Bono e The Edge estiveram em 2017 em Berlim para promover o álbum 'Songs Of Experience', e deram uma entrevista no andar superior do Waldorf Astoria.
"Posso fazer algo maluco e pedir uma cerveja?", pergunta Bono. A vista da suíte é sensacional. "A Zoo Station visível daqui?", Bono quer saber. A resposta é sim. Então ele elogia a beleza de Gedächtniskirche, que ele vê diretamente em sua frente. "Eu gostaria de visitar o mercado natalino lá embaixo, há alguma coisa legal?"
Bono e The Edge deram um concerto dentro da estação de metrô, e foram perguntados quando eles tinham entrado pela última vez em um.
"Há um muito perto da minha casa em Dublin. É chamado de DART. Eu deixo meus filhos lá de carro quando eles têm que ir para a escola. Eu mesmo não ando no DART há anos. Mas em Nova York ainda tomo o metrô quando vou ao estúdio. Eu nunca faço isso no verão, mas apenas no inverno, quando eu posso puxar o cachecol para debaixo do meu nariz", disse Bono.
"Isso se aplica a mim também. Não faz muito tempo que andei em um. Minha esposa tem um bom talento para a mobília. Ela adora vasculhar os mercados de pulgas. Nós passeamos por Dalkey e passamos por uma lixeira dumpster que continha uma linda cadeira antiga. Minha esposa disse que gostaria de voltar para buscá-la. E eu sugeri que levasse imediatamente. Entramos no DART para transportá-la. Coloquei a cadeira entre os bancos e fui sentado nela. As pessoas estavam se divertindo muito - sem surtar", disse Edge.
Bono relembrou a recente passagem pelo Estádio Olímpico de Berlim com a 'The Joshua Tree Tour 2017': "Foi no meio de julho, correto? O concerto foi especial, muito especial. Tocar em Berlim é sempre importante para nós. Porque passamos tanto tempo aqui e gravamos 'Achtung Baby'. Você não quer estragar tudo. Este sentimento que Berlim lhe dá, há poucos outros lugares no mundo. Foi também o primeiro concerto onde a Lei Básica Alemã foi lida para mim".
The Edge: "Essas são coisas que gostamos de fazer. Nossos shows sempre correspondem a onde estamos ou o que está acontecendo. E essa é a parte divertida do planejamento dos shows do U2: se há algo no ar que podemos reagir. Nós até pagamos pessoas extras para ajudar a impulsionar essas ideias".
Foi perguntado qual é a melhor fase de uma banda: a da inocência, onde você acabou de começar e quer conquistar o mundo, ou como uma banda experiente com 14 álbuns?
The Edge respondeu: "Na verdade, é a fase da inocência. Mas existem grandes exceções. Leonard Cohen é um deles - ele se tornou cada vez mais profundo e interessante ao longo de sua carreira. É por isso que estamos tentando".
Bono: "No momento, imaginamos que seremos recompensados com sabedoria ao final de toda experiência, bem no fundo do horizonte. Podemos então recuperar a inocência e sermos tão livres e ingênuos quanto no início do U2. Hoje sou outro Bono".
Ao ser perguntado se gostaria de ser outra pessoa, Bono responde: "Às vezes. Você aprende muito sobre o mundo quando cresce. Muitas vezes tem muito mais força, sem saber de nada. É sobre isso que os dois álbuns 'Songs Of Innocence' e 'Songs Of Experience' são. Quando você os ouve em sequência, é um diálogo entre o eu jovem e o mais velho. Eu ainda não tenho certeza do que o meu eu mais jovem pensa de mim. O jovem Bono vê tudo preto e branco e é muito mais implacável - de acordo com o lema: nós contra o resto do mundo. Ele joga pedras no inimigo. Mas à medida que você envelhece, percebe que o maior inimigo do homem está no espelho. O maior obstáculo para sua evolução é você mesmo e o que está em você".
A pergunta agora é se é difícil envelhecer com dignidade no circo do rock n roll quando se está cercado de tanto cinismo.
The Edge responde: "Eu acho que estamos indo muito bem. Claro, há muita malícia. Mas nós não vamos deixar isso nos incomodar - nós ainda queremos ser legais! Ainda nos sentimos os mesmos de 40 anos atrás quando começamos. Somos uma gangue de rua que nunca cresceu. E enquanto pudermos manter o sentimento..."
Bono: "... podemos crescer dignos também!"
Então chega a hora de falar sobre 'Songs Of Experience'.
Bono: "Eu tive um acidente de bicicleta muito ruim há alguns anos no Central Park de Nova York. Eu nem sabia se poderia tocar guitarra novamente. E então um ano antes do disco ser lançado eu tive uma experiência de quase morte. Eu não quero ser mais específico, porque vira uma novela. Eu não quero ficar lamentando e que sintam pena de mim. Mas o que eu não quero fazer é fingir que sou imortal como uma estrela do rock. Eu não sou imortal! Preciso encontrar uma mediocridade para mim. A abordagem de escrever a partir da perspectiva de estar morto deu mais urgência para as letras".
Sobre o humor da canção "The Showman (Little More Better)", Bono diz: "Quando você assiste shows do U2 nos anos 80 e especialmente nos anos 90, como na Zoo TV Tour, sempre houve muito humor. Em 'Achtung Baby' há a grande ressaca "Tryin 'Throw Your Arms Around The World". E se você pensar no começo do U2, havia a música "Trash, Trampoline And The The Party Girl" - que também é bem humorada. Eu acho que é importante, se você está fazendo coisas sérias, mostrar o outro lado também. Mas só porque "The Showman" é bem-humorada não significa que seja menos significativa. Porque eu estou falando de artistas e como ter cuidado com eles. Porque eles podem fingir cada choro e cada risada, até o orgasmo".
The Edge: "Me lembra o ditado: as mulheres podem fingir orgasmos, os homens fingem um relacionamento inteiro".
Perguntado para Bono quantas vezes ele mente no palco, ele responde: "Ah, eu gostaria de fazer isso com mais frequência! Porque nem sempre tenho meus sentimentos no palco sob controle e isso ajudaria".
The Edge explica: "O que Bono quer dizer é que existe uma diferença entre a arte de cantar e o momento em que você toca as músicas de uma maneira muito vulnerável. Quando Bono usa seu ofício, o que ele raramente faz, não é o mesmo. Ele pode existir bem sem isso. Ele então mergulha nas músicas para as performances. Há verdade e crueza em sua fala, que é incrivelmente poderosa. No final, é isso que faz um grande cantor - o dom de mergulhar nas músicas. Há muitos cantores perfeitamente trabalhados, mas eles não podem fazer uma conexão emocional".
A pergunta agora é para Edge, se ele ainda gosta de ouvir Bono cantando todas as noites.
"Ah, sim, totalmente! Eu sou um crítico de Bono, mas um grande fã de seus vocais. Há muito poucos cantores que podem fazer o que ele faz: Elvis, Nick Cave e Sinéad O'Connor vêm à mente".
Bono entra: "Não seja tonto! (risos) Em algum momento você vai se livrar disso, amigão! (ele cumprimenta Edge) Enfim, eu escrevi a música para avisar a todos que os cantores precisam de um adesivo "tome cuidado" por uma série de razões".
Ao ser perguntado quando é que o ego das estrelas do rock é maior, se no começo ou no final de uma turnê, Bono responde: "Você esperaria que ele tivesse uma sobrecarga e eventualmente explodisse em estar na frente de 70.000 pessoas todas as noites. Mas exatamente o oposto! Eu posso dizer com absoluta certeza que meu ego é menor no final de uma turnê do U2 do que no começo. Existe um vazio. Pode parecer bom para o ego que dezenas de milhares de pessoas estejam ao seu redor todas as noites, mas não é bom."
A próxima pergunta é qual foi a última vez que vocês choraram no palco?
The Edge: "Você está brincando? Todas as noites! Nós experimentamos uma grande catarse emocional através da nossa música. É por isso que os shows do U2 são tão poderosos. Então, somos emocionalmente afetados da mesma maneira que o público".
Bono: "Para cantar essas músicas, que normalmente estão em tons muito altos para mim, eu ainda tenho que mergulhar nelas. E então eu fico preso nisso. Isso foi tão longe um outro dia que eu só queria ir para casa pouco antes do bis. Algo aconteceu na platéia, que me incomodou. Então eu disse: "Vamos, vamos embora". E Edge sempre tem seus fones de ouvidos para que ele não tenha que me ouvir. Ele os tirou e disse: "O que, precisamos voltar ao palco, há mais algumas músicas para tocar, eles pagaram por isso".
Sobre a capa de 'Songs Of Experience', The Edge comenta: "O filho de Bono Eli e minha filha Sian gostaram. Em 'Songs Of Innocence', o antecessor deste disco, Larry e seu filho Elvis estavam na capa - apesar de não verem o rosto de Elvis ali. Essa foto parece a resposta para o trabalho artístico. Há algo na imagem que é muito insistente: a dualidade da inocência e o capacete militar, que sugere desastre ... Ele se encaixa em nosso tempo".
A pergunta agora é para Bono. Estando o U2 quase que constantemente em turnê nos últimos anos, seria "You're The Best Thing About Me" um pedido de desculpas? Ele responde: " Oh, isso não é necessário! Às vezes, quando saio de casa hoje, vejo até um brilho nos olhos de Ali e das crianças. É diferente do passado: quando saíamos em turnê, muitas vezes não víamos nossas famílias por meses, mas hoje em dia elas também nos acompanham. Minha esposa é muito independente de qualquer maneira. Eu acho que ela gosta de verdade quando ela faz uma pausa de mim".
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