Quatro dias depois após a apresentação em New Haven, o grupo chegou em um teatro fora de Denver e com um belo visual: Red Rocks. O teatro fora construído dentro de uma formação rochosa. O Red Rocks era utilizado para vários concertos no verão americano. Paul McGuinness já havia pensando há muito tempo em fazer o tal vídeo ao vivo do U2 em tal lugar. O problema é que o local possuía muitas limitações técnicas e seria muito dispendioso em filmar. Para piorar, o grupo tinha menos de 30 mil libras disponíveis. A solução encontrada foi oferecer a Island e aos promotores do local, Feyline Presents, 24% dos lucros, em troca de 50 mil libras. Acordo selado, convidou Steve Lillywhite para produzir um disco ao vivo que teria o título de Under a Blood Red Sky. O vídeo seria dirigido por Gavin Taylor.
Paul McGuinness havia sido até agora um empresário prudente e que controlava ao máximo os gastos. Mas ele achava que era hora do grupo tentar dar uma virada na sorte e arriscar um pouco. O investimento para a produção era pesado, quase 250 mil libras, dinheiro que o U2 não tinha. Se o projeto desse errado, a situação ficaria ainda mais caótica. Para começar, seria necessário um grande investimento em cartazes e anúncios para a apresentação. Boa parte do dinheiro seria gasto em tentar solucionar problemas técnicos para a filmagem. Se todos esses problemas já atormentavam o empresário, ele ainda ganhou mais um, inesperado e que daria ainda mais dor de cabeça: a chuva.Durante três dias seguidos, não parou de chover um minuto. Junto com chuva, começou a aparecer um vento gelado e neblina, sem falar do furacão que resolveu devastar Denver no dia anterior. Não fossem suficientes os problemas, agora toda a produção enfrentava a lama, a chuva e a neve na pior tempestade que Denver sofria em quase 100 anos.
Joe O’Herlily e Steve Lillywhite estavam desesperados. A cada teste do equipamento que seria utilizado, algo pifava. Para piorar, a umidade e o frio provocavam curtos em alguns deles e havia até risco de vida. Na véspera do concerto Paul organizou uma reunião com Lillywhite, Iredale, Joe, Dennis e o promotor Barry Fey. Queria saber como andava a situação. Ao saber que as condições eram críticas resolveu cancelar. “Vamos filmar o vídeo em algum teatro”, disse. Mas Dennis não aceitou a proposta. O investimento havia sido pesado e mesmo com todas as condições, ele garantia que daria certo. Afirmou que junto com Iredale e Joe, checaria todas as condições técnicas antes e durante a apresentação. O risco era grande, mas o prejuízo seria imenso se não fosse realizado. O empresário resolveu então correr o risco, mas não quis comparecer ao show no dia marcado, preferindo ficar no hotel. E para tentar diminuir o prejuízo para os fãs, colocou anúncios nas rádios da cidade, avisando que o U2 faria um concerto grátis na universidade de Colorado para quem não pudesse ir à apresentação em Red Rocks.A apresentação
Enquanto Paul ficava no hotel, o grupo se encaminhou até o local. Mesmo com todas as condições climáticas ruins, Bono, Adam, Edge e Larry conversavam com a produção para saberem todos os detalhes. Oito mil pessoas começavam a lotar o teatro. A chuva não cessava e tão pouco o frio. Mas o espetáculo ia começar. E o grupo entrou no palco vestidos apenas com calças e camisetas. O set list estava mais do que ensaiado. O grupo abriria com “Surrender” e fecharia com “40”.
O espetáculo, para surpresa geral, ocorreu da maneira mais normal possível. Nem um problema sério, apenas a banda mostrando todo seu potencial em cima de um palco. Momentos mágicos como quando Bono puxa uma garota para dançar com ele em “11 O’ Clock Tick Tock”. O grupo se mostrava perfeitamente entrosado e tocando com a habitual competência. O saldo havia sido altamente positivo e a cumplicidade da banda com seu público estava mais do que provada. Além disso, o grupo havia mostrado que tinha munição suficiente para fazer uma apresentação excelente sob quaisquer circunstâncias. Um ponto positivo que McGuinness exploraria com sabedoria ao longo dos anos.O set programado para entrar no vídeo tinha as seguintes músicas: “Surrender/ Seconds/ Sunday Bloody Sunday/ October/ New Year's Day/ I Threw A Brick Through A Window / A Day Without Me/ Gloria/ Party Girl/ 11 O'Clock Tick Tock/ I Will Follow/ 40”.
O setlist completo da apresentação: “Out Of Control/ Twilight/ An Cat Dubh/ Into The Heart/ Surrender/ Two Hearts Beat As One/ Seconds/ Sunday Bloody Sunday/ The Cry and The Electric Co/ I Fall Down/ October/ New Year's Day/ I Threw A Brick Through A Window/ A Day Without Me/ Gloria/ Party Girl/ 11 O'clock Tick Tock/ I Will Follow/ 40.”Em meio à outras apresentações, o grupo fez uma reunião para conferirem o material gravado em Red Rocks. A frustração tomou conta de todos. Embora o show tivesse sido um grande sucesso, o som não era exatamente um primor. Antevendo isso, o grupo havia realizado duas apresentações com o mesmo set list de Red Rocks, por precaução: em Boston e outra no programa Rockpalast, gravado no dia 20 de agosto, no anfiteatro Loreley, em St. Goarshausen, na então Alemanha Ocidental.
E como resultado, apenas “Gloria” e “Party Girl” gravadas em Red Rocks, entrariam no novo disco do grupo, o mini LP (ou EP) Under a Blood Red Sky.
O formato escolhido foi o EP por uma razão simples: a idéia era comercializá-lo como um disco com preço bem menor do que um LP. Seriam oito canções e a produção ficou por conta de Jimmy Iovine, e não de Lillywhite, que havia cuidado do som do show de Red Rocks.
O disco chegou ao segundo lugar da parada inglesa. A versão de “The Electric Co.” gravada no Rockpalast precisou ser editada, já que a banda sofreu uma ameaça de processo pelo uso indevido de trechos de “Send In the Clows”, de Stephen Sondheim. O disco foi eleito como o álbum do ano pelos leitores da revista Hot Press.
