PARA VOCÊ ENCONTRAR O QUE ESTÁ PROCURANDO

quinta-feira, 1 de março de 2018

Daniel Lanois e as grandes revelações sobre as gravações de 'The Joshua Tree' - Parte II


Entrevista de Mark Prendergast nos anos 80 com Daniel Lanois, sobre as gravações de 'The Joshua Tree'.

Em referência à 'So' do Peter Gabriel, você falou sobre usar uma toolbox limitada e obter o máximo de instrumentos que você conseguisse. Houve algum caso específico em 'The Joshua Tree'?

"Sim. Em "Running To Stand Still", a parte da guitarra slide foi ampliada através de um blaster que estava em um lounge ao lado do estúdio principal no Windmill Lane. Edge estava trabalhando em uma parte de guitarra lá e entrei e disse: 'é uma ótima coisa e um excelente som - não se mexa! Não vamos tentar recriar isso no grande estúdio, fique aí e vamos trazer um par de cans (fones de ouvido) e um microfone e vamos gravar'. Ele estava apenas praticando com sua guitarra conectada diretamente na entrada de microfone do mixer. Eu acho que ele tinha dois blasters diferentes, mas nenhum amplificador de guitarra. O blaster estava ampliando sua guitarra slide de uma maneira encantadora. Ele tinha aprimorado esse som e alterado os EQs e controles para que fosse agradável para ele e parecia haver um propósito para as configurações."

'The Joshua Tree' envolveu você, Brian Eno, Flood e Steve Lillywhite, bem como um grupo de técnicos locais. Como isso funcionou?

"Primeiro de tudo, Flood, eu e Brian já estávamos lá desde o início - essa foi a equipe. Era início de 1986 quando começamos e essa foi a unidade que viu o projeto do começo ao fim. Foi feito em partes, através de duas semanas aqui e duas semanas ali. Eu estava voando ida e volta para o Canadá e assim por diante.
Mas com a gente correndo contra o tempo, Flood teve que sair e Brian não poderia estar lá para todas as mixagens. Nós não poderíamos entregar o álbum mais tarde do que 15 de janeiro de 1987 e agora estávamos com falta de pessoal, já que eu fui deixado sozinho. Nós tentamos convencer Flood à permanecer trabalhando nisso, mas ele teve outros compromissos, então nomes foram sugeridos para um substituto e Steve Lillywhite surgiu. Ele não estava fazendo nada em Londres por algumas semanas, então ele veio e seguimos com isso.
Ele trouxe seu engenheiro com ele, Mark Wallace, e tivemos dois estúdios em simultâneo. Sete faixas foram mixadas na casa de Edge, comigo e com Dave Meegan em uma Amek 24-Track, enquanto Steve trabalhava em quatro faixas no Windmill Lane - "With Or Without You", "Bullet The Blue Sky", "Where The Streets Have No Name" e "Red Hill Mining Town". Steve fez um bom trabalho e apreciei muito sua contribuição, e sobretudo o espírito dele, porque precisávamos de uma erguida na época. Ver um novo rosto e uma nova atitude era bom. "Bullet The Blue Sky" teve uma mixagem incrível e isso não foi fácil. Steve entrou nas últimas três semanas do disco e foi uma grande ajuda."

Bono ou Edge conseguiram que você e Eno fizessem algo realmente incomum durante esse álbum ou tudo aconteceu de forma espontânea?

"Eu não diria que houve sugestões diretas conscientes que criaram "curvas à esquerda". Penso que algumas das circunstâncias causaram alguns resultados interessantes, como um dia em que Edge queria fazer uma parte de guitarra, mas por causa de uma falha de comunicação, a equipe da estrada havia levado todos os equipamentos da sua casa e armazenado em outro lugar. Queríamos gravar uma parte de guitarra e não havia amplificadores e nem guitarras! Mas havia um amplificador Roland Chorus e uma guitarra rejeitada que ficava no armário. Tinha sido esquecida porque ninguém gostou dela e foi considerada apenas um pedaço de lixo. Era uma guitarra elétrica sem trastes, mas tinha as cabeças para afinação. Tinha uma ondulação engraçada presa no neck, que era de plástico. Era muito difícil de tocar e foi dada para Edge como um item promocional, Começamos a ajustar e tocar em um som incrível, um som que Edge nunca teria sonhado. Nós o colocamos em "Exit" e é uma guitarra muito, muito sujo e soa como o som de uma máquina que está viva, grunhindo e moendo".

Brian Eno e você têm alguma contribuição direta no lado da composição das músicas em 'The Joshua Tree'?

"Algumas das que você ouve nesse álbum são nós, mas muitas das contribuições minha e de Brian não são sonoras aparentemente. Por exemplo, "I Still Haven't Found What I'm Looking For" era muito diferente antes nós inserirmos nosso trabalho. A versão inicial era boa, mas leve e alegre. Mas, ao invés de deixá-la ir por este caminho, introduzimos uma ideia para a banda, o que deu para ela outra vida, empurrando-a em outra direção. Sugerimos uma abordagem melódica diferente para Bono, que melhorou a música.
Nós também fizemos muitas modificações nas letras de Bono. Ele tinha partes e mais partes de letras em todo o lugar nela. Edge, eu e Brian simplesmente olhamos as palavras e sugerimos coisas. Veja, quando ele as cantava contra uma backing track, elas não soavam o mesmo ou pareciam adequadas, assim como quando são gravadas. Uma nova palavra ou linha poderia aparecer quando ele estivesse cantando que era melhor do que a original que ele havia escrito."

Você saiu com a banda na América na turnê. Você esperava que o álbum e o single "With Or Without You" fossem tão bem sucedidos lá?

"Eu não sabia o que esperar. Você deve se lembrar que, quando você está terminando um projeto, você está fazendo o melhor que pode. Eu sabia que o registro tinha muito coração e grandes intenções e sabia que as letras eram boas e que obtivemos boas interpretações vocais de Bono. Senti que, pelo menos, seria bem recebido pelos fãs, mas não tinha ideia de que seria um sucesso comercial tão poderoso como foi. Isso certamente não era a intenção. Eu estava apenas pendurado lá, fazendo o trabalho, e é isso que saiu. Foi uma grande emoção nos Estados Unidos naquela época".

Durante a gravação de 'The Joshua Tree', Lanois tirou quatro semanas de folga para ir a Los Angeles para trabalhar com o ex-guitarrista da The Band, Robbie Robertson. Então Robertson foi a Dublin em um período para que o U2 pudesse se envolver no projeto.
Lanois diz: "Você vê, a coisa que o U2 tem é um compromisso total e é isso que eu procuro na música. Para mim, deve-se entregar a um trabalho. Deve ser de boa qualidade e deve ser um suporte vital. Deve levantar alguém um pouco quando ela estiver escutando. E isso que a música do U2 "I Still Haven't Found What I'm Looking For" faz."
Comentários
0 Comentários

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...