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quarta-feira, 21 de maio de 2025

Bono diz que com a internet, surpreender o público em uma apresentação se tornou quase impossível


Bono foi às lágrimas na estreia de seu novo filme, exibido no prestigiado Festival de Cannes. O vocalista do U2 acompanhou a exibição no Grand Théâtre Lumière e recebeu uma ovação de pé de sete minutos ao fim da sessão — uma tradição nobre no festival francês.
Visivelmente emocionado, o vocalista agradeceu ao público e fez um discurso com aquele toque de humildade irlandesa: "Eu não sou francês. Eu sou um irlandês. Eu nem sou um homem que se fez sozinho. Vocês escreveram esta história. The Edge escreveu esta história. Adam e Larry escreveram esta história. Paul McGuinness escreveu esta história", disse ele.
Mesmo com a ausência do diretor Andrew Dominik, Bono não deixou de exaltá-lo: "Eu amo sua visão. Não consigo acreditar que você conseguiu essas performances de mim".
Nas gravações de 'Bono: Stories Of Surrender', o vocalista fez diferentes takes, esperando entre as preparações, cantando junto quando chegava a hora. Foi cortado do filme uma imitação de Elvis, com "Heartbreak Hotel". Bono se lembra disso? 
"Não, mas lembro que tinha um pouco de tequila envolvida — ah, não, era uísque. Lembro-me de fazer algo dos Ramones. Sim, não: tudo é um pouco confuso porque pode ter sido no mesmo dia em que me despedi do meu pai cinco vezes. Perturbação dos sentidos, por assim dizer".
Como foi ser um artista com um público que está, digamos, "por dentro da piada" — sendo direcionado a reagir no terceiro take de uma música ou no quarto take de uma piada como se tudo fosse novo? Isso afeta Bono tanto quanto um cantor ou ator?
"É complicado desfazer a surpresa. Para alguém como eu, é mais do que complicado — é perturbador. Mas quando a internet — ou seja lá como a chamam hoje em dia — surgiu, de repente, surpreender o público se tornou quase impossível. Então os artistas começaram a se tornar jukeboxes humanos e a mudar seus sets toda noite para criar essa sensação de surpresa. Mas aprendi, por meio desse processo, o poder de um script e que, na verdade, as mesmas palavras, o mesmo ritmo — na verdade, a mesma tonalidade — podem significar algo completamente diferente de uma noite para outra. Eu tive isso confirmado antes de 'Stories Of Surrender' com duas cópias que tenho de Frank Sinatra cantando "My Way" — uma do final dos seus 50 anos e outra do final dos seus 70 anos. Mesmo arranjo, mesma tonalidade, mesma letra, e uma é um pedido de desculpas e a outra é uma ostentação. Fiquei impressionado com o canto interpretativo.
Acho que Frank sabia o que todo grande ator sabe: que você pode, de alguma forma, transmitir a mesma fala, mas de acordo com o momento em que você está e com as suas emoções. As partes mais difíceis para mim foram quando não havia público algum e eu fiquei sozinho; Andrew queria assim. Então, não sei quantos dias passamos sozinhos, e ele estava me lembrando: "Você acha que o público é próximo neste teatro, mas eles nunca serão tão próximos quanto esta lente. E essa lente saberá se você não está dizendo a verdade mais do que qualquer uma dessas pessoas que são a) fãs suas; b) curiosas; c) apenas turistas que vêm para ver o espetáculo". Isso foi interessante. Então tive que me aproximar mais do texto. Sim.
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