Michael Hutchence, vocalista do INXS que se suicidou em 1997, havia discutido o suicídio com Bono, que passou a sentir culpado por ter deixado seu amigo ir embora, disse a revista Rolling Stone naquele mesmo ano.
Bono disse que os dois concordaram em como o suicídio era "patético, e nós meio que prometemos um ao outro que não iríamos fazer isso, não cruzaríamos aquela linha onde as coisas ficam estúpidas".
Hutchence quebrou essa promessa em novembro de 1997, quando se enforcou em um quarto de hotel em Sydney. Um legista determinou que Hutchence estava deprimido com uma batalha pela custódia entre sua amante, Paula Yates, e seu ex-marido, o cantor Bob Geldof.
Descrevendo-se na entrevista à Rolling Stone como um amigo profundamente leal, Bono se lembra de ter sentido culpa, raiva e aborrecimento ao saber da morte de Hutchence.
Bono escreveu uma canção sobre Hutchence chamada "Stuck In A Moment You Can't Get Out Of", que apareceu no álbum do U2 'All That You Can't Leave Behind'.
"Essa música é uma discussão. É uma briga entre amigos. Você está tentando dar um tapa na cara de alguém, tentando acordá-lo de uma ideia. No meu caso, é uma briga que eu não tive enquanto ele estava vivo".
Ele disse que a música era "realmente difícil e desagradável", porque ele sentiu que seria desrespeitoso para Hutchence escrever uma música "sentimental".
'Mystify' é um documentário que conta a história de vida de Michael Hutchence. A direção é de Richard Lowenstein, que teve acesso a todos os arquivos deixados por Hutchence.
Olhando para trás, para como Michael morreu, Richard Lowenstein concorda com Bono que Michael simplesmente ficou "preso em um momento do qual não conseguia sair"?
O diretor respondeu: "Pelo que entendi, depois de falar com os psiquiatras e neurocirurgiões do filme, é assim que funciona o suicídio: é espontâneo, muito raramente é planejado, com extensas notas explicativas e tudo mais. Ele absolutamente não estava planejando um suicídio. Ele estava ao telefone com sua ex-parceira Michele, implorando que ela fosse e ficasse com ele. Ele sempre teve medo de ficar sozinho em um quarto de hotel. É por isso que ele nunca quis ser a última pessoa em seu quarto de hotel. Ele queria que você apenas sentasse e conversasse durante a noite. Mas, nessa explosão espontânea de irracionalidade, ele mal podia esperar a meia hora que levaria para Michele chegar e sentar-se com ele.
Foi um verdadeiro momento de "foda-se" que os psiquiatras e os especialistas me contaram de todas as suas discussões e pesquisas com os que sobreviveram. Disseram-me que o suicídio espontâneo era como uma explosão repentina de tudo, em que você não está realmente pensando na situação ou na filha ou parceiro que está deixando para trás. É como um ataque ou um espasmo. Não é por acaso que ele estava ligando para seu empresário e dizendo "Foda-se, para mim já basta. Eu não agüento mais". Eles disseram que se você consegue superar o espasmo suicida, ou se alguém está lá para falar com você, muitas vezes a pessoa fica envergonhada com o que pode ter feito e nunca tenta novamente. É um curto-circuito do cérebro, as frustrações de sua vida exacerbadas pelos sintomas do traumatismo cranioencefálico (TCE), a falta de sono (que eles podiam comprovar a partir de seus registros telefônicos do hotel), a depressão e o consumo excessivo de álcool (havia um minúsculo resíduo de drogas em seu sangue, mas uma grande quantidade de álcool). Quando meus especialistas consultaram os médicos com quem conversei, viram o relatório da autópsia de Michael e o tamanho do ferimento na cabeça e o tamanho das duas lesões em sua cabeça (o cantor foi agredido por um taxista, levou um soco e quando caiu, desacordado, bateu com a cabeça no meio-fio), eles ficaram em choque e disseram "Posso dizer pela experiência anterior, eu quase posso garantir que ele se matou..."