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segunda-feira, 19 de março de 2012

Especial 25 anos de 'The Joshua Tree' - Parte7

BRIAN ENO


A DÉCADA DE 80 NÃO PARECIA TÃO BOA ENQUANTO ACONTECIA. De fato ela parecia como um guloso, tempo inteligente, no qual todas as idéia de inclusão e altruísmo que se inspiraram os anos 60 (e também os 70) foram denominadas como desencaminhadas, sentimentais e ingênuas.
TALVEZ ELES REALMENTE TENHAM SIDO: mas eles certamente pareciam muito mais atrativos do que a presunção que caracterizou os Thatcher Years. A verdade é que no início dos anos 80 a sociedade britânica estava na ponta extrema do balanço do pêndulo, uma oscilação entre Sumer of Love e Miner’s Strike. Isso parecia como um tempo instável, experimental, um tempo no qual valores fundamentais foram a força.
A música estava numa condição similar de indecisão. Em uma mão havia a grande sombra do punk, que prometia uma forma revolucionaria de apaixonada arte publicitária, e na outra mão havia um movimento direcionado ao auto conhecimento desumanizado, pós-moderno, politicamente imparcial, nova música eletrônica: The Clash versus Kraftwerk. Uma abordagem semelhante a um argumento pelo engajamento revolucionário do individual, e outro pela alegre sublimação dentro da impenetrável colméia da modernidade.
E lá estava o U2 – nascido do primeiro e crescentemente alerta ao segundo. “The Unforgettable Fire” foi um álbum que ninguém – incluindo nenhum de nós que estivemos envolvidos em fazê-lo – realmente esperava. Sua crueza e paixão podem ser traços do punk, mas também há um ecletismo, franqueza e generosidade de sentimentos que não eram típicos daquela forma. Ele também soava completamente eletrônico, mas não a arquitetura esculpida do Kraftwerk – mais o som das máquinas levadas ao seu limite. Este foi aquele infeliz casamento que deu origem ao “The Joshua Tree”.
A contribuição que o Dan e eu mesmo demos não foi muito o que normalmente se chama “produção”. Nós vínhamos trabalhando juntos por alguns anos, éramos bons amigos, e sabíamos bem como sobrepor nossas competências. Danny tem uma profunda personalidade musical e um real entendimento sobre musica e músicos. Ele é alguém que você quer ter por perto se está tentando cultivar novas idéias. Eu, por outro lado, não sei muito sobre tocar instrumentos, mas eu acho que sou bom em ajudar a empurrar o barco para novas direções e fazê-lo parecer promissor. Danny e eu coincidimos em pelo menos um importante respeito: apesar de termos diferentes meios para encontrá-lo, era um poder emocional que estávamos procurando. E esta foi também a nossa coincidência com a banda. Nenhum de nós somos convencidos por inteligência ou polidez – não obstante nós as cortejamos por um instante até que o Larryômetro fique vermelho e nós nos voltemos para um curso mais expressivo. No final o que todos nós estivemos procurando era impacto emocional: a melhor palavra para isso é “alma”. Nós não queríamos revisitar lugares onde estivemos antes, mas nós também não queríamos perambular numa interessante excursão acadêmica. Para navegar entre o rock e aquele duro lugar é preciso um barco não convencional, mas o U2 é um grupo de pessoas seguras o bastante de suas identidades para ocasionalmente suspendê-la durante a viagem de barco. Isto requer caracteres confidenciais – uma coisa que nunca faltou à banda.
E lá estava Flood: um gênio sônico que mantinha uma pilha de caixas de Marlboro – todos os cigarros que ele fumou durante o projeto – no topo da mesa de mixagem. No final nós não podíamos ver o topo dela. Flood trouxe uma nova sensibilidade sonora – dura, mais aflita, mais fumante, para o nosso trabalho.
Mas as idéias mais brilhantes não florescem em terrenos pedregosos, apesar de que aparentemente pequenas idéias podem se tornar grandes e fortes se o solo for rico. Seja o que for que nós três adicionássemos, isso teria sido sem importância se a banda não tivesse a imaginação e a abertura para alimentar isso e transformar em alguma coisa.
Com o “Joshua Tree” o U2 se tornou uma banda realmente forte, telepática. A química entre eles era diferente e induplicável, assim como acontece com as grandes bandas. Se você estiver projetando uma banda a partir de um esboço, você provavelmente nunca vai conseguir um U2 ou um The Rolling Stones ou um The Velvet Underground, porque essa combinação de talentos e limitações é muito incomum. Nas melhores bandas, cada força e limitação se torna uma parte essencial da mistura. Cada um faz com que o outro soe melhor do que se ele estivesse sozinho.
Eu não deveria pintar um quadro de todo esse relacionamento. Isso durou meses. Haviam longos períodos que eu me sentia como um homem que seria convocado para ajudar a lançar um foguete ao espaço, mas que se encontrava preso em uma cauda, experimento o mesmo sangue dia sim dia não, sem nenhuma data prevista para o lançamento. Havia argumentos, mas não muitos, mas não aqueles com ressentimentos que deixam rancor, eu acho que me lembro do Dan altamente frustrado num dia, pegando uma cadeira pesada e jogando-a sobre o monitor das caixas de som. E o incidente mais celebrado de “Streets” foi parecido com isso: nós estamos trabalhando em uma tomada dessa música por semanas, recolocando primeiro um instrumento, depois outro, depois outro – até que, ao bom estilo Lincoln, não existia uma única parte da performance original. Eu continuava pensando “não seria mais fácil se começássemos tudo novamente?”, mas ninguém queria jogar fora o que já tínhamos. Então eu concebi a idéia de um “acidente” – uma fita acidentalmente apagada – assim nós não tínhamos opção: teríamos que começar tudo de novo. O acidente nunca aconteceu; as ruas estavam salvas.
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