seus homens. Esse era um preço que a maioria dos serra-leoneses estavam dispostos a pagar para encerrar uma guerra civil que lhes causava atrocidades extraordinárias.
Sankoh, treinado nos campos de guerrilha do líder líbio Muammar Gaddafi, iniciou a rebelião em 1991, com o objetivo de tomar controle do governo de Serra Leoa e das minas de diamantes.
No final de década de 1990, os rebeldes liderados por Sankoh intensificaram os ataques contra civis. Os promotores estimam que, em dez anos de guerra civil, 75 mil foram assassinados.
Sob a liderança de Sankoh, os rebeldes ganharam notoriedade pelas atrocidades cometidas contra civis, como decepar lábios, orelhas e nariz das vítimas.
Sankoh e seus comandantes se recusaram a desarmar seus homens, libertar seus reféns ou renunciar ao controle das minas de diamante da Serra Leoa, onde um comércio ilegal, mas rápido, de jóias com a Libéria e Burkina Faso garantia à RUF um grande suprimento de armas em troca. Pior ainda, sem pagar multa por seus crimes monstruosos contra homens, mulheres e crianças desarmadas, as forças rebeldes continuaram a aterrorizar, mutilar, seqüestrar, saquear, matar e estuprar.
Especialmente estuprar. Autoridades da ONU estimaram que Serra Leoa tinha a maior taxa de violência sexual do mundo. Embora ninguém soubesse os números, era seguro dizer que milhares de mulheres e meninas foram estupradas e mortas, ou sequestradas e forçadas a viver como escravas sexuais. Por exemplo, os Médicos pelos Direitos Humanos receberam relatos credíveis de que nas áreas ao norte de Port Loko, Makeni e Kabala, os rebeldes estupraram quase todas as mulheres e meninas na área de controle. Algumas dessas "esposas rebeldes" escaparam e os que trabalham com elas relataram que a maioria voltava desnutrida e traumatizada física e emocionalmente. Pelo menos 60% estavam grávidas e até 90% haviam contraído infecções sexualmente transmissíveis, incluindo o HIV.
O acordo de 1999 e o estabelecimento de um governo de coalizão trouxeram uma pausa temporária em algumas áreas de guerra civil, mas mesmo a presença de forças de paz da ONU não protegeram civis onde a RUF ainda dominava.
Foday Sankoh, líder rebelde de uma violenta campanha terrorista de dez anos em Serra Leoa, morreu em 2003 sob custódia da ONU em um hospital de Freetown, capital do país da África Ocidental.
Sankoh estava preso desde maio de 2000 e começou a ser julgado por um tribunal da ONU para a guerra em Serra Leoa. Ele era acusado de crimes contra a humanidade e violações dos direitos humanos, incluindo assassinatos, estupros, extermínio e submissão de pessoas à escravidão sexual.
Sankoh morreu de causas naturais, "um final pacífico que ele negou a muitas pessoas", afirmou o escritório dos promotores do tribunal de guerra, presidido pelo americano David Crane, por meio de um comunicado.
"Sua morte não vai impedir a promotoria de procurar provas em outros julgamentos de seu envolvimento nas terríveis ações que deixaram um legado de horror nas mentes e memórias daqueles que sobreviveram".
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