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sexta-feira, 3 de julho de 2020
Marcelo Nova: "Não sou messiânico, não sou Bono Vox, não acredito nesse negócio de bandeira branca e todo mundo vai ser unido e todo mundo vai ser igual"
Marcelo Nova conseguiu colocar seu nome entre os grandes do rock brasileiro graças à sua trajetória marcada pela independência e coragem. O vocalista do Camisa de Vênus já tem quase 40 anos de carreira e segue gravando e fazendo shows, seja solo ou com a banda que ele criou em 1980, para um público que se mostra fiel e das mais diversas faixas etárias.
O auge do sucesso se deu nos anos 80, quando o Camisa se tornou uma das mais populares bandas do nosso rock. Marcelo desfez o Camisa em 1987, quando o quinteto estava em um de seus melhores momentos, partindo para uma carreira solo que pode não ter gerado sucessos radiofônicos, mas rendeu uma série de discos que merecem ser ouvidos e descobertos por mais pessoas.
Em uma entrevista no ano de 2004, Marcelo disse: "O Camisa quando surgiu, quando houve toda aquela história, também estava dentro de um certo modismo, que era rock no rádio brasileiro! Você ligava o rádio e só ouvia rock brasileiro. Era Camisa, Paralamas, Ultraje, Ira!, Titãs, Legião Urbana, Capital - uma moda de rock. Ali, não se estava colocando no ar, em questão, o talento das pessoas, individual ou coletivo. Era tudo vendido como uma moda.
Essa história de que rock pressupõe qualidade, rebeldia, uma certa superioridade musical em relação a outros gêneros, é uma falácia. A maioria das bandas de rock é uma porcaria. Assim como qualquer maioria. Ouve essa safra de novos músicos da MPB e você tira 10 %, o resto é um pé no saco sem tamanho! Entendeu? É uma total ausência de consistência no que se propõe a fazer. Só que isso é geral: no rock, na MPB. Lá fora é a mesma coisa. Surgem 100 bandas de hip-hop por dia, e você tira uma, no final do mês, que valha a pena.
E aqui a situação é mais grave. Lá, um músico, um cara como Lou Reed, por exemplo, que não é um artista de grande popularidade, é um cara que atua em uma outra área, não é rock de arena, nem U2, nem Metallica, tem um espaço, um circuito que ele percorre tranqüilamente há anos e anos, sem nunca ter se desvinculado desse ambiente que ele criou para si próprio.
Aqui, no Brasil, você é calça de veludo ou bunda de fora. Você tem de estar inserido nessa coisa de moda, tem de estar colocado, vendido e trabalhado dentro de uma nova onda que surja. Isso é realmente muito ruim, porque, se você observar, era a moda do rock, depois a moda da lambada, depois a moda do sertanejo, depois a do pagode, depois a do forró... Eu estou esperando a hora em que a moda seja "ser fora de moda". Eu só estou esperando por isso!"
No ano seguinte, Marcelo disse: "Não existe essa coisa de fazer cabeça da multidão, quando eu toco para duas mil pessoas, se tiver 100 entre essas duas mil que prestarem atenção e que voltarem para casa, mastigando chiclete, sacô? E pensando, já estou satisfeito, entendeu? Não sou messiânico, não sou Bono Vox, nem Renato Russo entendeu? Não acredito nesse negócio de bandeira branca e todo mundo vai ser unido e todo mundo vai ser igual. Nós somos apenas parecidos, mas somos completamente diferentes um dos outros".
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