O dia em que Bono e Ali foram alvejados pelas tropas do governo de El Salvador

As sessões de gravação de The Joshua Tree começou em janeiro de 1986, em Danesmoate House, em Dublin, na Irlanda, e continuou durante todo o ano. O U2 interrompeu brevemente estas sessões em junho, para se juntar a Anistia Internacional na turnê A Conspiracy of Hope. Após o primeiro concerto em San Francisco, Bono se encontrou com René Castro, um artista chileno de mural. Castro havia sido torturado e mantido em um campo de concentração durante dois anos pelo governo ditatorial do Chile porque sua arte criticou o regime de Pinochet, que tomou o poder em 1973 durante um golpe de Estado.
Castro mostrou para Bono a pintura de uma parede na Mission District, que retratou a situação em curso no Chile e Argentina. Ele também soube da Madres de Plaza de Mayo, um grupo de mulheres cujos filhos foram forçados a desaparecer pelo governo argentino. Os filhos das Madres eram estudantes que se opuseram ao governo durante a Guerra Suja, e do golpe de Estado que trouxe Jorge Rafael Videla ao poder. As Madres se uniram à campanha para obter informações sobre os locais dos corpos de seus filhos e as circunstâncias de suas mortes, acreditando que eles tinham sido sequestrados, torturados e assassinados.
Muitos dos estudantes desaparecidos foram os que se opuseram ao governo durante a Guerra Suja. Inspirado pelo mural, Bono fez uma pausa prolongada das gravações em julho, e viajou para a Nicarágua e El Salvador com sua esposa, Alison Hewson, para ver de perto o sofrimento dos camponeses intimidados por conflitos políticos e da intervenção militar dos EUA. Enquanto estava lá, eles trabalharam com a Central American Mission Partners (CAMP), dos direitos humanos e da organização do desenvolvimento econômico.
Em El Salvador se reuniram os membros do Comité de Madres Monsignor Romero, uma organização de mulheres cujos filhos foram forçados a desaparecer pelo governo de El Salvador durante a Guerra Civil de El Salvador, porque eles se opuseram ao regime militar que estava no poder.
Em um ponto durante a viagem, Bono, Alison, e um membro de CAMP foram alvejados pelas tropas do governo, enquanto estavam a caminho de entregar ajuda para um grupo de agricultores. Os tiros foram um aviso e, de acordo com o autor John Luerssen, o incidente fez Bono perceber que "eles não se importaram com sua intrusão e que poderiam matá-los se eles se sentissem obrigados".
Em 2006, Bono contou outra experiência que teve em El Salvador, onde ele tinha visto um corpo sendo jogado de uma van na estrada. Ele comentou: "As pessoas simplesmente desaparecem. Se você fosse parte da oposição, você pode encontrar um SUV com as janelas escurecidas estacionado fora de sua casa .... Se aquilo não te impedisse, ocasionalmente, eles entrariam e pegariam você e matariam. Não haveria julgamento". Bono compreendeu a causa das Madres e COMADRES e queria prestar uma homenagem à elas.
Suas experiências na América Central inspiraram as letras de "Mothers of the Disappeared" e "Bullet the Blue Sky".