Uma coisa é a pessoa ser famosa. Outra, é ser uma celebridade mundial. E outra, muito maior, é o sujeito se transformar numa instituição internacionalmente conhecida, adorada e respeitada. Nesta última categoria, estão personalidades como Pelé, Michael Jordan e Ayrton Senna. São pessoas que se tornaram célebres não apenas pelo fabuloso talento em suas respectivas áreas. Mas, principalmente, por suas atitudes, declarações e posturas diante de questões sérias, como Direitos Humanos e meio ambiente. Atualmente, ninguém ocupa esse posto com tanta propriedade - e merecimento - quanto o músico irlandês Paul David Hewson, líder da banda U2. Mais conhecido como Bono, ele completa 50 anos amanhã, tendo no currículo prêmios e feitos nunca antes alcançados por nenhum artista, como, por exemplo, ter sido três vezes indicado ao Nobel da Paz.
Para celebrar as cindo décadas de vida desse personagem raro, o JT ouviu pessoas que tiveram contato mais próximo com ele, para, a partir daí, traçar o perfil de um homem que o mundo aprendeu a admirar. Por tudo o que já fez - e continua fazendo -, Bono tem a imagem de bom moço, preocupado com as causas sociais. Mas será que ele realmente é o que se fala ou é tudo uma questão de marketing? Para começar, uma coisa é certa: o cara é simpático. Esse foi o comentário unânime de todos os entrevistados nesta reportagem e também repetido por todos que o conhecem mundo afora.
O que pouca gente sabe é que Bono gosta de ovos mexidos com bacon e que, da última vez que tocou no Brasil, em 2006, provou e adorou guaraná Antarctica. Quando alguém chegava para cumprimentá-lo, ele olhava nos olhos e não desviava a atenção. Nos momentos em que estava sentado no restaurante do hotel e um fã se aproximava, ele se levantava, tirava o chapéu e apertava a mão. E não negou posar para fotos com ninguém. Bono não é alto (1,69 metro), tem as mãos gordinhas e dá mais atenção às mulheres do que aos homens. Ou seja, se a pose de bom moço de Bono é marketing, isso não se fez notar.
A americana Anne Phillips, responsável por receber os hóspedes de luxo do Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, teve a missão de atender a todos os pedidos do U2 nas duas vezes em que a banda ficou hospedada no hotel, em 1998 e 2006. “Fui quase uma mãe para aqueles meninos”, conta ela. Segundo Anne, os integrantes do U2 são, de fato, muito unidos. Bono pediu que as mesas da suíte presidencial, no sexto andar do prédio, fossem unidas para que todos comessem juntos. “Ele adorou guaraná e queria que eu providenciasse uma latinha para o The Edge (guitarrista da banda)”. Na própria mesa onde faziam as refeições, Anne conta que via os rapazes passarem até 2 horas por dia falando de ações sociais na África. “Eu acordava cedo, ia para a cozinha da suíte e fazia ovos mexidos com bacon e suco de laranja para eles”, lembra.
Em São Paulo, eles se hospedaram na suíte presidencial, no 22º andar do Grand Hyatt. Um apartamento de 170 metros quadrados, com terraço, closet, televisão na banheira e mesa de jantar para oito pessoas. Antes de dar entrada no hotel, porém, o cantor dividiu a vida da publicitária pernambucana Juliana Sarda, 28 anos, em a.B. e d.B: antes e depois de Bono. “Fui para o aeroporto esperar a banda. Quando o Bono apareceu e viu que tinha um monte de fãs na porta, ele pediu para o motorista parar o carro”, conta Juliana. “Ele estava cansado, mas mesmo assim autografou algumas fotos e beijou a minha mão. Eu pensei que ia ter um treco”.
Autógrafo especial
O vocalista do U2 voltou para o carro e partiu em direção ao hotel. Juliana, num carro com amigos, seguiu de perto a van que levava a banda ao Hyatt. Assim que o carro de Bono chegou ao hotel, Juliana desceu correndo e foi falar com ele outra vez. Bono reconheceu a moça. “Ele disse: ‘Nossa! Você aqui também?’”, diz a publicitária. Bono desceu da van, cercada por fotógrafos e jornalistas, abraçou Juliana e passou a falar com a imprensa sem tirar os braços dos ombros da moça. Juliana, então, começou a ter o tal treco. “Eu fiquei chorando. Ele falava, com uma voz bem carinhosa, para eu parar de chorar. Mas eu não conseguia”, lembra. “Eu tinha tanta coisa para dizer a ele, mas não conseguia. Só percebi que ele tem a mão gordinha”. Como se não bastasse, Bono virou Juliana de costas, ajoelhou no chão e escreveu na camisa da publicitária a frase: “Tirem o Bono das minhas costas”. E assinou logo abaixo. “Ele não é uma celebridade metida, intocável. Mandei emoldurar a camisa”.
Neste exato momento, dentro da van, estava a locutora Daniela Mel, 34 anos. Ela foi a intérprete do U2 em 1998 e 2006. “Em 98, eu tinha gravado um disco de música infantil e queria dar de presente ao Bono. Perguntei se ele tinha filhos, e a resposta foi: ‘Por que? Você quer ter filhos comigo?’. Fiquei sem graça, mas devolvi a pergunta: ‘Agora?’”, recorda Daniela. O cantor se desculpou pela brincadeira, aceitou o disco e pediu para a locutora autografar, dedicando o CD para cada um dos seus filhos: duas meninas e dois meninos. “A única coisa que eu pensava era que não tinha nenhum amigo para me ver dando autógrafo para o Bono”. Em 2006, mais uma vez Daniela esteve com ele. Na época, ela pediu para o cantor tirar os óculos e mostrar os olhos azuis. Bono respondeu que não e a locutora ficou sem graça. “Em seguida, ele foi tirando os óculos devagar e mostrando os olhos”.
Logo após o show que fez em São Paulo neste mesmo ano, o U2 deu uma festa no lounge do hotel. Nela, estavam presentes o artista plástico Zilando Freitas, a jornalista Glória Maria e a modelo Naomi Campbell. Zilando estava lá para presentear Bono com um de seus quadros, com uma bandeira do Brasil. Uma outra obra dele, com a bandeira da Irlanda, tinha sido comprada por Naomi, por cerca de R$ 40 mil, para presentear o líder do U2. “Conversamos por uns 20 minutos. Ele queria me conhecer porque gostou do quadro que ganhou da Naomi. Falamos principalmente sobre causas sociais”, conta Zilando. “Ele é muito tranquilo, gente boa”.
Logo após o show que fez em São Paulo neste mesmo ano, o U2 deu uma festa no lounge do hotel. Nela, estavam presentes o artista plástico Zilando Freitas, a jornalista Glória Maria e a modelo Naomi Campbell. Zilando estava lá para presentear Bono com um de seus quadros, com uma bandeira do Brasil. Uma outra obra dele, com a bandeira da Irlanda, tinha sido comprada por Naomi, por cerca de R$ 40 mil, para presentear o líder do U2. “Conversamos por uns 20 minutos. Ele queria me conhecer porque gostou do quadro que ganhou da Naomi. Falamos principalmente sobre causas sociais”, conta Zilando. “Ele é muito tranquilo, gente boa”.
A jornalista Gloria Maria fazia parte da turma de Naomi. “Fiquei com a impressão de que o Bono é um cara acessível, principalmente com as mulheres”, lembra Glória. “Ele me pareceu diferente de Mick Jagger, que respira rock and roll”. A jornalista nunca chegou a entrevistar o cantor, mas acabou sendo entrevistada por ele. “Conversamos como se fosse ele o jornalista. Estava interessado em entender os problemas do Brasil”. Com tanta gente falando tão bem de Bono, surge a pergunta: Esse cara não tem defeitos? Claro que sim. Como qualquer mortal. Mas parece que os erros dele são apagados por seu talento, simpatia e boas ações. Afinal, ele é o Bono.