Desde o início, entender um pouco sobre a Irlanda foi crucial para entender muito sobre o U2. Seja incluindo uma faixa em gaélico em seu álbum de estreia ("An Cat Dubh") com flautas Uilleann em seu segundo álbum ("Tomorrow") ou cantando diretamente sobre o conflito da Irlanda do Norte em seu terceiro álbum ("Sunday Bloody Sunday").
O U2 nunca se esquivou de celebrar sua herança irlandesa. O que tornou o grupo tão impressionante, no entanto, é que - mesmo se tornando uma das maiores bandas de rock do mundo - eles continuaram a manter seus passaportes verdes, com temas em seus dois álbuns mais recentes, 'Songs Of Innocence' e 'Songs Of Experience', colocando-os firmemente em solo irlandês.
No início, Bono entendeu o quão importante a Irlanda era para a música do U2. "O plano é que se tivermos que sair, que seja só por um tempo. Basicamente, sentimos que o grupo tem que ser jogado em circunstâncias diferentes se vai ser estimulado, se vai mudar. Seria muito fácil ficar aqui, mas nós iremos - e temos que voltar", disse Bono ao New Musical Express em 1980. Mesmo quando o grupo solidificou seu amor pelos Estados Unidos com 'The Joshua Tree', eles não puderam deixar de definir duas canções do álbum em Dublin e Belfast ("Running To Stand Still" e "Where The Streets Have No Name").
Conflito interno, experimentação arisca e crises existenciais de nível europeu tiveram precedência durante grande parte dos anos 90, mas a partir de 2000 em diante, 'All That You Can’t Leave Behind', a banda (todos os quatro estavam agora em seus 40 anos, ou se aproximando) focaram sua atenção de onde vieram e não para onde poderiam estar indo. "Kite" faz referência não apenas à tentativa fracassada de Bono de criar um vínculo pai-filha, mas também à morte iminente de seu pai. A letra de "Peace On Earth", por sua vez, é diretamente inspirada no atentado de Omagh em 1998 na Irlanda do Norte.
O álbum 'No Line On The Horizon' também focou em questões inerentemente privadas, mas de um aspecto geocultural, os mergulhos realmente profundos em seu passado - aqueles para os quais eles precisavam de tanques de oxigênio - começaram com 'Songs Of Innocence'. Como um álbum temático, com seus objetivos de crescer na Irlanda, de lar, coração e dor, é o trabalho mais pessoal do U2, com uma consistência lírica única no catálogo da banda. "Somos nós tentando descobrir por que queríamos estar em uma banda em primeiro lugar", Bono disse ao The Irish Times após o lançamento do álbum, "os relacionamentos em torno da banda e nossas primeiras viagens - geograficamente, espiritualmente e sexualmente".
Praticamente todas as músicas do 'Songs Of Innocence' fazem alusão a um evento passado. "The Miracle (Of Joey Ramone)" refere-se a assistir aos Ramones em 1978 em um cinema em um subúrbio de Dublin; "Raised By Wolves" é sobre bombardeios coordenados que ocorreram em 1974 em Dublin e na cidade de Monaghan; "Cedarwood Road" refere-se diretamente à rua onde Bono cresceu ("você não pode voltar para onde você nunca saiu"); e em "The Crystal Ballroom", Bono relembra um local no centro da cidade de Dublin (McGonagles) onde o U2 tocou em sua infância e onde seus pais namoraram e dançaram. "Eu simplesmente amo o retiro de Dublin e da Irlanda", disse a vocalista do U2 a Michka Assayas no livro de 2005 'Bono On Bono'. "Isso me deu o melhor dos dois mundos, para sair e brincar de ser uma estrela ... Mas então, quando eu quero minha outra vida de volta, eu a consigo em Dublin".
Surpreendendo a muitos, 'Songs Of Innocence' trouxe novas perspectivas de uma banda de rock consagrada que não teve escrúpulos em abordar, de forma bastante explícita, seu início. Se 'Songs Of Innocence' lidava com a vida, a vivência dela e por meio dela, 'Songs Of Experience' estava impregnado de mortalidade. Emparelhar os álbuns fazia todo o sentido. Foi uma espécie de conclusão da intenção da capa de 'Boy' aos objetivos e as capas de 'Innocence' (o baterista do U2 Larry Mullen Jr abraçando seu filho, Elvis) e 'Experience' (o filho de Bono, Eli, de mãos dadas com a filha de Edge, Sian). Família, amizade, pais, filhos, amor, perda, vida, morte, violência, ternura: todos são explorados, entrelaçados, interligados, articulados.
A abordagem de juntar os pontos dos álbuns gêmeos fez ainda mais sentido por meio dos shows ao vivo que os acompanharam, que exibiram uma abordagem considerada, vulnerável e simples para qualquer banda de rock - sem falar em uma banda da estatura do U2. A jornada circular da banda, de adolescentes angelicais a homens mais sábios e alinhados, foi acertada, e em todos os pontos ao longo do caminho a Irlanda estava lá, tão enraizada e distinta como uma tatuagem.
udiscovermusic.com
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