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sábado, 7 de outubro de 2023

A verdade (na versão de Bono) sobre a saída de Paul McGuinness da administração do U2 - Parte II


Da autobiografia de Bono, 'Surrender: 40 Songs, One Story':

O acontecimento foi revelador porque Paul, que sempre teve ambição e energia ilimitadas, naquele momento estava deixando claro que a reserva era finita. 
Paul estava em busca de uma vida mais simples, não de uma mais complicada. Talvez aos 60 ele tenha achado que preferia continuar sendo nosso amigo do que enfrentar mais batalhas conosco. 
Com a indústria fonográfica mudando mais rápido do que nunca, Paul teve a honestidade intelectual de dizer: "Não posso percorrer a próxima etapa da jornada se essa etapa for reorganizar a indústria da música".
Eu sabia que na verdade isso significava: "Você vai precisar montar acampamento em outro lugar na hora de escalar a próxima montanha".
Paul continuou com um desafio: "Por que você não fala com o Arthur Fogel e o Michael Rapino na Live Nation? Veja se eles querem comprar a Principle".
E com mais um tapinha naquele rosto barbeado, o homem que produziu e dirigiu os sonhos de quatro garotos suburbanos arrivistas começa a escrever sua própria saída de nossas vidas.
Sua frase de despedida?
"Não posso ir junto, mas sempre estarei aqui para vocês".
Mais tarde, estou sentado sozinho, me perguntando o que aconteceu. O que fazer com o adeus?
Duas lembranças me vêm à mente.
Primeira: "Você sabe por que eu quero trabalhar com vocês pelo resto da vida?"
É uma noite de sexta-feira em 1979, e Paul está sussurrando conspirações bem alto no aconchegante Dockers, na esquina do Windmill Lane Recording Studios. Seu tom de barítono facilmente ouvido sobre o barulho de um pub lotado. Os copos aterrissam e decolam das mesas como aeronaves em uma pista de aeroporto. Para mim, aos 19 anos, sua frase "o resto da vida" soa como 26 ou 27.
"Porque vocês entendem toda a equação", diz ele, olhando para mim. "Sabe o que quero dizer?"
"Sei", digo, sem fazer a menor ideia do ele que quer dizer. Mais tarde descobrirei que era uma referência a O Último Magnata, de F. Scott Fitzgerald.
Segunda: vinte anos depois, estamos em 1999, e estou subindo ao palco no Giants Stadium sem a banda. Estou me apresentando no Net Aid com Wyclef Jean. A causa é o perdão da dívida externa, e é uma causa enorme. O público esta noite? Nem tanto. Acho menos de vinte mil pessoas num lugar com capacidade para oitenta mil. Ao meu lado, Paul sussurra gritando para mim mais uma vez, como se eu nunca fosse aprender.
"Passei a vida inteira garantindo que esse tipo de coisa nunca acontecesse com você. Olha o que você fez com você mesmo". No palco, Quincy Jones rege uma orquestra. "Quincy", digo, "não tem ninguém aqui".
Ele olha para mim e diz: "Bono, eu não tenho que me virar".

VELHAS PONTES QUEBRANDO

Sei que Paul vai ficar bem. Mas e quanto a nós? No enterro de um amigo, ouço o poema de Seamus Heaney "Scaffolding" ("Aindai- mes"). Seamus está lá quando você precisa dele:

Os pedreiros, quando uma obra iniciam,
Com cuidado os andaimes examinam;
Confirmam que tábuas não deslizarão nas áreas movimentadas,
Apertam parafusos das dobradiças, prendem todas as escadas.
E, no entanto, quando o trabalho finda tudo isso é demolido
Exibindo paredes de concreto firme e sólido. 
Então, meu bem, se às vezes chegar a parecer 
Que entre nós há velhas pontes quase a ceder 
Nunca tema. Podemos deixar que caiam os andaimes 
Seguros de que já construímos nossas paredes.

Eu me pergunto se o muro permanecerá de pé sem Paul e sem a Principle. Ou se já passou da hora de derrubar nosso andaime. Construa outra coisa. Questões em relação ao abandono.
Isso é o fim de alguma coisa? Ou o começo de outra?
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