O que prometia ser o maior plano de ajuda à saúde nos países pobres está corroído pela corrupção. Grande parte do dinheiro internacional arrecadado para a compra de remédios nunca chega às vítimas da Aids, tuberculose ou malária. Essa é a conclusão de um relatório feito por auditores do Fundo Global. Eles concluíram que, em alguns dos programas de ajuda, até dois terços dos recursos simplesmente desaparecem ao chegar aos países beneficiados.
Os auditores não sabem ainda dizer quanto a corrupção movimentaria dentro do sistema. Por enquanto, ao investigar apenas 20 países que receberam recursos, eles notaram que o desvio de doações para países como Haiti, Zâmbia ou Mali chegaria a mais de R$ 83,5 milhões (US$ 50 milhões).
O Fundo Global foi criado em parte como uma iniciativa do Brasil para garantir recursos para compra de remédios para o tratamento da Aids, tuberculose e malária. Com a promessa de receber R$36,2 bilhões (US$ 21,7 bilhões), a entidade com sede em Genebra se transformou no maior programa de saúde do mundo, apoiada por celebridades e governos. Bill Clinton, Bono (U2), Carla Bruni e Bill Gates são alguns dos incentivadores da ideia.
Mas a constatação é que uma parte significativa do dinheiro é justificada com documentos falsificados e uma contabilidade pouco clara. Para os investigadores, isso provaria o desvio de recursos e até o uso dos remédios para a venda no mercado negro. Por enquanto, os auditores apenas investigaram uma fração do que o fundo já enviou aos países pobres desde 2002. Em oito anos, a entidade já financiou programas de saúde no valor de R$ 16,7 bilhões (US$ 10 bilhões), alguns no Brasil.
O que os auditores encontraram até agora os surpreendeu: 67% do dinheiro para um programa contra a Aids na Mauritânia foi alvo de um uso "duvidoso". Na Zâmbia, R$ 5,8 milhões (US$ 3,5 milhões) enviados até hoje não foram justificados. No Haiti, R$ 2 milhões (US$ 1,2 milhão) foram usados sem justificativa e não há garantias de que o dinheiro tenha um fim adequado. No Mali, há suspeitas de corrupção em programas contra malária e tuberculose: R$ 6,6 milhões (US$ 4 milhões), 36% do dinheiro enviado pelo fundo, foram usados sem que o governo obtivesse comprovantes para justificá-los.
Site: R7