Gangues de Nova York é uma superprodução de encher os olhos, as emoções e os sentidos. Tudo no filme é grandioso. Desde a ambição do projeto até as magníficas locações (construídas nos lendários estúdios de Cinecittá), que reproduzem a Nova York do século 19. Esqueça a ponte do Brooklyn, o Empire State, o Central Park, os bons restaurantes e a sofisticação da chamada "capital do mundo". A Nova York de Scorsese - cuidadosamente pesquisada em registros históricos - é suja, enlameada, selvagem, e violentamente dividida por gangues rivais. A lei é corrupta e a ordem, inexistente.
O filme começa com um embate mortal entre os Nativistas e os Coelhos Mortos. Os primeiros, comandados por Bill "O Açougueiro" Cutting (Daniel Day-Lewis, voltando ao cinema após cinco anos de ausência), são racistas, pregam a América para os americanos e repudiam a chegada dos imigrantes. O segundo grupo, sob o comando do Pastor Vallon (Liam Neeson), é formado por irlandeses e defende o desembarque de imigrantes como parte da formação da mão-de-obra que construirá o país. As duas gangues brigam - com hora, lugar e regras determinadas - pelo controle de uma região chamada Cinco Pontas. O embate é sanguinário. Na batalha, o pequeno Amsterdam vê seu pai, Vallon, morrer pelas mãos de Cutting. E no melhor estilo dos antigos faroestes, jura vingança.
Dezesseis anos depois, o garoto cresce, passa a ser interpretado por Leonardo DiCaprio e se infiltra na gangue de Cutting para, cuidadosamente, tentar cumprir sua promessa de vendetta. E é aí que tudo começa.
Mais do que simplesmente centralizar seu foco sobre um caso de vingança pessoal, Gangues de Nova York é um rico painel sobre as origens da civilização norte-americana. Se é que a palavra "civilização" cabe na barbárie descrita pelo filme. Sem um poder central atuante e com o próprio país dividido pela Guerra Civil, a cidade obedece apenas a uma única lei: a do mais forte. A corrupção política é a regra do jogo, os mais fracos buscam guarida nos violentamente poderosos, e o abismo entre as classes sociais é gigantesco. É uma época onde o governo cobra uma pequena fortuna para que os jovens das classes mais abastadas não sejam convocados para a guerra. Não cabe, no roteiro, nem um pingo daqueles falsos ideais de glória, heroísmo e patriotismo que os norte-americanos adoram ressaltar sempre que contam a sua história nas telas do cinema.
Provavelmente por isso o filme seja um fracasso nas bilheterias dos EUA, onde faturou pouco mais que a metade de seu custo de US$ 97 milhões. Os americanos odeiam o espelho da verdade. E o filme ainda se dá ao luxo de ridicularizar o governo Bush, numa cena onde um governante corrupto afirma que "o que decide as eleições não são os votos, mas sim a apuração". Oportuno e divertido.
Depois que leu o livro "Gangs of New York", escrito por Herbert Ashbury, em 1928, Scorsese se entusiasmou para produzir o filme o mais rápido possível. Porém, o gigantesco fracasso de O Portal do Paraíso, de 1980, desanimou os produtores a investir em qualquer outro épico que contasse de forma pessimista uma parte da história dos Estados Unidos. Vinte anos depois, juntando recursos italianos, holandeses, ingleses, alemães e americanos, e sob a benção da Miramax, o cineasta pôde finalmente concluir o seu complicado projeto.
O chefão da Miramax, Harvey Weinstein; conseguiu convencer o U2 a gravar uma música inédita para os créditos do longa.
E é 'The Hands That Built America' que ouvimos no final do filme, em uma belíssima versão, diferente da versão da canção que o U2 colocou na coletânea 'The Best Of U2 1990 - 2000'.
A versão do filme é conhecida como 'Soundtrack Mix' e está presente na trilha sonora lançada em CD.
A banda apresentou a canção pela primeira vez no TriBeCa Film Festival, em Nova York, no ano de 2002.
Em 2003, a canção ganhou o Globo de Ouro de melhor música original para filme. O prêmio foi recebido por Bono, líder da banda, que agradeceu o Globo e falou sobre a presença irlandesa na formação do povo americano - assunto abordado em 'Gangues de Nova York'. O guitarrista The Edge esteve também presente na premiação.
No Oscar de 2003, o U2 concorreu com esta mesma música e perdeu o prêmio para o rapper Eminem.
Além da canção 'The Hands That Built America' do U2, Bono também colaborou com outra canção para o filme 'Gangues de Nova York', que foi cortada da trilha sonora.
"Baidin Fheilimí" (no passado chamada de Báidín Fheidhlimidh) aparece creditada ao final do filme. É uma canção gaélica e aparece brevemente no filme, mas não aparece no álbum da trilha sonora.
Bono comentou: "Eu canto realmente no meio do filme, mas você nunca sabe. Há uma cena de rua que eu canto uma melodia antiga Irlandesa. O diretor queria que eu fizesse isso, portanto quando a minha voz surgiu no final do filme, não me causou estranheza".
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