Bono esteve na CNN para discutir, com o apresentador Anderson Cooper e o rapper K'Naan Warsame, a crise no Chifre da África, que atinge cerca de 600 mil crianças que estão sofrendo por falta de comida, água potável e higiene sanitária básica.
O apresentador esteve em hospitais e em acampamentos de refugiados na região e contou casos muito tristes, como o da família que perdeu dois filhos a caminho de Mogadishu e estava no hospital lamentando a morte do último filho que lhes restava, Ali, um garoto de um ano de idade. A família é tão pobre que não tinha dinheiro nem para sepultar o bebê.
Bono falou do que é necessário para lidar com esta crise - é preciso dinheiro, mas também é preciso que haja esforços da ONU para que os alimentos e remédios cheguem em segurança ao seu destino, já que, além de tudo, existe uma guerra civil ocorrendo no país. Mas essa solução é para ações de curto prazo.
O músico e filantropo citou os exemplos da Etiópia e Tigre, nações que foram atingidas pela fome nos anos 80 e que conseguiram, com a ajuda de programas humanitários, como o Safety Net Program e a Kate's Foundation, reflorestar suas terras com programas de agricultura.
"Há 20 anos a Somália não tem governo e eu não sei como eles sobreviveram. Mas a fome é, de fato, o alerta para nós."
Em algumas partes da entrevista, Bono mostrou-se exaltado e emocionado com a situação, dizendo que "é chocante e repugnante. Eu vi esses rostos de perto, eu vi gente morrendo e recebi hoje relatórios dizendo que a comida dos programas começará a acabar em três semanas. É difícil acreditar que isso acontece no século 21".
"Não devemos deixar que a complexidade da situação nos absolva da responsabilidade de agir. É essa a mensagem."
Bono criticou o enfoque que a mídia tem dado aos conflitos em Londres e o Conselho de Segurança da ONU, que faz reuniões madrugada adentro sobre os conflitos na Líbia e na Síria, enquanto há 12 milhões de pessoas morrendo de fome em três países.
"30 mil morreram nos últimos meses. E é verdade, as pessoas parecem preferir assistir outras pessoas nas ruas de Londres lutando contra policiais a assistir as crianças da Somália lutando por suas vidas. As pessoas pensam nos valores de ações desmoronando enquanto temos de pensar em nossos próprios valores caindo. Porque isso vai definir quem somos. Este é um momento decisivo para nós e há muito para nos distrair e há problemas muito graves."
Além disso, o cantor explicou um pouco do trabalho da ONE Campaign, dizendo que seu trabalho, assim como o de todas as pessoas que assinam as petições, é pressionar os políticos a cumprirem suas promessas, sublinhando mais uma vez que o ponto principal desta ação na Somália deve conter equipes pacificadoras para garantir que os alimentos e remédios cheguem em segurança aos locais.
"Seria incrível ver o que a ONU pode fazer. Foi para isso que a entidade foi criada."
O apresentador Anderson Cooper, que falava diretamente de Mogadishu, Somália, também mostrou-se chocado com a situação que está vendo no país e disse que não consegue parar de pensar que os números são muito grandes para serem reais - 600 mil crianças vivendo no limiar da fome.
"Eu sinto que deveria haver uma manchete em todos os jornais, todos os dias, sobre isso. 600 mil crianças no limiar da fome, é uma catástrofe", disse Cooper.
Para finalizar, Bono deu uma declaração muito forte e citou seus quatro filhos como exemplo. Ele disse que nada - não estar em sua banda, perder sua casa ou qualquer outra coisa de valor que tenha - se compara a perder um filho. E se mostrou indignado com histórias que ouviu sobre mulheres abandonando seus filhos semimortos nas estradas para implorarem por comida.
"Escolher entre seus filhos. Você consegue imaginar? 'Eu tenho que abandonar este. Ele parece o mais fraco, ela parece a mais fraca. Vou levar este aqui'. Isso é ultrajante! Não pode estar acontecendo.
Devemos fazer isso parar!"
"Não são nossas intenções, são nossas ações. Não são as possibilidades da ONU ou da União Europeia, são nossas prioridades que nos definem. E este é um momento de definição."
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