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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Capítulo 27 - 250 horas em 90 minutos

Finalizando a maior turnê que já tinham realizando, o U2 resolveu dar um tempo, já que a ordem agora era preparar o novo disco e acabar de editar as filmagens do filme.
Mas na verdade, o que mais queriam era organizar a vida e fazer um balanço do ano. “Nos últimos 12 meses, nossa organização virou um hospício. Os telefones berravam o dia inteiro, Paul (McGuinness) gritava pelo quatro cantos e fomos duramente criticados. Estamos sendo taxados de arrogantes, por convidarmos Dylan e B.B. King a gravarem conosco e por termos feito músicas no estúdio Sun. Alguns dizem que nós queremos ser tão importantes quanto Elvis ou próprio Dylan. Ora, isso é ridículo. Apenas por gravarmos lá e com ele? É claro que eu gostaria que o U2 fosse tão grande como eles, mas isso não quer dizer que uma coisa tem a ver com outra”, afirmou Bono.
Na verdade, uma das críticas mais ácidas acontecia quando tocavam “Bullet the Blue Sky” ao vivo, já que a canção se iniciava com uma gravação de Jimi Hendrix executando “Star Spangled Banner”, em Woodstock, tendo fogos de artifício explodindo acima de uma imagem da bandeira americana.
“Essa é uma metáfora, a canção toda é uma metáfora. Até quando vou precisar explicar que apenas usamos Hendrix tocando porque servia como uma luva para nossa idéia? Alguns reclamaram que eu estava preocupado demais em agradar os americanos. Eu estava falando dos problemas do mundo, usando os Estados Unidos como alvo principal.”
“Acho que nosso maior problema é que atingimos um nível tão alto para a Irlanda que ficamos sem um rival à altura e de repente tudo que falamos ou fizermos ganham contornos ridículos. Essa é a nossa maior preocupação, mas sinto que o público nos entende e que está descobrindo novas experiências na música junto conosco, porque nós estamos descobrindo muita coisa e queremos progredir ainda mais”, contou The Edge.
O ano de 1988 começou com grande movimentação para o grupo. Em fevereiro, se reuniram com Paul McGuinness e o diretor Phil Joanou para começarem a montagem do novo filme, que ainda não possuía um título. No mês seguinte, a indústria americana abre os braços para os irlandeses, dando dois prêmios Grammy, sendo um o de melhor disco do ano. Em um dos discursos, Bono agradeceu o apoio das college radios. As college foram um fenômeno que assolou a América nos anos 80 e tinham como missão apoiar bandas desconhecidas ou foram do mainstream, e, muitas delas tinham suas sedes nas universidades. As bandas norte-americanas preferidas nos anos 80 eram R.E.M., Husker Dü e Replacements.
Em março ainda sai um novo single do The Joshua Tree, editado especialmente na Nova Zelândia, país de Greg Carroll, One Tree Hill. A foto era a mesma utilizada no single In God’s Country.
Mas a grande preocupação era realmente o filme. Joanou tinha uma difícil missão que era editar 250 horas de filmagem com o grupo, em 90 minutos. Ele tinha uma ordem expressa de não glamourizar o grupo. A idéia era mostrar os integrantes sendo o mais simples possível. Por isso mesmo, uma das imagens que Joanou tinha em mente foi abortada, para sua tristeza - justamente a cena em que mostra Bono dando entrada no hospital, após sofrer uma queda no palco. O cantor berrava para que parasse a filmagem, e a única imagem aproveitada foi quando a banda se dirigiu a uma igreja do Harlem para fazer um ensaio de “I Still Haven’t Found What I’m Looking For” com Bono tendo o braço imobilizado, já que havia deslocado o ombro.


Joanou resolveu aproveitar os vários momentos da excursão do grupo dentro da América, mostrando o grupo gravando “Angel of Harlem”, no Sun Studio, uma apresentação ao lado de B.B.King e a visita do grupo em Graceland, a mítica mansão de Elvis Presley. Elvis era o grande ídolo de Larry, que protagoniza dois momentos tocantes: sentando em uma motocicleta Harley Davidson e uma rápida entrevista, onde confessa sua paixão pelo cantor desde quando era menino.
O ano de 1988 foi o primeiro em que o grupo não realizou shows, com exceção de uma apresentação solitária em Londres, em Novembro, em prol da Jamaica, quando o furacão Gilbert, devastou o país. As primeiras notícias sobre os novos rumos era que um novo disco sairia e que ele seria ao vivo. O grupo tratou de explicar que um novo álbum seria lançado contendo algumas faixas ao vivo e outras inéditas, em estúdio. Mas não deu pistas de quais canções seriam.
“Escrever novas canções é um ato de sobrevivência para nós. Nós pensamos da seguinte maneira: se não conseguimos tocar as antigas músicas, então escreveremos novas e as tocaremos. Se os fãs gostarão ou não, é outro assunto, mas o fato é que nós precisamos disso. Não há como ficar preso no passado. A evolução é uma conseqüência natural”, segundo Bono.
O que o grupo temia – e que já acontecia – era aumentar as críticas sobre a “americanização” do grupo. Desde que tinham virado a grande banda da década e ganhado prêmios Grammy, tudo parecia muito fácil para o U2. O dinheiro entrava fácil, os projetos eram variados e a fome de novas experiências maiores ainda.
O grande medo da banda era simplesmente a falta de competidores, principalmente dentro da Irlanda. Para Adam, a pressão em cima do U2 era simples de ser explicada: não havia alguém com quem pudessem dividir os holofotes.
“A pressão em cima de nós está sendo cruel até certo ponto, porque não temos nenhum outro artista irlandês que faça sucesso como nós. Se isso é bom em alguns aspectos, causa um estresse porque temos nossos passos vigiados. Eu sinto falta de Phil (Lynott, líder do Thin Lizzy, que morreu no começo de 1986) porque ele era uma pessoa que tinha os mesmos problemas que enfrentamos hoje e seria alguém com quem poderíamos conversar. Sei que parece ridículo reclamar, pois parecemos mimados, mas a verdade é que toda a mídia da Irlanda fez do U2 seu maior combustível. Existe uma diferença entre a Europa e a América. Lá você é um astro, as pessoas têm menor contato e uma imagem diferente. Eu não abro mão de viver em Dublin, porque amo essa cidade e porque ela nos proporciona um conforto e uma tranqüilidade que não teríamos em outra parte do planeta, mas reconheço que os problemas estão crescendo.”
A falta de Lynott era sentida também por Bono. “A coisa que mais me lembro dele é quando aluguei uma casa na mesma rua em que ele morava. Era algo estranho, pois você nunca o encontrava em sua residência, apenas na rua. Nós nos cumprimentávamos e ele me chamava para ir até sua casa para um almoço e eu retribuía o convite para que também me visitasse. Só que os convites acabavam ali mesmo. Phil era um cara bacana, uma pessoa com quem conversei algumas vezes e que sentia a pressão da mídia. Infelizmente ele foi embora cedo demais.”

agradecimento: www.beatrix.pro.br/mofo
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