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segunda-feira, 21 de março de 2016
Revelações de ES Devlin e técnicos sobre a iNNOCENCE + eXPERIENCE
ES Devlin é a criadora e designer do palco da turnê iNNOCENCE + eXPERIENCE do U2. Ela deu uma entrevista para o site The New Yorker, e deu mais detalhes sobre o trabalho com a banda.
O show do U2 foi planejado por dois anos. Nas primeiras reuniões, na casa de Bono, no sul da França, os membros da banda disseram que eles queriam projetar um sentimento de intimidade. O show foi batizado de 'iNNOCENCE + eXPERIENCE', e desde o início, ele foi projetado para ter duas metades distintas, com as músicas em cada metade sendo uma viagem dos membros da banda desde o seu início na Irlanda, para suas vidas como estrelas globais.
Devlin possui esboços dessas reuniões. Quarenta no total, rapidamente desenhados em um grande livro negro, em carvões e pena e tinta ou lápis de cor, cada um trazendo cubos e retângulos, rodeados de notas rabiscadas. Nos esboços, se pode ver já que Devlin bateu na ideia de representar as duas metades do show com dois palcos em extremos opostos da arena, ligados por uma passarela, um palco principal retangular e um palco B circular. (Em alguns dos desenhos, a passarela foi representada por uma tira de fita.) Nos primeiros desenhos, a fase iNNOCENCE foi rotulada "olhando de dentro para fora" e deu a luz à uma nota: "eu não posso mudar o mundo, mas eu posso mudar o mundo em mim".
No esboço da eXPERIENCE foi escrito "de fora para dentro" e "eu posso mudar o mundo, mas eu não posso mudar o mundo em mim".
No vigésimo segundo esboço, ela introduziu a ideia de que a passarela poderia às vezes ser tomada por um par de enormes telas de LED que seriam baixadas em ambos os lados do mesmo. Enquanto a banda trocava de palcos ou em uma pausa para tocar na passarela, imagens, slogans e projeções ao vivo iriam aparecer nos telões. "A extensa tela de LED surgiu em minha mente como um grande outdoor", disse Devlin. Durante as canções "Iris (Hold Me Close)" (sobre a mãe de Bono) e "Cedarwood Road" (sobre a rua onde Bono cresceu), havia projeções de sua falecida mãe, constelações de estrelas e animações da rua, como se a passarela tivesse se tornado a Cedarwood Road. A força de Devlin como designer é na narrativa psicológica através do espaço, e as telas deram a impressão de que Bono e seus companheiros estavam tocando dentro de sua própria biografia.
"Isso é uma coisa sutil, que Es talvez não saiba sobre si mesma", Bono disse algumas semanas mais tarde. "Nas conversas, ela tenta chegar onde você está em sua própria vida. Ela sabe que os artistas são capazes de passar muito tempo nos frios conceitos que não tem nenhuma relação com o coração. E Es está sempre tentando colocar o sangue de volta nisso — quando nós estávamos planejando o show, ela disse: 'quais são as imagens mais pessoais próximas de sua infância?' Quando eu disse a ela, 'uma lâmpada', foi uma resposta para chegar em seu intelecto de conseguir uma profunda intuição." (Uma lâmpada gigante balançando, mais tarde passou a fazer parte do set).
Bono continuou: "ES pega nossas aspirações consumadas e funde elas em metal."
No Madison Square Garden, Devlin se dirigiu para a cantina, onde ela parou para conversar com Brian Celler, o empresário de negócios da banda, que estava comendo um prato de lasanha. Trocaram algumas palavras amigáveis sobre Paul McGuinness, ex-manager de longa data do U2, que se aposentou em 2013. "Ele não é uma pessoa para brincadeiras supérfluas", disse Celler para Devlin. "Mas ele veio até mim depois do show em Chicago, e ele disse: 'Brian, eu acho que este é o melhor show do U2 que eu já vi." Este é o homem que viu cada show U2 desde que começaram! "
"Uau", disse Devlin. "Ele realmente disse isso sobre o nosso show?" Ela hesitou por um segundo e ficou pensativa.
"E o seu ponto de vista é que ele não é o ideal ainda?", perguntou Celler para ela.
No show no Garden, Devlin assistiu a segunda noite e achou que a segunda metade do espetáculo foi perdendo força. A vitalidade da biografia foi perdida em todos os efeitos tecnológicos, e o público estava perdendo uma percepção bem no ponto quando seu envolvimento deveria estar ficando mais profundo. Ela quis mexer com o conteúdo e melhorar as imagens. Ela disse que é sempre um processo de evolução. "Um novo show", ela acrescentou. Na arena vazia, uma hora antes de mais um show ter início, The Edge e Larry Mullen passavam o som. Willie Williams, diretor criativo das turnês, estava no local também.
Ele estava conversando com um grupo de técnicos ao lado do palco. Quando Devlin chegou no grupo de homens, Williams se virou, abraçou-a e sorriu. "Me deram o trabalho de cuidar de Steven Soderbergh esta noite", ele disse. "Eu vou no Google para ver como ele é. O que vou eu fazer com ele, Es?"
"Você tem que levá-lo para a parte de cima, no alto", disse Devlin. "Deixe ele ter o efeito completo."
Devlin e Williams sairam para uma reunião com a banda, e enquanto eles estavam fora os técnicos começaram a discutir os problemas que surgiram na noite anterior. "O rap político de Bono está tomando muito tempo", disse um deles. "Ele deveria fazer um parágrafo e ele fez duas páginas. Ele ainda está com seu modo TED ligado, e está se esquecendo como ser uma estrela do rock."
"E eles estão desfazendo muito do trabalho de LED que Es e os caras planejaram", disse outro.
Às vezes parecia que Bono estava com vontade de tomar tais opiniões e argumentos, e às vezes ele definitivamente não estava.
"Eles são todos muito vulneráveis", um dos trabalhadores disse. "Na reunião de produção ontem, o vocalista apareceu por dez segundos. E hoje ele pode não aparecer. E é estranho, porque Es voou para ajudá-los a fazer a coisa certa".
Devlin retornou, parecendo tensa. "Tão perto", disse ela, antes de fazer discurso retórico sobre estrelas de rock que arriscam diluindo seu próprio potencial. "O show de rock é uma forma de arte", disse ela, jogando a bolsa no chão. "Willie Williams e esses caras movem isso 1 milhão de milhas com cada um dos seus shows — e a minha frustração é que nós criamos esta escultura poderosa na arena e mal estão usando 49% das suas forças. Esta banda tem o máximo de preocupação na elaboração de um show, mas hoje, quando poderíamos estar subindo um degrau, não deram o sangue para a reunião..."
Devlin é boa em entender o que precisam as estrelas, o que irá ampliar eles no contexto de um show ao vivo. Onde outros cenógrafos podem encolher nas provocações de egos de estrela do rock, Devlin geralmente aparece para prosperar sobre eles, apreciando as contradições dos músicos e amando as formas que ela pode ajudá-los. Antes do show, ela sorri amplamente enquanto caminhava para a área VIP. Cada membro da banda possui um espaço com cortinas, com nomes de locais de Dublin onde cada um cresceu — St. Margaret’s, Glasnevin, Cedarwood Road e Rosemount — com grupos de visitantes dentro de cada um, bebendo Shiraz australiano e sentados em sofás de couro branco. Devlin entrou e falou com Bono e alguns outros. "Ok," ela disse. "Dei meus oi's!"
Meia hora mais tarde, a banda estava no palco. As telas de LED mostraram imagens antigas de um casamento irlandês. As imagens da mãe de Bono apareciam através da escuridão da arena, e também o rosto do vocalista enquanto cantava, em meio a um céu cheio de estrelas. O set dramatizava sua voz e seu movimento, sobrepondo o presente com uma história do passado. Mais de dezoito mil pessoas se levantaram e se lamentaram com ele. Devlin, encontrou um lugar entre os fãs e dançou por duas horas.
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