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segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Inocência, Experiência, Caos e Medo: Hamish Hamilton lembra-se da noite do ataque terrorista ao Bataclan em Paris enquanto trabalhava com o U2


O diretor Hamish Hamilton, um veterano de transmissões ao vivo de eventos, cuja empresa Done + Dusted tem dirigido performances de TV tão monumentais como os desfiles de moda da Victoria's Secret e as cerimônias dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012, é um veterano quando se trata de coordenar o movimento de centenas de pessoas, seja operadores de câmera, profissionais de som, cenários e designers de iluminação. Mas nada poderia prepará-lo para o tipo de liderança que ele teve de apresentar em 13 de Novembro de 2015.
Naquela noite, ele estava dando os retoques finais em uma produção em massa: a parada em Paris da turnê iNNOCENCE + eXPERIENCE do U2, o show programado para ser transmitido ao vivo através da HBO na noite seguinte, direto da AccorHotels Arena, apenas duas milhas do rock club Bataclan. Após dois dias de testes de iluminação e resolução de problemas de bloqueio das câmeras, a banda estava em um ensaio geral, quando, de repente, saíram do palco. Seria o primeiro sinal de que "as coisas começaram a dar errado", Hamilton disse para a Billboard em sua primeira entrevista desde os ataques terroristas em Paris que custou 130 vidas.
Perplexo com o súbito desaparecimento de Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr, Hamilton saiu caminhando nos bastidores, ansioso para descobrir "por que paramos, e quando podemos reiniciar? Nós temos muita coisa para fazer", ele relata. "Naquele momento, disseram que houve um incidente de segurança, e uma história maior começou a se revelar."
Aquilo se tornou um dos capítulos mais negros da música, a execução de 89 frequentadores de um concerto, por militantes islamitas durante um show do Eagles Of Death Metal. O U2 e várias centenas de membros da equipe foram empurrados para uma crise global: não tinham certeza se era seguro deixar a Arena e viajarem através da cidade ou fazerem o show na noite seguinte.
"Parecia estar muito perto do coração este evento global gigante, e foi assustador, terrível e uma montanha-russa emocional", diz Hamilton. "Até mesmo um ano depois, é muito difícil de expressar as emoções, o caos, a instabilidade e o medo. Paris estava sob ataque."
De fato, como palavra filtrada através de mídias sociais e a internet que o restaurante Paris Cambodian e o estádio de futebol Stade de France também foram alvo, o diretor não estava sozinho ao considerar o pior. "Nós seríamos os próximos a ser bombardeados?", diz Hamilton. "Naquele momento, você está procurando ao redor pelas autoridades. Não havia ninguém dizendo: 'Ok, deixem o local por essas saídas aqui.'"
Foi então que o empresário da banda, os executivos da HBO que ali estavam e Hamilton direcionaram os membros da equipe (Hamilton sozinho contou cerca de 200) em segurança. "Havia centenas de decisões que tinham de ser tomadas em um período muito curto de tempo", ele diz. "Com os produtores, fizemos uma estratégia de como conseguir levar as pessoas com segurança para seus hotéis, que estavam há milhas de distância." Havia muitas incógnitas, acrescenta. "Será que iremos enfrentar algum incidente terrorista? As estradas estarão abertas? Esta situação está se desenrolando e você está ouvindo sobre isso como qualquer outra pessoa. Não estávamos à par de qualquer informação exclusiva."
Depois de quatro horas, sabendo que o caminho estava livre, mini-vans levaram a equipe para seus hotéis. Hamilton se lembra das sirenes dos carros de polícia e de ambulâncias, e de ver as ruas vazias.
O resto da noite foi assistindo a CNN no quarto de Bono, percebendo rapidamente que o show da próxima noite não iria acontecer – um palpite confirmado pela manhã, quando o governo francês oficialmente cancelou o concerto, desejando evitar um grande encontro que facilmente poderia servir como um alvo.
Para Hamilton e sua equipe, a manhã seguinte trouxe a realidade e eles desabaram novamente.
"A comunidade de música em Paris é pequena, e nós estávamos ouvindo sobre amigos de pessoas que trabalhavam com som ou outras áreas no Bataclan, e que haviam se machucado..... ou morrido." Hamilton descreve um silêncio assustador na Arena no dia seguinte, quando as 16 câmeras e os telões gigantes foram desmontados e levados embora, por pessoas em lágrimas.
A decisão do U2 em remarcar o show como um tributo às vítimas dos ataques de Paris e para a cidade em si, foi feita com muita convicção, Hamilton revela. "Eles estavam muito determinados à tocarem no mesmo local para os mesmos fãs, e então houve a decisão também da HBO. Em seguida, veio a pergunta de como iríamos enquadrar o visual do show aos ataques de Paris, que tiveram uma série de discussões muito longas e bastante intensas."
Então ficou decidido que as mensagens seriam em francês e incluiriam um pergaminho dos nomes das vítimas, junto com a imagem agora icônica da Torre Eiffel, como um sinal de paz. "Eles são a melhor banda do mundo quando se trata de momentos como este", diz Hamilton.
A banda também fez um convite para o Eagles Of Death Metal para dividirem o palco com eles para uma performance de "People Have The Power", a mesma canção que os membros do U2 usavam para entrar no palco durante a turnê. "Eu achei incrivelmente propício, a coisa certa a fazer", acrescenta.
Várias vezes durante a conversa de Hamilton com a Billboard, o vencedor do BAFTA e várias indicações ao Emmy, foi trazido às lágrimas recontando os eventos daquela noite. Mas foi a breve interação com o Eagles Of Death Metal 3 semanas depois que fez ele desmoronar ao ser levado para o centro da coisa. "Eu estava sobrecarregado e não sabia o que dizer ou fazer", ele revela. "Me senti impotente. Emocionalmente incapaz daquela interação humana básica e dolorosamente ciente do fato de que não tinha nada a dizer. Eu tinha essas imagens piscando na minha cabeça daquilo que eles poderiam ter presenciado. Eu só queria chorar. Eu não soube lidar com aquilo."
O trauma pessoal de Hamilton, diz ele, é "canalizado através dos outros que tiveram um contato direto e pessoal com a morte." Mas o fato é que esses atos de terror ocorreram em um local de música, para um britânico que lembra a agitação política em torno da Irlanda do Norte.
A pura aleatoriedade de tudo estava na mente de Hamilton no dia seguinte, em 14 de novembro de 2015, quando ele foi ao Bataclan presenciar as brasas ainda fumegantes. "Passei minha vida na música. Eu estive em milhares de concertos em locais grandes e pequenos, gigantescos e minúsculos. Eu poderia estar naquele local naquele momento. O meu eu mais jovem poderia ter estado naquele local. Um dos meus amigos mais próximos poderia ter estado naquele local. Poderia ter sido qualquer fã de música em qualquer cidade do mundo. … Em qualquer show."
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