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segunda-feira, 23 de maio de 2011

"De onde veio esta voz? Quero mais!"

Clique aqui para ler a primeira parte desta história
1999:
Edge: ‘Kite’ surgiu de um pequeno loop de cordas que eu criei. Começaram todos a me acompanhar e a música acabou por surgir. Foi incrível. Numa longa sessão de improviso, onde se definiram as melodias, as partes de guitarra, as diferentes seções da música e as partes de bateria, a música ganhou forma.

Bono: Recuperei a voz naquele momento. Quando cantei "I’m a man, I’m not a child", todos no estúdio ficaram de boca aberta. Eu disse: “Uau!” Foi como um cego de repente conseguir ver. Foi quase cômico. De onde veio esta voz? Quero mais!
Creio que consigo chegar a essa nota quando sou digno dela. É mesmo estranho. Nunca me sentei ao piano ou peguei numa guitarra e toquei uma nota tão alta, pois é muito difícil de se chegar lá. Nunca se comporia uma nota destas. Mas eu consegui. Em dez anos, nunca tínhamos chegado a uma nota assim em grupo, em plena voz.

Adam: Foi um momento inesquecível. Já não ouvíamos aquela voz há algum tempo.

Edge: Inacreditável. Cantou lindamente.
Bono: Estávamos finalmente chegando ao fundo da questão do que se passava com a minha voz. É uma alergia que afeta as minhas fossas nasais. Tive de fazer inúmeros testes alérgicos. O cara que me estava fazendo os testes riu e me disse: “Vou te dizer uma das coisas à qual é realmente alérgico. Plantas do deserto. Felizmente, você é da Irlanda e lá não há muitos desertos”. E eu disse: “Isso é verdade”. E ele disse: “Mas, se for para Las Vegas, é melhor ter cuidado”. Claro, a turnê Pop passou por Las Vegas e foi aí que a minha voz piorou. Foi um enorme alívio descobrir estas coisas, mas foi muito difícil aceitar que tenho alergias. Parecia ser uma condição mais própria para Woody Allen. Tenho tendência a ignorá-la, o que nem sempre ajuda. A medicação que eu estava tomando secava-me a garganta e o cigarro também não ajudava em nada. Foi uma luta constante. Foi por isso que comecei a usar óculos de sol, pois fico sempre com os olhos vermelhos. Com o passar dos anos, já controlo mais ou menos a situação, pois tenho mais consciência dos efeitos que tem em mim e mudei a minha dieta.
Mas acho que é mais do que isso. Parece que, quando canto de um determinado lugar, consigo atingir determinadas notas. Creio que um Si bemol, pode ser um Si natural. A paragem seguinte é um Dó. Um grande tenor consegue atingir um Dó agudo uma vez por noite, talvez até mais três vezes em algumas óperas mais puxadas. Eu estou só um tom abaixo disso. vamos voltar e confirmar quando essa nota aparece numa música do U2. São várias. Aparece em ‘Bad’, ‘Pride’ e ‘I Still Haven’t Found What I’m Looking For’. São as notas com as quais nós vamos embora, com as quais desaparecemos. E não sabemos de onde elas vêm, mas é certamente de um outro lugar. Quando as canto, sou transportado. Não estou consciente quando o faço. Se estivesse, teria juízo e não me atreveria a experimentá-las. Pois depois tenho de enfrentar a dor de cantá-las todas as noites. Por isso, quando elas surgem, é porque o próprio material as criou.
O mais importante é que encontrei a minha voz após algumas dificuldades ao longo de anos e o álbum "All That You Can't Leave Behind" foi feito com uma certa liberdade e intrepidez.
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