Adam Clayton ofereceu para Mark Savage da BBC um tour pela 'The Barricage', uma tela de vídeo de duas faces e 29 metros de comprimento que o U2 toca dentro todas as noites na eXPERIENCE + iNNOCENCE Tour 2018.
A passarela abrange toda a extensão da arena, ligando o palco principal a uma plataforma menor e circular no outro extremo da arena.
"É uma maneira muito cara de ir do grande palco para esse pequeno aqui", ri Adam Clayton.
Mas é muito mais que isso. As telas sobem e descem ao longo do show, transmitindo imagens ao vivo, slogans políticos e animações coloridas.
Elas também podem se tornar transparentes ao apertar um botão, permitindo que o U2 apareça e desapareça atrás da tela e até entre em conflito com as imagens ao seu redor.
"O ato mágico, se é que existe um, é encolher o local e fazê-lo desaparecer", diz Bono, que percorre toda a estrutura de 89 toneladas toda noite com um perigoso desrespeito por sua própria segurança.
"Quando você tem uma intimidade com uma multidão de 20.000 pessoas, é uma coisa muito comovente. Quando tocávamos nos shows em clubes indo para cima e para baixo na M1, era sempre 'qual é o caminho mais rápido para a proximidade com o nosso público? Agora usamos muita tecnologia para atender a esse fim. Mas é o mesmo pensamento: 'há algum lugar neste show em que as pessoas têm um assento ruim? Bem, vamos acampar bem ali'", diz Bono.
Todos os palcos do U2 são projetados pela firma londrina Stufish Entertainment Architects.
Há "definitivamente uma corrida armamentista de excelência" entre as bandas, diz o CEO do estúdio, Ray Winkler. "As bandas estão muito conscientes de que há competição por aí - então elas aspiram entregar algo maior, mais brilhante e melhor".
Winkler sempre faz a seus clientes as mesmas perguntas: "Qual é a história que você quer contar? Qual é o arco emotivo do show? E então, quais são os meios que podemos usar para entregar isso?
"Só porque você tem a tecnologia, isso não significa que você precise usá-la", acrescenta. "Você tem que usá-la de forma inteligente".
O uso das telas pelo U2 é impressionante e desorientador.
No número de abertura "The Blackout", as silhuetas da banda entram e saem da estática, como fantasmas tentando invadir o reino dos vivos. Então os músicos são revelados, dentro da 'The Cage' e se debatendo em angústia estroboscópica.
Mas o show é mais poderoso quando as telas sobem e a banda toca "Pride (In The Name Of Love)" em pódios individuais situados nos quatro cantos da arena.
Será que eles já perderam a intimidade de fazer shows em clubes?
"Eles foram ótimos quando estávamos aprendendo nossos trabalhos, mas é muito difícil voltar para lá", diz Adam Clayton.
"Quando você chega aos seus 30 anos, você quer estar nos teatros e nas arenas. Você não quer voltar lá atrás".
A tecnologia de ponta tem um custo, diferente de quando tocavam em pequenos clubes. Em toda a indústria da música, os preços médios dos ingressos estão em um recorde de US $ 96 - 14% a mais que no ano passado.
Os ingressos do U2 estão disponíveis das duas formas, atingindo o alto preço de 400 libras, mas chegando a 40 libras.
"Nós gostamos de pensar que nosso público não está pagando o preço - somos nós", diz Bono.
"Nós poderíamos fazer um show despojado em um estádio, tocando nossos maiores sucessos e a economia disso seria muito mais justa para a banda. Mas eu acho que seria injusto para o público. Estamos tentando dar a eles a melhor experiência possível e estamos preparados para pagar por isso ... em grande parte".
Colocando seu dinheiro onde estão as bocas, a banda renovou toda a turnê para a parte europeia.
Agora o show abre com imagens do continente em ruínas após a Segunda Guerra Mundial e termina com a banda tocando em frente à bandeira da UE, fazendo um apelo por tolerância e unidade.
"Começar o show depois da Segunda Guerra Mundial, naquela devastação, naquele horror foi um pouco assustador para nós", diz Bono.
"Abrimos a turnê em Berlim e ficou apenas um silêncio, por razões muito compreensíveis. Mas fora dos escombros veio a ideia da Europa e que, talvez, apesar de falarmos línguas diferentes, pudéssemos de alguma forma usar a mesma voz. Eu acho que é um conceito bonito e romântico, a Europa, mas acabou sendo um conceito frio para muitas pessoas. Você só pensa na burocracia em Bruxelas, e é por isso que eu acho que muitas pessoas no Reino Unido queriam sair".
A banda pensou em como a mensagem pró-UE vai cair no Reino Unido? "Certamente será uma recepção interessante", diz Adam Clayton.
"Eu acho que nosso público provavelmente será dividido de várias maneiras diferentes, e eu acho que o que queremos ver é o que sai disso".
A nível pessoal, o U2 está particularmente preocupado com a situação da fronteira irlandesa.
"Desde que o processo de paz e a fronteira se evaporaram, tem sido um mundo muito diferente para nós", diz Adam Clayton.
"Quanto mais nos aproximamos da Europa, mais fraca essa fronteira se tornou. Então, estamos muito preocupados com o que acontece entre nós e o Norte".
O tema que se repete no show é que o amor pode ser uma força de mudança, redenção e resistência - mesmo que você seja parte de uma banda de rock que conquista o mundo.
"Acho que parte do sentimento em um show do U2 é que nós quatro permanecemos juntos", diz Bono.
No palco, ele lembra como eles estavam gravando 'Achtung Baby' em Berlim quando o muro caiu, mas os membros da banda estavam erguendo suas próprias paredes.
"Era importante dizer às pessoas que nem sempre eram rosas no jardim, como meu pai diria. 'Achtung Baby' foi uma época muito difícil para nossa banda. Nós quase terminamos antes de conseguirmos essa música, "One". Portanto, há stress e tensões na tentativa de fazer o seu melhor trabalho, como ainda o fazemos. Toda noite tem que ser a melhor noite da vida de qualquer um. E você sabe o que? Isso é um pouco demais".
Esse stress veio à tona no mês passado quando a voz de Bono sumiu durante um concerto em Berlim.
A banda foi forçada a abandonar o show nas primeiras canções - e Bono ficou visivelmente emotivo enquanto pedia desculpas ao público.
"Eu nem sequer tive uma dor de garganta antes do concerto", diz ele. "Eu estava com a voz completamente perfeita e então, num estalar de dedos, ela se foi".
Não foi a primeira vez também. Um caso de "maldição do deserto" afetou a turnê PopMart em Las Vegas, e no livro U2 BY U2 Bono revelou que ele tinha sido diagnosticado com "alergias nasais".
Então é isso que aconteceu em Berlim?
"Isso é provavelmente o mais próximo da resposta, na verdade", diz ele. "É muito humilhante ser uma pessoa que pode desenvolver reações alérgicas intensas. Não é assim que eu me vejo".
O fato de ter acontecido na frente de quase 30 mil pessoas piorou a situação, acrescenta.
"Algo como 5 mil deles vieram de fora da Alemanha, então eles não estão recebendo de volta o custo pago com seus voos ou seus hotéis. Eu me sinto realmente horrível com isso, então vamos encontrar uma maneira de agradecê-los".
Nas notas para o último álbum da banda, 'Songs Of Experience', ele se refere a um recente problema de saúde que inspirou várias de suas letras.
"Eu tive alguns problemas", diz ele. "Mas eles se foram e eu não".
Quando seu show em Amsterdã chegou ao fim, Bono agradeceu ao público e declarou: "Não sabemos quando vamos vê-los novamente".
O setlist do show é focado no período após a banda se reinventar com 'Achtung Baby'.
O U2 pode estar preparando uma retirada ou um novo período de reinvenção?
Não necessariamente, diz Adam Clayton. "Estamos trabalhando duro há quatro anos - constantemente em turnês", ele sorri.
"Acho que só precisamos ir embora por um tempo e dar uma folga ao público".