
McGuinness não deu bola no início para tal especulação, mas à medida que Bono começava a cavar mais e mais querendo saber até detalhes diplomáticos, Paul o chamou para uma conversa séria e explicou o porquê não iriam até Sarajevo: "seria uma irresponsabilidade imensa se eu aceitasse isso. Estaríamos colocando todas as pessoas que trabalham conosco em risco, bem como o público presente. Eles estão no meio de uma guerra civil e por mais que eu seja solidário com a causa, jamais colocarei qualquer vida em risco, por menor que seja, por causa de um show". Ponto final. Bono perdeu. Na verdade, a derrota já estava anunciada a ele quando Bill ligou dizendo que os habitantes da cidade não queriam o U2 lá, pois eles acham que a banda pode ajudá-los, mas não estando lá.
Então já que o U2 não vai até Sarajevo, Sarajevo vem até o U2... por satélite! A idéia era tão simples, quanto complexa e genial: Bill Carter faria entradas através via satélite durante as apresentações, falando da situação local e trazendo depoimento das pessoas.
A primeira tentativa aconteceu no show de Marselha, em 14 de julho. Mas o satélite não estava disponível e Macphisto conseguiu trazer Bill apenas ao telefone.
Bill tentava desesperadamente convencer a Europe Broadcast Union a lhe ceder um satélite por alguns minutos durante algumas noites. Tudo acabou sendo resolvido, quando alguns cheques emitidos por Paul McGuinness começaram a fazer efeito. O problema é que Bill precisaria atravessar uma região dentro da Bósnia com atiradores de elite para chegar à estação de televisão em Sarajevo para fazer a transmissão.
No dia 17 de julho, em Bolonha, o público conseguiu ver alguns depoimentos dos habitantes de Sarajevo. Após emocionante contato, Bono foi ao palco B e fez uma comovente versão de "Satellite Of Love", com Lou Reed no telão. O link com Bill segue mais alguns minutos, com Bono aplaudindo a coragem do povo e criticando a União Européia por fazer muito pouco pela questão. O momento mais emocionante foi quando Bill trouxe Vlado, que foi separado de sua esposa há 17 meses e que vivia, curiosamente, em Bolonha.
Enquanto o U2 toca "Bad", Bill e seus amigos entram no carro e saem correndo dos tiros que acertam o veículo. O contato entre os dois duraria mais de 10 shows, sendo que o de 12 de agosto, em Wembley, é o primeiro em que o link fica mais estável.

No entanto, eles resolvem encerrar as transmissões após os quatro shows no estádio de Wembley e trazer Bill Carter para os shows finais da parte européia, em Dublin, em uma turnê de quase 4 meses e 44 shows.
Tudo seria mostrado de forma mais crua em 1994, quando Bill lançou o documentário Miss Sarajevo, com 26 minutos, co-produzido por Bono.
A turnê encerra justamente quando Numb é lançado em single. E pela primeira vez o U2 lança um single não em CD, mas em VHS. Em novembro é a vez do single Stay (Faraway, So Close!) que traz a versão de "I've Got You Under My Skin", com Frank Sinatra, que também aparece na capa.

E o problema ficou ainda maior quando o grupo partiu para a parte final da excursão, Zoomerang, em novembro e dezembro. Enquanto estavam na Austrália, é lançado lá o single de Lemon, que teria ao longo dos meses várias versões remixes
Seriam 6 shows na Austrália, dois na Nova Zelândia e dois no Japão. Adam causou um incidente sério quando chegou de ressaca e sem condições de subir ao palco. Pela primeira vez, o U2 teve que improvisar colocando o roadie que tomava conta do instrumento de Adam em seu lugar. Foi uma noite tensa.
O show teria televisionado para vários países e a banda estava preocupada, pois era a primeira vez que um membro não estaria presente. The Edge, Larry, Bono e Paul chamaram Dallas, o técnico de Edge e perguntaram se Stuart Morgan poderia fazer o show. Não havia possibilidades de cancelamento. Dallas era o foco central dos quatro, que ficaram aliviados quando Dallas deu o sinal de positivo. Nervoso, Stuart cometeu pequenos erros, e no final da apresentação teve seu braço levantado por Bono e aclamado como herói. Enquanto isso, Adam Clayton dividia-se entre a dor física e na consciência.
O grupo seguiu para Nova Zelândia, onde não pisavam desde a morte do roadie Greg Carroll, em 1986, que foi homenageado com a canção "One Tree Hill", de The Joshua Tree. Quando o U2 pisou lá em 1987 foram tratados como deuses. Agora era apenas uma obrigação profissional.
agradecimento: www.beatrix.pro.br/mofo
