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sexta-feira, 31 de março de 2017

'Zooropa', o álbum: as revelações de Flood, o produtor


O produtor Flood, contou em entrevista para o site @U2 (atu2.com), detalhes sobre as gravações do disco 'Zooropa', seu trabalho com o U2 no ano de 1993:

"Eu ouço o 'Zooropa' de vez em quando. E quando Achtung Baby estava sendo reeditado para seu relançamento, também fizemos algumas re-masterizações em 'Zooropa', então eu estive ouvindo ele atentamente.
O disco envelheceu bem. É uma grande recompensa. É um álbum que precisa ser escutado pouquíssimas vezes, porque é algo que inicialmente você ama, e você pode odiar com o passar do tempo, ou vice-versa. E por que ter medo de algo que pode não ter uma vendagem tão fácil? Você tem que olhar para coisas que não necessariamente possam ser atraentes no começo.
Eu tinha ido bem em 'Achtung Baby' e então a banda gravaria um EP e queriam alguém que eles sabiam que chegaria e faria.
Definitivamente foi um desafio, e foi um grande desafio. 'Achtung Baby' tinha sido tão gratificante, então eu acho que eu depois fui fazer um outro álbum, com o Depeche Mode, e algo com o Nine Inch Nails. Originalmente, Bono disse que queriam fazer um EP e começou em janeiro de 1993. E ele disse que seria muito rápido, porque 'Achtung Baby' levou muito tempo. Então eu disse: 'Ok, tudo bem'.
Eles se instalaram e começaram a ensaiar para a próxima etapa da Zoo TV, de shows em estádios, e eles estavam em um local em Dublin e eles faziam alguma gravação de músicas novas. Então, eu e Brian Eno nos juntamos à eles. Foi um álbum muito experimental. Tudo dentro dos primeiros meses cresceu, porque foi tudo baseado em torno de jams ou snippets de shows ao vivo. Pedaços de música foram tirados de todos os lados e rapidamente se transformaram em um álbum. De repente estávamos todos sentados lá: 'pensávamos que seria um EP, mas agora é um álbum'.
Foi um período muito produtivo. Nosso estúdio estava montado no The Factory, que é onde eles estavam ensaiando também. E Brian Eno veio com um monte de ideias diferentes para fazer acontecer. E, como na faixa "Zooropa", a segunda metade da canção é baseada em uma jam que fizeram na Nova Zelândia que Joe O'Herlihy tinha gravado e processado. Havia muitos lugares diferentes de onde as coisas estavam vindo. Então se passava uma semana e eles reproduziam aquelas diversas jams, e eu ficava na sala de controle do estúdio gravando e fazendo anotações, e Brian Eno ficava com a banda tocando, e vinha na sala de controle e também fazia suas anotações. E no final da semana, nós gostávamos de comparar as anotações e dizer: 'bem, nós concordamos que estes são os melhores momentos destas jams', e depois nós colocávamos elas... provavelmente em uma fita cassete... e então entregávamos para a banda algo como, o melhor compilado daquela semana.
Fizemos isso por duas semanas e conseguimos uma carga de jams com bastante profundidade. E, em seguida, Brian Eno, The Edge e eu sentávamos lá e eu diria: 'Bem, eu gosto desta e acho que posso fazer algum trabalho com aquela'; e Eno diria 'Eu gosto desta e posso fazer algo com aquela'; e The Edge poderia dizer: 'Esta é baseada em uma canção que eu tenho trabalhado, talvez possamos fazer alguma coisa com isso'. Então nos dividíamos assim.
E então fomos para o novo estúdio Windmill Lane e havia uma sala lá e foi montado os equipamentos de gravação, só na espera de alguém ir lá. Demorou cerca de três semanas antes que alguém realmente aventurou-se a ir lá, porque não havia muito coisa de gravações acontecendo naquele período. Mas então fomos nós para lá e usamos duas salas e uma no The Factory e então começamos a andar em torno deste material, em cada sala utilizada por nós, trabalhando em uma música diferente.
A ideia do EP se tornar um álbum, foi conduzida por Bono. Havia um chamado green room na parte de trás da sala de controle, e a banda, depois de fazer um monte de gravações, iam para aquele espaço dar um tempo, e durante esse tempo Bono estava começando a desenvolver a noção da 'Terra de Zooropa' e a música começou a se encaixar nisso. E cada vez que saiam daquele green room, o EP iria crescer e crescer e crescer.
Acho que Larry e Adam, particularmente Adam, não estavam tão interessados em fazer um disco. Eles eram os menos entusiasmados com a carga de trabalho que eles viram na frente deles, quando começou a se transformar em um álbum. Até mesmo a ideia de um EP foi empurrado neles, especialmente para Larry e Adam.
Bono fez o trabalho de convencer a todos que o EP deveria virar um álbum. Havia ocasiões, óbvio, que eles não queriam estar no estúdio, mas isso é a natureza humana. Quem é que quer isso, depois de chegar à meia-noite de um show?
E eu não tinha uma vida. Minha vida estava no estúdio. Chegou um ponto onde... no final do trabalho no disco... o dia para mim começaria aproximadamente 10:00 da manhã e eu ouviria o que tinha sido feito no dia anterior, começando a organizar umas coisas, a banda chegaria aproximadamente 11:30, escutava, fazia sugestões, talvez uma mixagem seria feita em cima ou alguém faria um overdub rápido ou gravaria algum vocal, então eles me davam uma lista de coisas que eles pensavam que precisava ser feita e, em seguida, eles iam pegar o avião para onde tocariam na Europa. Dennis Sheehan estaria de pé no fundo da sala de controle, se contraindo todo, aproximadamente 14:00 porque tinha que levá-los para Portugal ou na Grécia ou em algum lugar assim, então eu ficava lá e teria todo esse trabalho para fazer. Eles iam fazer o show, pegavam avião, voavam de volta e então geralmente entre meia-noite e 01:00 da manhã, Bono, geralmente, às vezes The Edge e ocasionalmente, logo no fim quando era necessária a aprovação final de todas as mixagens, toda a banda vinha, fazia mais algumas gravações ou ouviam o que tínhamos feito nas canções. Mas uma vez que Bono e Edge estavam naquela vida nos palcos, para eles era tudo parte do mesmo processo. Às vezes trabalharíamos até 03:00 ou 04:00 da manhã, eles iam, eu organiza mais um pouco o material e terminava aproximadamente 06:00 e ia para a cama. E isso continuou assim por duas ou três semanas no final das gravações do álbum.
Foi uma loucura, mas eu não podia chamá-lo de um trabalho. A coisa sobre isso, era que quando você estava nele, fazia parte dele. Era um organismo vivo. Você acabava entrando nele ele. Rob Kirwan, um dos meus melhores amigos, foi a primeira vez que eu tinha trabalhado com ele, e sobre esse disco, ele disse que quase o levou à loucura. E naquela época ele me odiava mais do que qualquer outro ser vivo, porque eu era implacável: tem que fazer isso; tem que fazer aquilo; tem que fazer isso. No final, eu precisei terminar mais cedo, uma semana antes, porque eu tinha sido contratado meses antes pelo Nine Inch Nails, e eles estavam me esperando em Los Angeles."
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