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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Bono comenta sobre cada um dos álbuns lançados pelo U2 - Parte II

Na época do lançamento de 'How To Dismantle An Atomic Bomb', Bono falou à revista Rolling Stone sobre cada um dos álbuns lançados pelo U2. Confira a 2º parte:

Década de 90 - 2000:

ACHTUNG BABY: É uma grande álbum. Como todos os grandes álbuns. É quase impossível imaginar como se pôde fazê-lo. É muito além da soma de suas partes. Seus inimigos vão te definir, então os torne interessantes. Nesse caso, ele começa a ser hipocrisia em seu próprio coração - você percebe que é o mais interessante dos seus inimigos. Antes, eram protestos contra o mundo, a perversidade do trabalho, a falta de justiça, as coisas ruins que podem acontecer com boas pessoas. Agora, é o caos que você é capaz de causar em sua vida se você permitir seus íntimos desejos. Havia algo apodrecendo na casa onde fazíamos o album. Era uma simbolização do que estava acontecendo - não só na vida do Edge com o fim do casamento, mas em nossas vidas também. Estavamos enjoando um pouco do sucesso, mas não tirando os olhos desse lado corrosivo. Uma citação de Jenny Holzer "me proteja do que eu quero". Em "Rattle And Hum" cantamos sobre desejo. No "Achtung Baby" nós eramos o desejo. Nós nos deixamos torná-lo. Nós achamos que estávamos exorcizando nossos demônios. Nós, de fato, estávamos os testando. Foi um tempo que achava-se apropriado a exploração do tema sexual. Éum tema poderoso. Como íriamos nos referir sobre o tema para os pornógrafos e para os mais tolos? Então, nosso trabalho se tornou mais erótico nesse período. Nós não produzimos albuns como bandas de rock. Nós os fazemos como diretores de filmes: esse é o tema, vamos trabalhar nele. Nós improvisamos musicalmente, mas não tematicamente. Pessoas estão sempre forçando você a tomar decisões entre o carnal e o espiritual. Visto que queremos dançar no sentido de Deus. Beber com Ele. Não sou uma pessoa que o coloca fora de sua consciência para dar uma volta. Isso é o ponto chave. A alma dividida de Marvin Gaye, Elvis - esses conflitos os dividiram. E não me dividiram. Eu acho que Deus ama tudo em mim. Isso é o conceito central da canção "One". Eu odeio - só pra saber- o conceito de "oneess". É tão "hippie-preguento". Eu me cansei de chamá-la de "The One Campaing". A razão de muitos grupos religiosos se identificarem com ela é porque eles gostam desse "hippie-preguento". Mas eu escrevi uma canção contrária - eu escrevi "We´re one and we´re not the same". É o lado amargo da canção. É "One" sobre sua relação com sua esposa ou banda? É uma história de pai para filho. Tentei escrever algo sobre alguém que estava saindo fora e estava com medo de contar ao seu pai. É algo religioso entre pai/filho. "Love is a temple/ Love is a higher law/ You ask me to enter and them you make me crawl". Tenho muitos amigos gays, e eu os vi com medo da situação de família sem amor, o que é completamente anti-cristão. Se soubéssemos sobre Deus, veríamos que Deus é amor. Essa é uma parte da canção. E depois é sobre pessoas que se esforçam pra ficar junto e como é dificil ficar junto nesse mundo, você estando numa banda ou numa relação. Então, se diz que é uma canção de raiva? Tem um pouco de raiva. Eu não consigo imaginar como pessoas se casam com ela. Você a canta em benefício as vitimas do furacão Katrina. Por que ela foi escolhida? "We get to carry each other/ Did I disappoint you". Há muita raiva e fúria nela. E as pessoas estão sentindo isso. E por isso decidimos cantá-la com Mary J. Blige. Ela a levou para a igreja.

ZOOROPA: Maravilhoso, um lançamento selvagem. Grande loucura. É realmente um album conceitual. Um grande trabalho experimental. "Stay" é talvez a melhor canção do U2. Nós nunca a tornamos o single que ela merecia. É bem sofisticada. O alcance e a compreensão estão lá. Liricamente, um forte álbum. Estávamos definitivamente trilhando um território desconhecido - com a turnê, com a banda. Ninguém falou se podíamos voltar depois disso. Nós quase não conseguimos, comercialmente. "The Wanderer" é baseado nos velhos livros judeus de sabedoria. Há um chamado "Eclesiastes" ou "The Preacher". Nós a escrevemos para Johnny Cash. É completamente eletrônica. É marcante ouvir sua voz numa Bill Gibson/paisagem sonora Cyberpunk.

POP: Uma banda séria com conotações políticas arranca suas botas para dançar com sapatos. Deveria ser o retorno do pop ao período experimental que incluiu Passenger e Zooropa. "Discotheque" era pra ser o que "Sledgehammer" foi pra Peter Gabriel. Grande idéia para um album. Nós apenas erramos - marcamos uma turnê antes de finalizar o álbum e desgastou todos que estavam envolvidos na produção. "Mofo"? Sensacional. Led Zeppelin do Século 25, barragem industrial e estes blues industriais. - "lookin' for the places where no flowers grow/Lookin' for to fill that god-shaped hole/Mother sucking rock & roll". E no meio disso eu falo com minha mãe. E com isso, se vai diretamente pra trás quando se escutava John Lennon que foi quando ela partiu. Eu sempre entendo assim. Eu tinha 14, e minha mãe não iria estar alí por muito tempo pra conversar. E claro, estou ouvindo para aquela "Plastic Ono Band" - ouvindo aquela canção, "Mother, am i still your son? I´ve waited for so long to hear you say so." É uma coisa muito selvagem para ser dita a 80.000 amigos mais próximos.

ALL THAT YOU CAN´T LEAVE BEHIND: Grande album. Um conjunto completo de idéias. É um album sobre essência, sobre a distância de coisas não essenciais e a importância do essencial : família, amizade. Tudo se soma, apesar da sequência ser um pouco estranha. A idéia era: qual é a essência da nossa banda? Se você destrinchar isso, com o que devemos contribuir? Por 10 anos, nós estavamos fazendo exatamente o contrário. Pensávamos: "o que é aquilo que não temos?" e perseguíamos isso. Agora, para manter isso fresco, nós dizemos: "o que é que temos?" e vamos atrás disso. Nós fizemos isso em 2 albuns. Eu queria fazer um disco bem cru sobre as coisas que você não pode viver sem. E realmente um álbum realmente "sem sal". Eu queria escrever uma canção chamada " I Love You". Eu nunca cheguei a escrevê-la. Quem iria escrever uma música chamada "Beautiful Day"? Você teria que ser bem "desligado". Eu acho que o U2 oferece o seu melhor quando é "sem sal".

HOW TO DISMANTLE AN ATOMIC BOMB: Nós queriamos ir mais longe com um álbum de rock. Sci-fi punk rock era o que queriamos fazer originalmente. Então nós fomos diretamente da turnê para um porão incendiado em Monte Carlo, um velho pub, e começamos a trabalhar em "Vertigo" e "All Because of You". Mas, como sempre, o punk-rock não se sustentou. Nós buscavámos novas dimensões e emoções. Nós poderiamos ter feito um album excessivamente direcionado à guitarras. Mas não encontramos a mágica. Era estranho. Nós tinhamos a arte, mas não a magia. E para chegar nela, tinhamos que começar a experimentar novamente. Então canções como "Miracle Drug" surgiram. Nós voltamos para coisas como "City of Blinding Lights" e nos permitimos algo mais amplo. Nós estávamos tão emocionais e astutos apenas para fazermos um álbum regular de guitarra. Muitas canções são apelos a ingenuidade, e rejeição a sabedoria. "Original Of The Species" começou como uma canção escrita para a filha do Edge, Hollie, que é minha afilhada. "Some things you shouldn't get too good at/Like smiling, crying, and celebrity/Some people get way too much confidence." Mas não é sentimental - eu erotizei um pouco. É uma canção de amor para a maioria das pessoas. É a melhor coleção de canções que colocamos em um álbum - não há canções fracas. Mas, como um album, o conjunto não é melhor do que a soma de suas partes, e isso me aborrece.

O 'THE BEST OF U2' DE BONO:
Quais suas canções favoritas?
'Stay', 'Miss Saravejo', que gravamos com Luciano Pavarotti. "Until The End Of The World", "Vertigo", "Beautiful Day", "Electrical Storm". Há ainda uma obscura chamada "Your Blue Room" no álbum Passengers, que realmente me assombra. O trabalho nos anos 80 tem um nível muito alto melodicamente, coisas realmente fortes. Mas só o que ouvimos são canções inacabadas.

Quais são os melhores álbuns do U2?
'The Joshua Tree', 'Achtung Baby' e depois algo entre 'All That' e 'Atomic Bomb'. Eles são cheios de canções melhores do que Achtung Baby e The Joshua Tree, mas não soam tão sofisticados, sonoramente.
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