Em entrevista exclusiva ao GLOBO, The Edge diz que "a próxima coisa da qual você vai ouvir falar sobre o U2 é um novo álbum de estúdio, depois disso então vamos ver como vai ser a turnê". Quer dizer, é o que ele espera, já que, com a banda, "nunca dá para ter 100% de certeza":
— Passamos algumas semanas no estúdio tocando com Larry. Ele está se recuperando bem, pegando leve, dando um passo de cada vez. Não estamos pedindo para ele fazer coisas demais, mas acho que ele está tocando muito bem. E gostando de tocar, o que é importante.
Para The Edge, a banda está vivendo uma "fase de lua de mel":
— Estamos produzindo o material sem ter que pensar em prazo, explorando possibilidades, trabalhando com diferentes colaboradores sob orientação de Jacknife Lee, produtor com quem trabalhamos há algum tempo.
Entre as explorações, está a música regional de seu país. The Edge ressalta que o grupo tem gravado com músicos irlandeses tradicionais, como Cormac Begley (concertina), Colm Mac Con Iomaire (violino) e Dermot Sheedy (no bodhrán, instrumento de percussão irlandês que se assemelha a um tamborim).
— Desde discos como 'October' e 'War' que nós realmente não olhamos para a influência irlandesa. Desde então, adquirimos uma perspectiva de fora e ficamos mais conscientes da singularidade da música irlandesa. Agora, parece um lugar novo para irmos. Pode render um álbum do U2, um projeto paralelo, como o Passengers ... Não estamos pensando muito onde isso vai dar.
The Edge tem bem vivas as lembranças dos tempos em que compuseram e gravaram 'How To Dismantle An Atomic Bomb'.
— Todos nós estávamos passando por momentos difíceis. Bono tinha acabado de perder seu pai. Eu estava começando uma nova família, e um dos meus filhos passava por uma grave crise de saúde. O mundo também estava em crise com a Guerra do Iraque e aquela conversa toda sobre armas de destruição em massa. Todos os tipos de bombas atômicas estavam explodindo em nossas vidas. Estranhamente, conseguimos botar tudo aquilo na música. As letras e os temas desse álbum são muito políticos e panorâmicos, mas também extremamente pessoais.
Sobre "Vertigo", ele conta o motivo de ter uma contagem em espanhol.
— Essa música tinha uma versão inicial chamada "Native Son", muito poderosa, mas um pouco séria demais. Gravamos a faixa novamente com Steve Lillywhite, e Bono veio com novas ideias melódicas. Em certo ponto, estávamos realmente pensando em gravá-la com uma letra toda em espanhol. Um dos títulos que pensávamos para a música era "Sopa De Tiburón". Obviamente, sabíamos que era um espanhol muito vagabundo. Então fizemos "Vertigo" e mantivemos na introdução um vestígio do nosso experimento.
Ocupado com os shows no Sphere, em Las Vegas, o U2 quase não teve tempo de preparar material extra para a reedição de 'How To Dismantle An Atomic Bomb'. De volta para casa, em Dublin, The Edge vasculhou em sua coleção as gravações demo para o disco, e começou "a encontrar preciosidades". Ele então ligou para Bono e disse: "Olha, sei que vai dar um trabalhinho, mas ouve isso aqui!" O cantor ouviu e ficou animado. Em seis semanas, ele escreveu as letras que faltavam e gravou as vozes, enquanto Edge acrescentava guitarras — o que deu origem a faixas como "Happiness", "Country Mile" e "Luckiest Man In The World".
— O mais incrível e o motivo de eu ter ficado tão animado foi perceber que, nas letras, os temas de 2004, em resposta à Guerra do Iraque, de repente pareciam tão relevantes para o que está acontecendo agora, com as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio. É triste que estejamos vendo uma reprise daquele filme antigo.
Falando sobre seu instrumento, The Edge diz que a guitarra segue vital para o U2 e para a música pop.
— Bono e Adam têm me instigado a inovar na guitarra no disco novo. Sinto que há um ressurgimento da guitarra, e adoraríamos fazer parte disso, se formos convidados para a festa. Ainda acredito que a guitarra seja eloquente, capaz de uma transferência de energia que poucos instrumentos alcançam. Estou animado com a música de guitarra atual, e muito vem de garotas, o que é maravilhoso. A guitarra passou por uma linda forma de democratização.