Em 1997, o U2 realizou um histórico show em Sarajevo pela Popmart Tour. Os ingressos estavam sendo vendidos de maneira lenta, até a chegada dos caminhões da banda na cidade, dois dias antes do show.
"É uma cidade que ficou desapontada tantas vezes, que havia muitas pessoas que não estavam preparadas para acreditar que o show aconteceria até que eles vissem o palco montado", disse o empresário do U2 na época, Paul McGuinness.
No dia seguinte à chegada dos caminhões, eles venderam oito mil ingressos. Mas mesmo que o U2 estivesse tendo patrocínios pela primeira vez em sua carreira, da Coca-Cola e da companhia de telefones celulares GSM, o show causou um buraco em torno de £ 500,000 nas finanças da banda.
"Sim, estávamos perdendo dinheiro para fazer o show", admite McGuinness. "Mas nós sabíamos que ir para lá e conseguir um preço acessível do ingresso era fundamental, porque havia um enorme desemprego lá [50% naquele momento]. As pessoas simplesmente não tinham dinheiro nos bolsos. O show era uma coisa importante para as pessoas daquela cidade."
"Nós nos oferecemos para fazer um show beneficente", diz Bono, "iríamos chegar e improvisar algo, mas eles queriam aquela porra completa, ele queriam o Limão."
Antes da guerra, Sarajevo era uma cidade multiétnica com uma população sérvia, muçulmana e croata, um famoso centro de aprendizagem e cultura. Mas quando a Iugoslávia começou a romper no início dos anos 90, Sarajevo tornou-se uma imagem ofensiva para as pessoas que queriam estados separados. Embora a visita do U2 tenha sido cuidadosamente despojada de politização aberta, Bono ainda conseguiu uma breve reunião naquela tarde com o presidente bósnio, o muçulmano Alija Izetbegovic, no qual eles discutiram o ponto de encontro entre o cristianismo e o islamismo.
"Até certo ponto", McGuinness disse, "devemos ficar fora da política. A história desta região remonta a centenas de anos, todo o caminho de volta ao Império Otomano. Essas são as origens deste conflito. Lembre-se, foi o assassinato do Arquiduque Ferdinand logo abaixo da estrada que precipitou a Primeira Guerra Mundial."
Na Grã-Bretanha, o show estimulou um pouco de cinismo. Qual era o ângulo real do U2 sobre isso? O que eles estavam buscando ganhar? Notoriedade? Santimônia? Admiração surrealista?
"Eu não acho que você pode explorar uma guerra a menos que você é um negociante negro ou um traficante de armas," McGuinness disse. "Estávamos em contato com pessoas suficientes do local, para saber que certamente não foi ofensivo para o povo de Sarajevo. Há uma longa tradição de surrealismo através da guerra lá. A canção "Miss Sarajevo" comemora algo muito mais surreal do que o que estávamos fazendo. Eles realizaram um concurso de beleza em um bunker no meio do bombardeio. Apontaram os dedos para o mundo: 'vocês podem ter esquecido de nós, mas estamos vivos e estamos tendo um concurso de beleza'."
O caminho para a visita do U2 foi suavizado pelo ex-ministro de Relações Exteriores da Bósnia e embaixador da ONU, Muameda Sacirbegovica. Bono originalmente o conheceu na Itália e, de acordo com Sacirbegovica, "Bono disse: 'Tome uma bebida'", e eu disse, 'claro', e ele disse, 'bem, aqui está o meu copo'. De alguma forma, na passagem do copo, penso que muito mais passou, incluindo o que aconteceu com esse show."
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