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domingo, 18 de outubro de 2020

Sonhando tudo aquilo novamente


Na noite de 31 de dezembro de 1989, no Point Depot, em Dublin, o DJ irlandês Dave Fanning convidou a Europa para a festa de Ano-Novo do U2, que acontecia em Dublin, a cidade natal da banda. 
Uma rádio européia com audiência de 500 milhões de pessoas - a maior desde o Live Aid - transmitiu o último show da turnê Lovetown. Depois daquela noite, o U2 se manteve distante das rádios. 
Quase dois anos depois, quando uma onda de golpes e insurreições detonava a Europa com armas automáticas e tanques ruidosos, o U2 emergiu de seu abrigo hermético. Desde aquela noite em Dublin, o mapa da Europa mudou radicalmente. O Muro de Berlim caiu. A Cortina de Ferro derreteu-se. 
"Esta noite é a União Soviética", Bono cantou naquela noite há dois anos, mudando improvisadamente as palavras da letra antibélica "Bullet The Blue Sky". "Logo serão a Alemanha Oriental e Ocidental, Itália, Iugoslávia, Romênia e sabe Deus onde mais as pessoas estão com seus gravadores sintonizados. Um feliz Natal do U2 para você... está é a cidade de Dublin, de onde vem toda a banda... direto para os braços da América". 
Quem imaginaria que esses quatro irlandeses aprontariam uma proeza como esta?
Foi Bono quem começou com a brincadeira. Uma noite enquanto apresentava "New Year´s Day", ele revelou (brincando) para a platéia que a revolução na Polônia, Alemanha Oriental, Romênia e em outros pontos a leste de Dublin, estava a comando de um homem: Dave "The Edge" Evans, o guitarrista do U2. 
A música "New Year´s Day", single do terceiro álbum 'War', era uma canção em que o amor opõe-se a um passado de opressão. Segundo Bono, ele estava inconscientemente pensando no líder polonês Lech Walesa (na época, separado da mulher) quando escreveu essa letra. Quando a banda gravou a música, disse Bono, as autoridades polonesas anunciaram que iriam suspender a lei marcial na Polônia - adivinhe quando: no dia de Ano-Novo. 
Não surpreende, portanto, que o incendiário The Edge já tivesse rompido o silêncio dois anos antes, quando falou com o jornalista russo Artemy Troitsky, do Komeomolskya Pravda, o jornal estatal dos jovens, que atinge 21,3 milhões de leitores. Foi um golpe comercial e subversivo de proporções continentais. The Edge alimentou rumores de que a banda partia para longas férias e talvez até para uma separação. Na verdade eles estavam plantando as sementes de um ataque de proporções globais. Só dois anos mais tarde eles iriam lançar seu próximo álbum de estúdio, o primeiro dos anos 90. No dia 19 de novembro de 1991, 'Achtung Baby' estaria chegando às lojas de todo planeta. 
Naquela noite em Dublin, Bono falou em "ir embora" e depois, ainda, que isto era "o fim de alguma coisa para o U2". Depois, acrescentou: "Nós temos apenas que cair fora, e sonhar tudo isso novamente". 
The Edge disse a Troitsky: "Nós não vamos entregar os pontos. Ainda existe muito de nós nesse grupo e não vamos permitir que isso termine sem uma briga para valer". Mas ele acrescentou, significativamente: "Nesse momento nós estamos muito esperançosos. Será muito excitante entrar nos anos 90 com uma nova Europa". Ele esperava que o novo álbum fosse "um disco profético... eu acho que o rock and roll é profético em sua essência. Eu penso em pessoas como Bob Dylan nos anos 60, e até mesmo em Elvis, com seu jeito próprio. Eles falavam sobre os ventos da mudança, eles falavam de alguma coisa que ainda não tinha acontecido, mas que estava para acontecer". 
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