Bono respondeu em 2008, no site da Rolling Stone, a uma crítica à reedição do primeiro álbum do U2, Boy.
O líder do U2 ultrapassou, no entanto, o limite de caracteres da caixa de comentários da Rolling Stone, pelo que a revista decidiu publicar, numa notícia separada, a conversa de Bono sobre o seu próprio disco.
"Nós, os membros do chamado grupo pós-punk, ficamos muito lisonjeados com a crítica de quatro estrelas e meia da nossa estréia, um álbum em que sempre acreditamos", começa Bono por escrever.
O cantor passou então a enumerar o que estava "certo e errado" em "Boy", depois de ouvir o álbum "pela primeira vez em mais de 20 anos".
"A começar pelo "pseudo" sotaque inglês e pelo fato, poucas vezes referido, de o vocalista parecer uma moça, a coisa não é muito promissora", brincou Bono. "Há muitas razões para querer esbofetear o vocalista, mas vamos começar pela sua pretensão... Tem obviamente ouvido Siouxie and the Banshees, Joy Division e mais uns quantos, cuja malícia e carisma artístico foram demais para o rapazinho sardento de Dublin".
Quanto às letras de "Boy", Bono explicou que foram escritas "ao vivo, ao microfone", uma má idéia desculpável pela procura de "autenticidade".
"Se 90% do rock'n'roll é sobre sexo, este 1% é sobre virgindade e não querer perdê-la", resumiu Bono. "Agora é que consigo perceber porque é que o álbum disse tanto à comunidade gay, com canções como "Twilight" e "Stories For Boys"".
Bono analisou ainda a prestação dos seus companheiros de banda, comparando o talento do baixista Adam Clayton ao de John Entwistle (The Who) e Peter Hook (Joy Division, New Order) e elegendo o guitarrista The Edge como "a grande estrela" do disco.
"Evitando as escalas de blues óbvias que cegam todos os guitarristas que já ouviram Led Zeppelin, The Edge descobre novas cores para o espectro do rock", considerou Bono. "Ele é claramente o guitarrista mais influente desde os grandes compositores, Jimmy Page, Pete Townshend, Neil Young (...)".
Na "despedida", Bono definiu aquilo que, na sua opinião, torna o U2 especial.
"Você pode ter tudo: as canções, a produção, o visual, a atitude, e faltar a essência. O U2 não tinham nada, mas tinham a essência. Para nós, a música era um sacramento".
"Tenho orgulho deste pequeno polaroid de vida de que me lembro perfeitamente", concluiu Bono, adiantando ainda que o U2 se encontrava tentando finalizar o seu álbum "mais completo e radical" de todos.
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