Nos anos 80, David Howell, também inglês, mas radicado em Dublin, Irlanda, andava inconformado com a violência cometida pelos terroristas e pela polícia em seu país. Ele queria denunciar tudo aquilo.
Já em Detroit, nos Estados Unidos, nos anos 90, o garoto Jack White morava em um bairro de negros e latinos onde só se tocavam hip hop e música eletrônica. Ele queria ouvir outra coisa. Em 2008, o diretor Davis Guggenheim (ganhador de um Oscar em 2007 com o filme Uma Verdade Inconveniente, filmagem das palestras sobre aquecimento global feitas pelo ex-vice-presidente americano Al Gore) reuniu em um estúdio os três inconformados.Jimmy Page, um sessentão, foi o revolucionário guitarrista do Led Zeppelin.
David Howell se tornou conhecido pelo apelido The Edge e emprestou sua pegada tecnológica ao grupo U2.
O som radical de Jack White pode ser ouvido em diversas bandas, das quais a mais famosa é o White Stripes.
Jimmy Page é filmado em Londres. Cercado de vinis, mostra os sons que o influenciaram na vida. Um dos momentos mais divertidos é quando coloca Rumble, de Link Wray, no toca-discos e começa a fazer uma espécie de "air guitar" com os braços. Sorrindo, diz: "Isso é demais. Olha como ele usa o vibrato do amplificador depois da segunda parte". Já Jack White está no Tennessee quando a equipe de filmagem chega ao seu território. O cantor está no meio do deserto, com bois e vacas o observando.
Durante um ano, o diretor Davis Guggenheim se desdobrou durante três cidades carregando sete câmeras. Tudo para que passagens como a cena em que The Edge mostra as fitinhas cassete de "Joshua Tree" (álbum de 1987 do U2) que originaram composições como "Where the Streets Have no Name" fossem captadas da maneira mais natural possível.
O resultado poderá ser visto nos cinemas à partir deste mês em 'A Todo Volume', um documentário sobre o encontro histórico, focado principalmente na relação apaixonada dos músicos com seu instrumento.
No início do filme, White mostra como é possível fazer uma guitarra com um pedaço de madeira, alguns pregos e uma garrafa de vidro. Pula-se para outra cena, na qual Page compara o instrumento ao corpo de uma mulher. Mas ao longo da obra entra-se na natureza e sentimentos dos três com muita sutileza. Com vários depoimentos e dezenas de cenas históricas magníficas, fica-se sabendo como a guitarra colou-se àquelas vidas como segunda pele.
O filme também mapeia as inovações de cada um. Page, por exemplo, conta como criou a lendária guitarra de dois braços para acomodar, ao mesmo tempo, a melodia e o acompanhamento no clássico Stairway to Heaven.
The Edge também foi revolucionário à sua maneira. Não pelo virtuosismo do domínio do instrumento, mas por sua obsessão por processadores de som digital e o uso de uma vasta parafernália eletrônica para alcançar o "som perfeito".
O melhor momento, no entanto, é quando os três se juntam e revisitam as próprias composições. São cenas antológicas que ajudam a fazer de 'A Todo Volume' uma raridade.
Documentários sobre música são em geral frios e aborrecidos. Este, ao contrário, informa e empolga. Uma declaração de amor à guitarra. Nada mais justo.
O filme foi exibido no último mês na '33ª Mostra Internacional de Cinema', e estréia este mês em salas de cinemas.
Ficha Técnica:
Título inglês: It Might Get Loud
Diretor: Davis Guggenheim
Elenco: The Edge, Jimmy Page, Jack White
Ano de produção: 2008
País: Estados Unidos
Duração: 97 min.
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Vídeo: