O mundo está com o coração partido hoje por Beirute e pelo resto do Líbano após a enorme explosão de ontem, que matou mais de cem pessoas e deixou milhares de feridos. A palavra dos serviços de linha de frente na cidade é que muito mais corpos serão recuperados nas próximas horas debaixo dos escombros.
Comparando a cena a Hiroshima e Nagasaki, o governador de Beirute, Marwan Abboud, diz que dez bombeiros estão desaparecidos e que metade dos edifícios da cidade foram danificados.
Frequentemente descrita como a "Paris do Oriente Médio", Beirute é o lar de mais de 20 religiões diferentes que, em sua maioria, coexistem pacificamente. Tendo sofrido guerra civil, bombardeios israelenses, a presença de grupos paramilitares e os efeitos contundentes dos combates na Síria, foram dois passos à frente, um passo atrás para o Líbano há décadas.
Stuart Clark da Hot Press viajou com a Concern Worldwide (maior agência humanitária e de ajuda da Irlanda) para o Líbano em 2015 para ver o maravilhoso trabalho que estão fazendo para melhorar a vida dos cerca de um milhão de refugiados sírios no país e quebrar as divisões sectárias.
Stuart escreveu: "Um cavalheiro amigável chamado Mayzar, que era agricultor de oliveiras onde vivia, me entrega uma xícara de café árabe de nível industrial e faz o possível para traduzir o que está acontecendo.
"Eu vim aqui hoje para um pouco de paz e sossego", ele ri, referindo-se às sete meninas e quatro meninos que estão ao redor de três quartos pelos quais pagam US $ 400 por mês. Antes de fugir de Homs, eles estavam alugando uma casa inteira por menos de cem dólares, e não havia ratos comendo nas lixeiras. Sabendo como Mayzar e seus amigos estão desesperados por acomodações, os proprietários têm pensado em um número e dobrado.
Há muita conversa animada, palmas, risadas e dramatizações durante a sessão de uma hora que Mayzar diz é: "Uma das coisas que me faz continuar. Estou muito orgulhoso e viver assim ..." pára quando ele tenta encontrar as palavras certas. "... me faz sentir menos homem. Sou grato à Concern e às pessoas na Irlanda por se importarem conosco".
Questionado sobre onde ele gostaria de estar, ele imediatamente responde: "Somente na Síria. Espero que Deus nos permita voltar quando o homem mau, Assad, se for".
A vida em Homs, Mayzar reflete, costumava ser muito boa.
"Sunitas, xiitas, cristãos ... todos nós estávamos lá", ele sorri com tristeza. "Assad, que se tornou presidente em 2000, estava bem no começo, mas ficou cada vez mais difícil conseguir um bom emprego se você não fosse um apoiador dele. As melhores escolas e universidades eram reservadas para o seu povo. Ele falou para nós: 'Você não é tão bom quanto eu'. Ele criou divisões na Síria que não existiam antes. Os vizinhos se voltaram um contra o outro. Amigos se tornaram inimigos. Foi muito triste".
Querendo permanecer em seu próprio país, Mayzar mudou com sua família quatro vezes na Síria antes que a situação piorasse tanto que ele não teve outra opção a não ser atravessar a fronteira.
"Chegamos aqui sem nada e tivemos que prometer não tentar encontrar trabalho quando nos registramos nas autoridades libanesas. Temos sorte, porém, em comparação com as pessoas que chegaram aqui desde janeiro, quando o registro foi suspenso e estão assustadas. Serão enviadas de volta se forem paradas em um posto de controle. Existem milhares que não têm documentos".
Com uma população regular de 4,4 milhões, o Líbano tem sido muito generoso ao acomodar os 1,1 milhão de refugiados que chegaram oficialmente à fronteira.
Incapaz de viajar para fora do Líbano sem perder os direitos de residência limitados que ele tem lá, Mayzar não tem ideia se ou quando verá seus dois irmãos, que voltaram para a Turquia novamente. Outro irmão e sua mãe, que o visitaram em Trípoli no início deste ano, estão vivendo legalmente em Dallas, mas "não há como as autoridades americanas permitirem que eu e minha família se juntem a eles. Somos prisioneiros aqui".
Ele não sabe quem é o U2, mas sorri quando explico que a maior banda do mundo tem um vídeo de cinco minutos mostrando a devastação causada em Homs em seu show atual.
"Isso faz meu coração se sentir bem", diz ele. "Para que nossas histórias sejam conhecidas é muito importante. Diga às pessoas na Irlanda: 'Feliz Natal e boa saúde!"
No álbum 'No Line On The Horizon', lançado pelo U2 em 2009, a última faixa tem o título de "Cedars Of Lebanon" (Cedros Do Líbano).
A letra da canção tem uma linha que fala do Líbano (Watching the sun go down on Lebanon), e também sobre o Cedro (Where are you in the Cedars of Lebanon?).
O Cedro do Líbano é mais que uma árvore, ele é o símbolo do Líbano. O cedro foi escolhido como emblema da bandeira libanesa por simbolizar força e imortalidade.
0 Comentários
