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sábado, 2 de abril de 2011

Em 360º

Foram quase dois anos de espera. Desde junho de 2009, quando em Barcelona o U2 subiu pela primeira vez ao palco com o show “360°”, os brasileiros sonham em ver de perto esse que é atualmente o maior espetáculo de rock, duas vezes premiado como o mais rentável do mundo. A partir do sábado 9, em São Paulo, os músicos irlandeses Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. estarão nessa grande arena cujo design já é em si uma experiência. Numa circunferência de 80 metros de diâmetro, delimitada por uma grande passarela e atravessada por pontes rotativas, o show corre solto debaixo de uma impressionante estrutura de luz, som e telões de 50 metros de altura – tudo desenhado e concebido para que os músicos fiquem o mais próximo possível de seus milhares de fãs. Esse era um desejo antigo do vocalista Bono. E dois anos foram também o tempo necessário para que o sonho do vocalista virasse realidade. O responsável pela façanha foi o arquiteto inglês Mark Fisher. Um dos mais requisitados designers de palcos, ele disse à ISTOÉ que a “U2 360° Tour” nasceu de muitos encontros entre ele, Bono e o projetista Willie Williams: “Eu enviava os desenhos, conversávamos, mandava mais desenhos e conversávamos mais um pouco. E assim foi, por um bom tempo, até chegarmos a um acordo. Aí passei as ideias para o computador.”

A estrutura que, iluminada, se assemelha a uma lagosta gigante, esconde uma complexa montagem de peças de aço que pesam mais de 400 toneladas, mobiliza 105 caminhões e, ainda por cima, tem a praticidade ideal para viajar pelo mundo. A novidade maior é que esse palco fica no meio do estádio, aproximando plateia e banda, posicionada debaixo de um telão que se move conforme a música. Fisher já havia concebido maravilhas para a turnê “The Wall”, do Pink Floyd, e assinou a abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008. Sua parceria com a banda irlandesa vem desde os anos 1990, com a turnê “ZooTV”. Mas agora se superou. O impacto das inovações tecnológicas, somado ao som hipnótico e enérgico do U2, transforma tudo em uma imperdível imersão sensorial. O professor e arquiteto Ricardo Martos, que estará entre os 87 mil espectadores previstos para cada noite, acha que a experiência vale o alto valor do ingresso: “Teoricamente todos verão a banda mais de perto, ao contrário de quando o palco é montado em uma das extremidades do estádio”.
Em um dos momentos empolgantes, até o baterista, músico que normalmente não se locomove no palco, sai para fazer um solo com o seu atabaque. O passeio acontece durante a música “I’ll Go Crazy If I Don’t Go Crazy Tonight”, do CD “No Line on The Horizon”, o mais recente do U2. Outro momento antológico se dá quando Bono e o guitarrista The Edge, cada um em uma passarela móvel, se dão as mãos. Para Mark Fisher, formas naturais como folhagens e teias de aranha influenciam seu trabalho. “O telão foi projetado dessa forma”, diz ele sobre a grande tela de 500 mil pixels que se movimenta para baixo e para cima. “O importante ao planejar um palco é ter a certeza de que ele vai funcionar artisticamente.” A grande parafernália leva dois dias para ser erguida e apenas um para ser desmontada. Detalhe: ela tem 320 mil parafusos, que mantêm de pé um esqueleto da altura de um prédio de 17 andares. Vai ser difícil encontrar um fã preocupado com a segurança enquanto estiver dançando e cantando a plenos pulmões debaixo dessa nave de aço. Mas Fisher, que trabalha com 14 pessoas em seu escritório, garante que é justamente a segurança a preocupação primordial de qualquer projeto: “A primeira coisa em que penso é na maneira de isso tudo funcionar sem problemas.” O restante é música, e das melhores.


Do site: Isto É
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