Em fevereiro de 1991, o U2 esteve na colorida multidão no Carnaval Chicharrero em Tenerife, Espanha. Antonio Hernández, seguidor da banda, e José Antonio Pérez, jornalista, relembram no eldiario.es as aventuras de Bono, Larry, Adam e Edge na ilha.
"Era carnaval de 1991 e eu não tinha vontade de sair, nunca fui muito de carnavais. Eram umas dez da noite e eu estava com uns amigos, todos fãs do U2, deitados fora das Galerias Preciados. Tentávamos nos animar, até que vimos um grupo um tanto bizarro passar, eles eram marcantes porque não estavam vestidos a rigor, embora também não estivessem vestidos como gente normal". Assim começa a história de Antonio Hernández Salinas, provavelmente uma das primeiras pessoas de Tenerife a notar a presença do U2 no Carnaval Chicharrero há trinta anos.
Foi um dos amigos de Antonio quem deu o alarme: "Que cara mais parecido com The Edge!".
"Percebemos imediatamente que não era só ele, mas também Bono, Larry Mullen e Adam Clayton", continua Antonio, que tinha 16 anos de idade na época. "Tínhamos a sensação de que tudo se transformava e que não podíamos distinguir se era sonho ou realidade".
Entre pulos de emoção, eles se aproximaram dos integrantes da banda, que caminhavam calmamente pela rua de El Pilar. "A primeira coisa que nos surpreendeu foi como eles eram pequenos", lembra ele.
Bono, Larry, Adam e Edge desceram toda a rua de El Pilar e atravessaram até a sede da CajaCanarias para jantar em um restaurante localizado na lateral da Plaza del Patriotismo. "Ficamos do lado de fora daquela churrascaria basca, alucinando sobre o que havia acontecido, não acreditávamos. Aí começou a loucura: tínhamos que tentar tirar uma foto, mas não tínhamos câmera à mão, menos naquele momento, ninguém tinha no carnaval".
Para se apoderar do precioso tesouro - um instantâneo com os seus ídolos - os jovens de Tenerife embarcaram numa odisseia à procura de um fotógrafo. "Não me lembro o quanto oferecemos àquele homem que tirou a nossa foto, talvez fossem mais de 5 mil pesetas, era tudo que tínhamos", revela. Três horas depois, Adam Clayton saiu do restaurante e aos poucos o resto dos músicos também. "Pude dizer ao baterista que ele era meu ídolo, isso não tem preço".
"Foi uma experiência incrível. Eles estavam surpresos, eram estrelas do rock mundial, mas não esperavam encontrar tantos fãs na ilha". Após a foto, a banda ingressou no Carnaval do Chicharrero, mas imediatamente curiosos e fãs começam a se reunir. "Tínhamos que ir embora, mas naquela noite nenhum de nós conseguiu dormir, aquele momento nos condicionou, nos marcou", finaliza.
Pouco mais se sabia sobre a banda até quarta-feira, quando as ruas acordaram com a ressaca do carnaval de rua. Foi nesse momento que veio a notícia de que ainda estavam hospedados no Hotel Mencey. "Começaram a se acumular nas portas do hotel e eu estava lá, não poderia ser diferente".
Eles estavam preparando 'Achtung Baby', uma de suas obras-primas. Era mais um álbum para dar uma guinada na carreira aproveitando a nova década, com um tom mais dark e um som com influências eletrônicas e industriais.
Queriam romper com tudo que aconteceu antes, o estrelato com 'The Joshua Tree' de 1987, e para isso reservaram uma suíte no Mencey Hotel, ao lado do Parque García Sanabria, decididos a passar a semana do Carnaval na ilha gravando vídeos e tirando fotos para o novo trabalho, para o qual eles estavam procurando uma imagem mais colorida do que as anteriores. Embora também tenha tido tempo de curtir a festa na rua.
Estiveram de 9 a 16 de fevereiro em uma viagem que, a princípio, foi totalmente incógnita, ou pelo menos foi o que insistiu seu empresário Paul McGuinness, que se esforçou para que a permanência da banda na ilha passasse despercebida, sem conceder qualquer entrevista ou sessão de fotos à imprensa.
E assim se passaram os primeiros dias. Apenas alguns fãs da banda os reconheceram e Bono e seus entes queridos aproveitaram para curtir os carnavais e posar com o mítico Trabant que mais tarde se tornou a imagem da turnê em lugares como San Andrés, Las Teresitas ou Avenida de Anaga.
Só na terça-feira, dia 12, começou a sair a notícia na imprensa local de que os integrantes do U2, talvez a banda mais famosa do mundo naquela época, passavam alguns dias na ilha e se misturavam entre a multidão nas noites de carnaval. A partir desse momento, os fãs começaram a montar guarda nas portas do Mencey Hotel e Bono não teve escolha senão descer para dar autógrafos. Agora eles passariam despercebidos disfarçados, algo que surpreendeu o próprio Bono: "Não esperávamos ter tantos seguidores aqui".