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quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Bono fala sobre a saída de Christina Petro da ZOOTV e como Morleigh Steinberg virou a dançarina do ventre


Da autobiografia de Bono, 'Surrender: 40 Songs, One Story':

A MUSA MORLEIGH STEINBERG

Foi em 1992 que conhecemos Morleigh Steinberg. Estamos na ZOO TV Tour. Adam está em plena loucura de astro do rock. Pus meu pé na água. Larry está tentando sobreviver. E Edge se tornou um parceiro, não apenas para o cantor, mas para o baixista. É o baixo de Adam que abre o momento mais sexy do show. "Mysterious Ways".
Edge está dançando no palco com a mulher da música. Não está? Certamente a música deve ter sido escrita para esta mulher. Tirando o fato de que esta dançarina do ventre sobre o palco tem o menor dos ventres. Morleigh Steinberg ocupa a posição de musa no centro da música porque tem uma compreensão inata de que a musa frequentemente controla o artista que a pinta. Esta musa está no comando.
Morleigh Steinberg chamou nossa atenção pela primeira vez por ter aquilo que a banda dizia ser a axila mais atraente do mundo. Veja o suspiro coletivo quando ela levanta os braços no filme de Matt Mahurin inserido no videoclipe de "With Or Without You". 
Nascida em uma família de artistas da Califórnia, Morleigh foi co-fundadora da ISO, uma trupe de dança de vanguarda que se pendurava no teto, carregava uns aos outros no palco em patins, atirava uns aos outros em estruturas cobertas com velcro. 
Em termos de experiência teatral surreal, é difícil competir com a ISO, dançarinos que usavam vestidos de baile e deslizavam sobre o palco como se fosse uma pista de gelo. De joelhos, com pranchas com rodinhas escondidas pelos vestidos. A trilha sonora tocando Danse Sacrée et Danse Profane, de Debussy.
Nós nos tornamos mais teatrais com a ZOO TV Tour, e surgiu a questão da coreografia, algo pelo qual nunca tínhamos sido conhecidos. Morleigh trouxe a solução, uma grande ajuda para Gavin Friday, Willie Williams e Catherine Owens, nossos guias para essas grandes produções itinerantes. 
Conhecemos uma dançarina do ventre no Busch Gardens, na Flórida, e uma semana antes de começarmos a versão indoor da turnê, convidamos essa mulher, que também dançava com cobras, para se juntar a nós. Ela se revelou um momento maravilhoso no show, mas, admiravelmente, em retrospecto, ela abandonou a turnê reclamando do uso de plástico nos bastidores e nos acusando de não sermos idealistas o suficiente. 
Morleigh interveio. Magra como um narciso, ela não era uma escolha óbvia para o papel de dançarina do ventre, mas havia algo em sua química com a banda que era fora do comum. A dança em "Mysterious Ways" começou comigo, mas acabou com Edge, o integrante da banda que de fato tinha o dom da dança. A vida imitaria a arte.
Um quarto de século mais tarde, depois de dois filhos com Edge e de várias turnês que não poderiam ter existido sem os dons coreográficos de Morleigh, eu por exemplo não seria capaz de atravessar o palco sem ela. Eu me sinto à vontade no palco, mas não sou um artista nato. Há uma diferença. Preciso pensar e me preparar para estar centrado no meu corpo. Não sou dançarino, mas Morleigh me ensinou a me mover. E, mais difícil ainda, ela me ensinou a ficar parado.
A coreografia ou a dança nunca fizeram parte da nossa língua franca.
Pular, lançar o corpo para a frente, para trás, pavonear, se jogar sobre a multidão e escalar pilhas de alto-falantes? Sim. Acompanhar o ritmo? Menos.
A abertura da ZOO TV Tour me mostrava sendo baleado nas costas ou subjugado pela descarga elétrica nas rajadas de guitarra de Edge no início de "Zoo Station". Depois, havia a marcha em passo de ganso.
Me dizendo quando me acalmar e acompanhar a batida. Nada disso era natural para mim.
Edge sempre disse que olho para o meu corpo como se fosse uma inconveniência. Posso estar fora de contato com meu lado físico e tive que aprender a entender como o corpo se move no tempo e no espaço se você estiver no palco. 
Morleigh começou comigo apenas respirando, sentindo meu corpo. Um aquecimento de ioga, acho. Alongamento. Princípios do pilates. Eu jamais participaria do exercicio de improvisação "Eu sou uma árvore", e não me imagino andando de patins pelo palco, mas comecei a gostar de me sentir conectado ao meu corpo. E felizmente, quando deixei de lado um pouco da tensão que me mantinha tão duro nos shows, minha voz melhorou. A voz se estendeu e relaxou, se tornando mais capaz de atingir as notas altas do que quando eu as forçava pela laringe.
Morleigh tem o dom de entender a habilidade física que o palco exige, conquistada com muito esforço depois de uma vida dedicada a isso.
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