PARA VOCÊ ENCONTRAR O QUE ESTÁ PROCURANDO

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Capítulo 9 - O outro Paul

Paul McGuinness tinha um sonho, um grande sonho que compartilhara com seu amigo Bill, dias antes: "Bill quero achar uma banda nova, com talento e que precise de ajuda. Mas não quero uma banda onde os garotos estejam já preocupados em pagar empréstimos da compra da casa ou andando com suas jovens esposas grávidas. Quero uma 'baby band', com meninos que tenham vontade de trabalhar duro e talentosos. Só que será muito complicado encontrar esse grupo aqui em Dublin. Eu os encontraria na América ou na Inglaterra, mas aqui, na Irlanda, e no meio dessa porcaria de onda punk? Nunca!"
Paul era um homem inquieto. Aos 27 anos, já tinha uma vida movimentada e atualmente trabalhava na produção de filmes com locações na Irlanda. Ele já tinha empresariado um grupo chamado Spud, que havia feito um relativo sucesso fora da Irlanda, mas que se separou justamente pelas razões que McGuinness comentara com Bill. Paul queria entrar no mercado da música. Dono de um grande senso de ordem, responsabilidade e muita determinação, havia conseguido para o Spud um contrato com uma gravadora da Suécia, a Sonet Records. O grupo até que se saiu bem e McGuinness pegou o lucro e resolveu investir na infra-estrutura da banda, comprando um novo caminhão e equipamentos. Mas a banda estava infeliz, com dívidas e precisavam de dinheiro urgente para sanar os compromissos assumidos. Paul argumentou, desesperado, que era necessário investirem o dinheiro durante alguns meses e fazerem mais shows para que realmente pudessem lucrar. A banda argumentava que não poderia esperar tanto. Paul entendeu e deixou-os, triste.
Por isso, quando seu velho amigo Brian falou sobre um novo grupo de meninos que eram promissores, Paul não se animou muito. Em sua cabeça seria apenas mais uma banda punk e Paul odiava a estética e o som que os punks faziam, excessivamente alto e berrado. Chegou até a perguntar para Bill como ele havia entrado nessa onda, com essa nova revista. "Você precisa ouvi-los, Paul. São muito crus ainda, mas promissores”.Paul não estava tão certo assim.
Dias depois, Adam Clayton ligou para Paul McGuinness. Ele o convidou para uma conversa informal. Paul disse que poderia, mas em outra oportunidade, pois estava muito ocupado em uma filmagem e preferia que Clayton voltasse a telefonar dentro de uma ou duas semanas.O mês de maio de 1978 corria solto e a angústia corroia os nervos dos integrantes do U2. O ano escolar estava terminando e breve deveriam escolher um rumo profissional. O único que não se importava com isso era exatamente Adam. Ele havia feito um cartão com os dizeres "Adam Clayton, baixista, U2" e o distribuía para qualquer pessoa que fosse do meio. Adam era empresário em tempo integral, ainda que não tivesse a menor idéia de como agia um. O mistério era saber onde Adam os havia confeccionado, já que não tinha nenhum dinheiro.
Enquanto isso, The Edge, Bono e Larry estavam em apuros. The Edge iria ingressar na Kevin Street Technical College, para se tornar engenheiro como seu pai. Mas The Edge não queria isso, queria seguir carreira como guitarrista. Só que para convencer seus pais era necessário que houvesse algo concreto. Por enquanto, Garvin e Gwenda consideravam que o U2 era apenas um passatempo para seu filho, nada mais. Mas The Edge sabia que isso não era verdade.
Bono também estava bem arranjado. Bobby não suportava ver mais seu filho ficar fora de casa até de madrugada andando com aqueles moleques estranhos e que agora o chamavam de Bono. O filho havia desistido de estudar na universidade e cismou em ser músico profissional. Bobby disse que não aceitava essa decisão e que se o filho persistisse nessa idéia estaria por sua conta e risco, pois não iria mais lhe dar dinheiro.
Larry também não atravessava um bom momento. Definitivamente odiava estudar e tinha duas opções: ou completava os dois anos que faltavam na Mount Temple ou começaria a trabalhar. Dos quatro, era o que menos botava fé na banda, apesar de ter sido o fundador. Larry preferia um emprego certo, que rendesse uma grana todo mês, ainda que pouca. Ele temia entrar em uma barca furada. Dois incidentes tinham deixado o jovem baterista temeroso. O primeiro foi uma apresentação no mesmo McGonagles cancelada na última hora e por um motivo humilhante. Terry O'Neill os havia dispensado e contratado uma banda de garotas chamada Boy Scoutz. O outro incidente aconteceu no show em Howth. Tudo ia bem até que Bono resolveu fazer contato com duas meninas que dançavam e dirigiu o microfone até a mais bonita delas. A garota corou e a outra, irritada, começou a xingar o vocalista e perguntando quem diabos ele pensava que era, David Bowie? Bono, envergonhado, foi para o fundo do palco, deixando Larry visivelmente consternado.
Como Paul não respondeu ao convite de Adam, Bill Graham insistiu novamente para que ele fosse ver a banda. "Eles são o que você procura, Paul". Mas McGuinnees continuava com dúvidas e só depois de consultar sua esposa Kathy, é que aceitou o convite. Foram então Bill, Kathy e o amigo Tom Saunder conferir a tal "baby band" que Bill garantia ser a que Paul procurava. Na verdade, Paul já havia dado o cano no U2 duas vezes, causando a ira de todos que já queriam tirar de Adam Clayton a responsabilidade de ser o empresário. Adam tentou convidar Steve Averill, para ser o empresário. Steve agradeceu, mas recusou. Apenas no dia 25 de maio de 1978, McGuinness decidiu que iria assistir o tal grupo. O U2 tocaria no Project, abrindo para os Gamblers.
A primeira banda a subir foi o Virgin Prunes e logo Paul torceu o nariz. O grupo tocava tendo Larry, The Edge e Adam como músicos de apoio. McGuinness abriu um jornal e começou a ler, rezando para que logo pudesse estar em casa. E então aconteceu: o U2 subiu ao palco. Paul fechou o jornal e começou a reparar nos quatro garotos: o baterista era bonito e sabia tocar. O guitarrista tinha um bom estilo e jeito para o instrumento. Mas o que mais chamou sua atenção foi Bono. Ele o considerou extraordinário, mas não como vocalista, pois Bono não sabia cantar, mas por sua performance teatral, sem querer parecer "cool". Paul adorou o que viu, pois eram jovens, talentosos e diferentes.
Terminada a apresentação foi conversar com eles. A banda começou a fazer dezenas de perguntas, querendo saber se trabalharia em tempo integral, se ele tinha dinheiro para bancar shows e como eles viveriam. McGuinness argumentou que eles tinham uma grande presença no palco, que a vida na estrada realmente seria muito dura e que precisariam firmar um compromisso desde o início. Os garotos então pararam de falar e o escutaram atentamente e concordaram em fazer tudo o que ele havia pedido. A banda não queria o estrelato imediato, preferiam primeiro escrever suas canções e começar lenta, mas progressivamente sua escalada. Não havia grande urgência, desde que o progresso acontecesse, ainda que de forma gradual.
"Então temos um empresário?", perguntou Adam, o porta-voz da banda. "Sim", respondeu Paul. A banda ficou eufórica, e ao contar a notícia para Guggi e Gavin, ouviram uma sonora risada. "Esse panaca é o empresário de vocês? Meu Deus!", zombou Gavin.
A primeira missão de McGuinness era marcar a sessão para a gravação da demo. O problema era que o U2 não tinha nenhuma canção escrita. E o problema caiu no colo de Bono. Após uma reunião interna, ficou acertado que Bono escreveria as letras, já que as cantaria, enquanto os demais cuidariam do arranjos das mesmas. Bono que fosse para casa então e começasse a rabiscar umas palavras. E Bono tremeu: afinal sobre o que ele cantaria? Ele não sabia como descrever as imagens que rondavam sua mente. Ele tinha imaginado uma canção que falava sobre a morte de sua mãe, mas que não sabia como traduzi-la. A única frase que vinha era "out of control", e um riff que tentava capturar em sua guitarra. Era uma idéia, mas ainda muito crua. O mesmo acontece com "Street Mission", a primeira canção que ele escreveu, de fato. Animado, tentou mostrar suas idéias para os demais. "Tente tocá-las, mostre-nos algum acorde", pediu The Edge. Bono tentava mostrar o riff e casar com palavras. As palavras podem vir depois foi o que concluíram. E com essa idéia partiram para gravar a prometida demo na CBS.
A experiência virou um pesadelo para os garotos. Jackie Hayden, o responsável pela sessão, argumentou que eles deveriam ter vindo com oito canções devidamente ensaiadas e colocadas num formato de aproximadamente três minutos. A banda perguntou, ingenuamente, se não poderiam arrumá-las no estúdio: Irritado, Hayden explicou que as horas dos estúdios custavam muito caro e que aquelas três canções que haviam gravado ("Shadows and Tall Trees", "The Fool" e "Cartoon World") eram insuficientes. Para piorar, o pai de Larry o esperava, furioso, na porta do estúdio para voltarem para casa. Seu filho estava se preparando para as provas na escola e não poderia perder tempo com essas coisas. Para ele, nada era mais importante do que os estudos.

agradecimento: www.beatrix.pro.br/mofo
Comentários
0 Comentários

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...