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domingo, 17 de janeiro de 2016

10 Anos de Vertigo Tour no Brasil: A Venda De Ingressos Para O Primeiro Show


16 De Janeiro de 2006:

Venda de lugares na fila, cambistas, sistemas fora do ar, polícia e muita briga. O primeiro dia da venda de ingressos para o show do U2 em São Paulo no dia 20 de Fevereiro no Estádio do Morumbi, foi marcado pela completa desorganização.
Em todos os pontos de venda no país, localizados em 12 lojas do Pão de Açúcar (dez em São Paulo e duas no Rio de Janeiro), fãs dormiram na fila ou madrugaram para garantir um lugar e conferir de perto a banda irlandesa, que não vinha ao país desde 1998. Mas nem isso adiantou.
A primeira a conseguir os ingressos foi a engenheira Luciana Azevedo Santana, 31 anos. Grávida de sete meses ela pôde driblar a multidão. "Comprei sete ingressos", disse a moça, que chegou às 8h30 e passou quase 30 minutos na frente do guichê. "O cartão de credito não passava", riu.
"Passei a noite aqui e tinham 80 pessoas na minha frente. Agora são mais de 150. Alguma coisa está muito errada", reclamou o crítico de cinema Luis Henrique, 35, um dos que acionaram a polícia na loja Borba Gato (avenida Santo Amaro).
A Polícia Militar foi chamada depois que os seguranças que cuidavam da bilheteria e do início da fila alegaram não ser de responsabilidade deles "evitar abusos". Ele se referia aos cambistas e àqueles que "furavam fila".
Além da loja Borba Gato, em pelo menos outros três locais foi registrada a presença policial, Santana (Rua Voluntários da Pátria), Villa Lobos e Copacabana (Rio de Janeiro). Neste dois últimos pontos, aliás, a organização chegou a suspender as vendas por alguns minutos, por conta do tumulto.
Muitas pessoas que estavam no Pão de Açúcar Ricardo Jafet, na Vila Mariana, em São Paulo, ficaram irritadas com a ousadia de uma menina que simulou estar grávida para burlar a fila gigantesca no local.
Um dos revoltados com o golpe foi o engenheiro Luiz Carlos Barsotti, 23 anos. Junto com amigos, ele chegou ao local às 6 horas de segunda-feira. E, como todos de seu grupo, viu quando a garota saiu com os ingressos na mão, sem a falsa barriga e com um sorriso de deboche no rosto.
Além da estratégia da "falsa gravidez", os fãs reclamaram da lentidão no atendimento. "A fila está quase parada. A polícia já tirou várias pessoas que furavam" disse uma amiga de Luiz Carlos.
Os cariocas enfrentam problemas no ponto de vendas da Zona Sul. Uma fila de cerca de 500 metros se formou na porta do supermercado Pão de Açúcar da avenida Nossa Senhora de Copacabana 493. Os compradores reclamavam que a venda era feita em apenas um caixa do supermercado. Segundo a PM, havia entre 800 e mil pessoas na fila.
Ainda sobre as imensas filas, todos já esperavam --como em todos os países pelos quais passa a banda. Mas conter a irritação ficou difícil ao se presenciar, por exemplo, a venda de lugares.
Uma criança negociava em Santo Amaro um "pacote" de dez lugares na fila por R$ 170 ou dois por R$ 40 --o menino disse ao "cliente" que dormiu no local porque precisava de dinheiro para arrumar sua bicicleta. "Tenho sete cadeiras lá, mas se apertar cabem dez", falou o menino. Mais tarde, o garoto foi flagrado junto com outros três homens, que continuavam na fila ao lado dos "clientes".
Quem estava na fila desde cedo reclamava ainda da venda preferencial para idosos, gestantes e pessoas com crianças de colo. "Tudo bem que é lei, mas as pessoas chegam na maior cara de pau e passam na frente de todo mundo. Não há um guichê só para eles e a fila geral simplesmente não anda", reclama a estudante Fernanda Fortino, 22.
Mas a irritação de quem aguardava a compra de ingressos foi além. Em alguns locais, nem todos os guichês estavam funcionando --de seis montados, apenas quatro estavam abertos em Santo Amaro.
De acordo com o gerente da unidade, tratou-se de um problema "operacional". A loja explicou que havia pessoal e máquinas de cartões de débito e crédito disponíveis, mas que, na prática, não cabiam as pessoas dentro do local. Mas explicar como uma empresa que traz ao país um dos maiores shows do mundo consegue tal façanha, ele não conseguiu.
Somaram-se à demora do atendimento "humano", os famosos "problemas no sistema". Quem optou por pagar com cartão de débito, por exemplo, esperou muito mais de quem pagou em dinheiro. Em alguns momentos, ambos os grupos esperaram muito, porque o sistema que contabilizava os ingressos vendidos também saiu do ar de tempos em tempos.
Na internet, o site da Ticketronic, único responsável pelas vendas on-line, também enfrentou problemas. A página limitou mais ainda o acesso: estava restrito a 2.000 usuários simultâneos, um quinto da capacidade anunciada pelo empresário Alexandre Accioly, um dos produtores do evento. Mais cedo, o limite de 10.000 já havia sido reduzido para 5.000. O número, aliás, mudou constantemente.
Há quem reclamou ainda que, mesmo quando o site aparecia disponível, a compra não era efetuada. "Estou desde as 10h conectado e já são 16h. Na hora de realizar a compra, ele diz ou que os ingressos só serão vendidos a partir das 10h, sendo que já passou desse horário há horas", afirmou o engenheiro Eduardo Christiano, 28. Segundo ele, se na busca do site se colocava "U2", aparecia como resposta que não havia resultado.
O mesmo tipo de problema ocorreu no Chile, onde a banda tocaria em 26 de Fevereiro, no Estádio Nacional. A empresa responsável pela venda de ingressos naquele país registrou panes nos sistemas de venda de ingressos por internet e telefone.
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