EDGE: Infelizmente, na manhã do concerto em Sarajevo pela Popmart Tour, Bono acordou sem voz. Eu não sei se a causa foi a laringite ou o estresse dos meses anteriores de turnê. Um cancelamento estava fora de questão, então o show teve que continuar. E eu devo confessar que realmente não importava que nosso líder vocalista estivesse indisposto, porque cada membro do nosso público parecia estar curtindo todas as músicas. Houve um coro em massa durante todo o concerto.
(Veja no vídeo à seguir a grande dificuldade de Bono para cantar no show de Sarajevo. The Edge assume o vocal no refrão de Pride)
1998
BONO: A turnê Popmart chegou ao fim, e os meus problemas de voz se mantinham. Tinha um inchaço nas cordas vocais, que não era um nódulo, e que não desaparecia. Consultei vários especialistas, mas ninguém tinha certeza do que se tratava. Sugeriram que talvez fosse do meu estilo de vida, o fumo, beber muito, estar sempre ao telefone e não descansar. Tentei mudar algumas coisas, mas foi difícil. Falamos em gravar um novo álbum e eu pensei em fazer um disco de vocalista. Estava sempre dizendo isso às pessoas, quase que para me obrigar a fazê-lo. Mas a minha voz estava fraca, eu sabia disso. O Dr. Maurice Collins, um talentoso cirurgião otorrinolaringologista, me disse: “Temos que encarar isto com seriedade. Quero te dar uma anestesia. Assim, posso examinar melhor isso e ver exatamente do que se trata e, se for preocupante, vou precisar da sua autorização para fazer uma biópsia”. E eu disse: “Biópsia? Isso não é o que fazem às pessoas quando desconfiam que possam ter câncer?” E ali estava ela, a coisa na qual eu não queria pensar. Uma biópsia na garganta ia implicar que eu não pudesse cantar durante três meses. Eu disse: “Nem pensar. Não posso fazer isso”. E ele retorquiu: “Só quero examinar com o microscópio. Terei 90 por cento de certeza se é câncer ou não. Mas, se se confirmar, tem de me deixar operá-lo”. E eu aceitei. Mas não contei a ninguém. Não contei à Ali nem a ninguém da banda. Enfrentei a situação sozinho.
Eu lembro de estarem me preparando para ir para a sala de operações. Estava com uma bata azul e tinha a cortina fechada à minha volta. Não conseguia ver ninguém, mas conseguia ouvir as pessoas no corredor, gemendo e a se lamentarem vindas de uma cirurgia. Pensei logo: “Não é isto que eu quero. Eu quero continuar cantando”. Comecei a pensar que podia perder a voz para sempre, se fosse câncer, como conseguiria combatê-lo? Não tenho medo da morte, mas não queria que a minha família tivesse de passar por isso e, além disso, sabia que a banda ainda conseguia fazer mais álbuns. Ia ser bastante inoportuno.
Fui para a sala de operações, me deitei e me aplicaram uma anestesia. Quando dei por ela, estava meio consciente, atordoado. Entretanto, o médico surge no meu campo de visão e me diz: “Volto daqui a uma hora quando já estiver acordado”. Eu lhe segurei o braço e abanei-o. Ele disse: “Oh! Não se preocupe. Está tudo bem”. Tive sorte, mas não há nada como um pequeno contato com a morte para nos nos colocar coisas em perspectiva. Tudo fica mais definido, percebemos que apreciamos as coisas que podíamos ter perdido. Pouco depois disso, a Ali ficou grávida. Quer fosse pelo meu pai ter câncer, pela morte prematura do Michael Hutchence ou pela imagem fresca de uma vida nova e de como essa criança é vulnerável quando pegamos nela pela primeira vez, me pareceu o momento ideal para fazer um álbum sobre as coisas essenciais. Queria fazer um disco emocionalmente cru sobre a vida real e sobre as responsabilidades inerentes a essa vida e a alegria do se estar vivo, acordado, de podermos fazer aquilo que queremos, de passar o tempo com a nossa família e amigos. Se pensarmos na possibilidade de podermos não voltar a cantar, bem, aí temos a certeza de que não vamos nos meter em grandes aventuras......
(continua........)