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domingo, 16 de agosto de 2020

Jornalista conta como o caos o fez perder o único show do U2 no Rio De Janeiro


Carlos Augusto Monteiro, profissional formado em jornalismo, com experiência de 20 anos em reportagem, assessoria de imprensa e coordenação de ações com a imprensa em todo o Brasil.

"Durante dois anos eu fui repórter do saudoso jornal paulistano Gazeta Mercantil, na filial carioca. E apesar de ser um jornal essencialmente de economia, eu tive o prazer de trabalhar no caderno menos sisudo do jornal, o Gazeta do Rio, quase um caderno cultural. Por isso, tive acesso credenciado a shows como os do Rolling Stones/Bob Dylan na Praça da Apoteose, e Jon Bon Jovi solo no Rock in Rio Café.
Mas nem tudo foram flores na minha lista de shows memoráveis e hoje vou contar o dia em que tudo deu errado: a única apresentação do U2 no Rio de Janeiro, no dia 27 de janeiro de 1998, uma terça-feira, a bordo da Popmart Tour.
Semanas antes da data, eu fui credenciado para acompanhar a coletiva de imprensa que os organizadores convocaram para anunciar detalhes do show.
O que eu estava de olho mesmo era em ser chamado para uma possível coletiva com a banda, quando chegassem ao Brasil. Mal sabia eu que o motivo desse primeiro compromisso era soltar uma bomba, que provocaria a catástrofe do dia 27/1: a troca do espaço do show do Maracanã, muito melhor localizado, para o Autódromo de Jacarepaguá.
É preciso ter em mente que, embora próximo do que é hoje o Parque Olímpico (sede do Rock in Rio), o Autódromo era de acesso muito mais difícil que hoje, em que há estações de metrô e integração com BRT. Eu já havia assistido a um show do Guns n´Roses em 1992 no mesmo lugar e trazia péssimas lembranças pela falta de infraestrutura e desorganização.
O anúncio do novo local, com os organizadores até constrangidos em dar esta notícia, foi um balde de água fria e um prenúncio de uma importante lição que eu aprenderia no jornalismo.
Segundo nos informaram, o motivo para a transferência foi que o Maracanã, numa era pré-reforma, não comportava a entrada de um dos guindastes para montagem do ambicioso palco.
Fiz a matéria, chateado por ter que tratar de um tema como esse, em vez de escrever sobre a expectativa positiva para o show. No dia seguinte, aprendi a tal lição, graças a um esporro do chefe. Embora eu tivesse feito a matéria corretamente, faltou obedecer a uma das regras básicas do bom jornalismo: ouvir o outro lado, ou seja, eu devia ter ligado para a direção do Maracanã e exposto o problema para ouvir a posição deles.
Nesse dia eu aprendi que jornalismo cultural não é só ir a shows. Às vezes acontecem fatos que tiram o foco da diversão e transformam a cobertura em apenas mais um dia (árduo) de trabalho.
No dia do show, eu saí tarde da redação, que ficava no bairro da Cidade Nova, depois do Centro antigo do Rio, este mais bem localizado. A Linha Amarela, famosa via expressa que liga a zona Norte da cidade ao bairro de Jacarepaguá, era recém-inaugurada e nem me lembro se já havia linhas de ônibus que faziam o trajeto. Por isso, na época, só pensei em um trajeto, que foi percorrer toda a zona Sul do Rio até a Barra e, depois, seguir até Jacarepaguá.
Peguei um ônibus comum que me deixaria bem perto do local do show, o Autódromo do Rio, e lá fui eu.
Iria demorar, mas nada me preparou para o caos enfrentado pelo trânsito do Rio naquele dia. Peguei um engarrafamento monstro. Só para percorrer a orla de Copacabana levou mais de uma hora. Depois de muito suplício, com o show já começado há uns 40 minutos, o ônibus estava passando em frente ao shopping Via Parque, quase chegando a Jacarepaguá. Ocorreu então a tragédia final: o veículo quebrou.
Triste com esse golpe do destino, saí do coletivo e vi diversas vans voltando do Autódromo. Os motoristas avisavam que ninguém estava mais conseguindo chegar, e para ir até a entrada do Autódromo propriamente dita, ainda era preciso andar um bom pedaço. Com o show já extremamente avançado e a impossibilidade de seguir adiante, desisti e voltei para casa.
Acho que hoje eu não tomaria essa decisão. Iria até o fim. Mesmo que perdesse a maior parte do show, eu teria seguido em frente de alguma maneira e pelo menos visto alguma coisa. Porém, eu era mais jovem e menos persistente do que hoje. Outra lição aprendida.
No ano 2000, a banda voltou ao Rio para uma show exclusivo para o programa Fantástico, da TV Globo (em 2017, também fizeram uma apresentação menor para o Fantástico). Uma amiga fotógrafa, Iwi Onodera, veio ao Rio apenas para cobrir o evento, mas infelizmente eu já estava afastado das redações e não consegui credencial. Ela fez esse registro e me deu, de lembrança.


Na ocasião, eles ficaram hospedados no Copacabana Palace, perto de casa. Passeando pelo bairro, fomos eu e Iwi dar uma olhada se havia movimento na porta do hotel. Chegando lá, tivemos a informação de que eles estavam na sacada da piscina e poderiam aparecer a qualquer momento. Corremos em casa para minha amiga pegar a máquina fotográfica profissional e, quando voltamos, soubemos que eles tinham aparecido e acenado para os fãs. Perdi essa oportunidade também.
Em 2017, a banda veio ao Rio até para um casamento na mansão de Luciano Huck e Angélica, mas nada de show. Informações não confirmadas apontam que a logística para se transportar os equipamentos entre Rio e São Paulo não justificaria os gastos. Em 2011, a bordo da turnê 360º, a desculpa foi que o palco circular não poderia ser exibido aqui já que o Engenhão e o Maracanã (sempre ele!) estavam em obras. Em 2006, a culpa teria sido dos jogos de futebol do Campeonato Carioca.
Há quem diga que o episódio de 1998 gerou um trauma na banda. Além do transtorno no dia do show para os fãs, houve uma guerra na Justiça por quase 20 anos. Em uma entrevista ao jornal O Globo, Bono e o baterista Larry Mullen disseram que o empresário brasileiro responsável pelo evento, Franco Bruni, havia dado um calote na banda e deixado de pagar metade do cachê de 8 milhões de dólares. A banda perdeu a ação e entrou num acordo com Bruni".
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