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sexta-feira, 27 de julho de 2018

Um dia nas gravações de 'How To Dismantle An Atomic Bomb' - Parte I


1 De Julho de 2004

Bono parece que está tendo uma convulsão. Ele balança para frente, chacoalha a cabeça, olhos apertados. Ele está cantando. "Hello, Hello, we’re at a place called Vertigo".
A Q Magazine está na sala de jantar do Hanover Quay Studio em Dublin. "Vertigo", o primeiro single do novo álbum do U2, está explodindo de um par de alto-falantes montados na parede. Bono não está tendo um ataque epiléptico, mas ele dança, embora sem qualquer ritmo.
The Edge está sentado na longa mesa de jantar da sala pegando um prato de salada de salmão e balançando com a cabeça. Sentado em frente, Larry Mullen e Adam Clayton estão assistindo a Grécia derrubar a República Tcheca no Campeonato Europeu de Futebol. Nenhum dos dois prestam a menor atenção ao vocalista.
Dezoito meses depois de começarem a trabalhar, o U2 está prestes a terminar 11º álbum de estúdio um dia antes do previsto. Será lançado em Novembro.
Não que tudo foi de acordo com o planejado. Não seria um disco do U2 se tivesse dado tudo certo. No natal de 2003, a banda cancelou um ano de trabalho e substituiu o produtor original Chris Thomas, pelo parceiro de estúdio de longa data, Steve Lillywhite
("Não funcionou, por qualquer motivo", diz Clayton sobre o aborto das sessões).
Uma preocupação mais premente agora é a necessidade de concordar com a ordem de canções do disco. Bono e The Edge criaram um tracklist. Um não concorda com o outro. Cada um se aproxima durante a noite da Q Magazine e conspiratoriamente insistem que a versão deles é a melhor. "Eu não tenho certeza se a versão de Edge funciona", diz Bono. "Na verdade, eu disse a ele que é absurdo. Você não pode ter uma segunda música lenta."
Situado nas margens do Rio Liffey e distribuído por dois andares, o Hanover Quay teria a sensação de um albergue da juventude se não fosse pela quantidade de equipamentos eletrônicos caros espalhados.
No andar de cima há uma cozinha, sala de jantar e uma sala equipada com um sofá e um cabideiro exclusivamente para os muitos Stetsons de Bono.
Janelas do chão ao teto percorrem o comprimento de uma parede. Uma coleção de barcos encharcados estão ancorados no lado de fora. A banda os comprou para nas pausas da turnês poder fazer festas lá e navegar até o cais com eles, e também nas gravações, ficarem olhando para eles. O andar de baixo é uma sala de ensaio, sala de TV e dois estúdios. O U2 gravou a maior parte do álbum no menor dos dois. É um espaço escuro, limitado.
Na noite anterior, Bono chamou dois dos poucos fãs que ficam de vigília do lado de fora do estúdio e ofereceu à eles uma carona para casa, com a condição que eles escutassem diferentes mixagens de novas faixas em seu carro e indicassem quais gostaram mais.
Steve Lillywhite se lembra de Bono fazendo a mesma coisa com um carteiro que entrou no estúdio.
"Essa é uma das coisas que Bono faz", diz The Edge. "Ele vai tocar coisas diferentes em casa e ver o que obtém a melhor reação quando a audição está acontecendo. Como uma banda, notoriamente, nós iremos literalmente perguntar para alguém".
Hoje à noite é a Q Magazine a cobaia do U2. O plano é jantar e em seguida, escutar cinco novas músicas, com uma garrafa de vinho.
No evento, o U2 toca todo o novo álbum, inicialmente sem uma ordem particular. Steve Lillywhite transporta uma variedade de CDs do andar de baixo. Além de balançar o corpo como em espasmos, Bono fornece comentários sobre cada faixa - uma "grande linha de baixo" aqui, um "dístico de rima terrível" ali.
Quando Lillywhite se afastou, Bono sugere para se ouvir a ordem do tracklisting que ele escolheu (duas canções mais rápidas, duas mais lentas e assim por diante). Ele pergunta enquanto elas tocam: 'Quais deveriam virar singles?' 'Este mix é melhor que aquele?'
"Eu não estou sendo hipócrita", ele insiste. "Eu quero obter outra perspectiva. Porque trabalhar aqui é como ser abandonado em uma refinaria de petróleo. Nós ficamos isolados".
"Nunca é sobre competir com outras bandas", diz ele, acendendo um cigarro. "Competimos com nós mesmos, com a ideia de não nos tornarmos uma porcaria como acontece com todo mundo. Porque a única maneira que você pode justificar viver assim - com suas casas chiques e sem problemas financeiros - é certamente não virando uma porcaria".
Como Bono está mostrando sua versão para o CD pela segunda vez, Adam Clayton e Steve Lillywhite retornam. Este último veio para gravar o vocal final de Bono que entrará no disco. Ele olha Bono fumando e sorri. "Adam e eu estamos cuidando dos maus hábitos de Bono", ele diz.
"Pelo menos meus hábitos são legais", responde Bono maliciosamente enquanto se levanta.
Adam Clayton foi a ovelha negra da família U2, famoso pelo seu envolvimento com Naomi Campbell e perder um show em Sydney em 1993 porque ele estava muito bêbado para tocar. Hoje em dia, sua ideia de uma noite perfeita é aquela em que ele está na cama às 23h30.
Perguntado para ele quando ele recebeu uma cantada pela última vez, ele responde: "Por um cara ou por uma garota?", acrescentando que isso não aconteceu em nenhum dos casos nos últimos tempos, que ele possa se lembrar. "Depois de tirar o álcool da equação, há muito menos sexo", diz ele.
Há uma vulnerabilidade sobre ele. Ele diz que não tem ideia do que ele traz para a banda.
"Tocar baixo ficou muito mais simples durante os dois últimos discos", ele diz. "Antes costumava ser tão complicado. Eu estava sempre tentando vir com o melhor possível, sempre. Quando você se coloca sob esse muita pressão, você não chega necessariamente a lugar nenhum. As rodas apenas giram muito"
Ele se sentiu inseguro sobre sua posição na banda?
"Sim. Houve um período de não estar confortável. Eu não conseguia contribuir com nada".
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