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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Larry Mullen Jr: o homem do trem

O que acontece quando um ator veterano magistral, que fez mais de 160 filmes, junta-se com um baterista rockstar fazendo sua primeira incursão na arte de atuar? Foi palpite de alguém, e um pouco de jogo. Porém, Donald Sutherland e Larry Mullen Jr do U2 ainda estão se banhando no crepúsculo de sua improvável amizade - dentro e fora da tela - depois da intensiva filmagem de 17 dias de “The Man On The Train”. Habilmente dirigido pela cineasta irlandesa Mary McGuckian (“The Bridge of San Luis Rey”, “Best”), o filme estreia, em lançamento limitado.
“É uma experiência diferente de tocar no palco”, diz Larry Mullen. “É muito mais pessoal, mas você não toma isso pessoalmente. É daquelas coisas que você imagina nos seus sonhos, mas quando você realmente se encontra em um set é essencialmente muito assustador, especialmente se você estiver consciente. Mas a verdadeira surpresa é que foi uma experiência libertadora.”
“Na primeira cena que Larry e eu fizemos juntos, quando ele está me ensinando a atirar com a arma,” diz Donald Sutherland, “eu virei pra ele e disse algo, e ele caiu na risada, só porque era verdade, de dentro. E esta era realmente sua primeira experiência trabalhando visceralmente.
“Até o fim do filme, ele era um ator,” o Sr. Sutherland acrescenta. Em seguida inclina-se confiante “Eu lembro que uma vez, nos anos 40, Sam Goldwyn reuniu todos os atores do filme que estávamos fazendo e nos disse: ‘Eu descobri o segredo da atuação. É a honestidade. Depois que você aprende a fingir, você está dentro!’.
Situado em uma cidade Podunk de algum lugar da América do Norte, “The Man on the Train” é um remake, lindamente filmado, do clássico francês de 2002 de Patrice Leconte (no qual estrelaram Jean Rochfort e o roqueiro e ícone gaulês Johnny Halliday) sobre um encontro casual e posterior relacionamento entre dois homens: um solitário e loquaz professor inglês aposentado (Sutherland), que anda com dificuldade em sua desordenada mansão, à espera de sua próxima cirurgia cardíaca com falsa ansiedade, e um lacônico, durão, misterioso e estranho pistoleiro (Mullen), cujo olhar pensativo e penetrante diz tudo.
Quando “o homem” sai de um trem com uma enxaqueca ofuscando sua visão e com a ideia de roubar um banco, ele entra em uma farmácia, onde o professor passa a preencher sua prescrição e impulsivamente oferece ao estranho um de seus analgésicos. Então, de repente, o homem está desembrulhando sua pistola no quarto vago do professor como um hóspede. Uma dupla fascinação entra em ação conforme os dois personagens estudam um ao outro, questionando o que eles podem ter perdido ao longo do caminho. Chame-o de uma estranha mistura entre um filme de amigos e uma silenciosa brincadeira existencial com o destino. O diálogo é deliciosamente trufado com divertidos trechos literários de Bukowski. Cummings, que felizmente estava na ponta da língua do professor: “Adicionei algumas citações literárias ao script junto com o material que tinha na cabeça, como uma criança.” Diz o Sr. Sutherland com o mesmo deleite travesso do personagem que ele interpreta. Em contraponto estão o silêncio meditativo e um assombroso traço minimalista compostos por Larry Mullen Jr. e Simon Clime. “Formular a trilha sonora e ter de negociar com empresas de cinema e distribuidoras foi de fato tão excitante pra mim quanto estar no set.”, diz Mullen, que é também um dos produtores do filme. A performance autêntica de Donald Sutherland como um velho sofista com um senso de humor excêntrico não foi diferente de sua própria tendência “a falar as coisas sem pensar”, diz ele. Como se estivesse em cena, o ator mexe em seus bolsos e tira um pedaço de papel, “A impermanência está do nosso lado”, o ator declara, sorrindo “É uma frase budista que eu simplesmente adoro”.
“Estes dias eu reproduzo figuras que estão morrendo” ele brinca “Eles me contratam pra dizer "Oi, tenha um ataque cardíaco e caia morto.”
Para alguém que “bate em coisas para ganhar a vida”, como Larry coloca, quais foram os maiores desafios na transição entre uma estrela de rock e um ator iniciante?
“Eu não sabia o que esperar, então não tinha expectativas.”, diz o baterista com um sorriso. “Quando encontrei Donald pela primeira vez, no set, eu disse a mim mesmo, bem, isso é, obviamente, como ocorre, é assim que esses caras fazem.
“Donald não me influenciou em nada, nem me ofereceu uma tonelada de conselhos. Ele simplesmente ficou fora do meu caminho – agradeço a ele por isso – porque estou certo de que o instinto é ajudar um ator novato junto."
Trabalhando estreitamente com a diretora Mary McGuckian, o Sr. Mullen Jr passou três meses se preparando para o papel, conciliando o que ele chama de “sua lição de casa” com sua árdua turnê mundial com o U2. Embora o papel do estranho silencioso não envolva muitos diálogos (“No começo eu disse à Mary, ‘ouça, vou fazer uma participação especial, se você gostar’, ele diz) ele admite que o dom de aprender os caminhos não era de todo óbvio.
“Para se preparar, Larry trabalhou em um caderno de anotações para exercitar a construção do personagem, que é uma combinação holística de alguns processos, bem como o que usei para filmes de improvisação.” Explica McGuckian “Era importante pra mim que ele não começasse a ter aulas de interpretação ou instruções.
“Nós gravamos o filme muito rapidamente e sob o radar em Orangeville, uma pequena cidade do Canadá” diz a diretora. “Quando eu peguei o Larry no aerporto de Toronto, ele chegou sozinho, apenas com uma mochila e nenhum funcionário ou segurança."
“Meu personagem é uma espécie de rabugento em boa parte do filme” devaneia Mullen. “Ele está preso em sua própria personalidade – ele é o senhor “cool”, como o professor o vê – quando tudo o que ele realmente está fazendo é encobrir as feridas. Por baixo dessa frieza está um interior muito quente e é profundamente desconfortável.”
Mullen também admite que “o homem” reflete uma certa indefinição sobre si próprio. “Eu não sou uma pessoa violenta, mas tenho um lado difícil e uma reputação de viver perigosamente” diz ele sorrindo.
E decididamente, ele daria para atuar em outro, se abordado por gente como os irmãos Coen, Quentin Tarentino or Danny Boyle.
“Aqueles 17 dias de filmagem foram as maiores risadas que tive em muito tempo – não obstante o trabalho árduo – morando em um apartamento pequeno, apenas com a patroa, aprendendo minhas falas, trazendo pra casa a baguette, passando roupa...não faço isso desde que tinha 22 anos, ou talvez mais jovem.”
Ele faz uma pausa, e em seguida acaricia a barba invisível que ele raspou, quando se viu ainda proferindo as falas do filme, depois de voltar para a vida real.
“Sinto falta daquele cara, às vezes, quando me vejo em apuros”, diz ele melancólico.
“Vamos lá...onde está a atitude?”.

Um comentário maldoso: “Meu personagem é uma espécie de rabugento em boa parte do filme” - Larry Mullen.
Sim, a vida imita a arte!

Agradecimento: U2MARCELO (Comunidade U2 Brasil)
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