Já se passaram quase 20 anos desde que o U2 iniciou seu relacionamento com a indústria de tecnologia, o que deixaria um gosto amargo quando o segundo empreendimento do U2 com a Apple – lançar o novo álbum da banda na biblioteca de cada usuário do iTunes sem consentimento – se tornasse conhecido como um dos grandes desastres da história da música.
Steve Jobs disse no California Theatre de San Jose: "O iPod tem três anos. Quando começamos isso, ninguém sabia o que era ou não acreditavam que seria um grande sucesso".
Então Jobs contou a novidade no player de música digital, e com uma performance de Bono e The Edge. Enquanto a dupla cantava uma faixa do próximo disco da banda, 'How To Dismantle An Atomic Bomb', Jobs disse: "Vamos nos lembrar disso pelo resto de nossas vidas…"
O iPod do U2, de US$ 349, era preto (o click wheel vermelho, como o alvo utilizado pelo U2 no palco e na parte gráfica do disco) e com as assinaturas dos membros da banda gravadas a laser na parte de trás.
O verdadeiro significado, porém, era o relacionamento que a Apple havia estabelecido com um dos bastiões da elite do rock, possivelmente um prenúncio de novos modelos de negócios na era digital.
Todos foram inundados com comerciais Day-Glo do iPod apresentando o U2, que anteriormente não apareciam em campanhas publicitárias. Mas, como explicou Edge, "é fácil aparecer no anúncio do iTunes porque o iTunes está nos promovendo". Além disso, a Apple venderia exclusivamente um "box set digital" de US$ 149, composto por todas as gravações oficiais do U2, além de 25 faixas inéditas. Isso podia ser adquirido com um único clique do mouse (Jobs estimou que levaria "algumas horas" para obter o download das 400 músicas).
Bono e Jobs vislumbraram para o futuro novas oportunidades para vender músicas e construir comunidades de fãs, como oferecer gravações de shows na loja iTunes. "Estamos nos preparando para isso", disse Jobs. "Não seria ótimo se na manhã seguinte ao show você pudesse comprá-lo no iTunes e qualquer pessoa no mundo pudesse ouvi-lo no dia seguinte?"
A conclusão do U2 era de que o sucesso do iPod e de outras iniciativas desacreditariam firmemente os executivos fonográficos que profetizavam que a transformação digital condenaria a indústria musical. "Não acredite nessas pessoas", disse Bono. "Queremos parar de fugir do futuro, mas caminhar até ele e dar-lhe um grande beijo. Dê às pessoas o que elas querem, quando elas querem".
Em um trecho de seu livro de memórias, Bono disse que o U2 pediu para aparecer no comercial do iPod, apesar de nunca ter licenciado sua música para um anúncio antes, porque a Apple tinha "um histórico de comerciais inovadores".
"Não queremos dinheiro", disse Bono a Steve Jobs. "Queremos apenas estar no comercial do iPod".
Quando Steve Jobs disse que "não tinha esse tipo de orçamento" para o U2, Paul McGuinness, que foi empresário da banda de 1978 a 2013, sugeriu "até mesmo uma quantia simbólica" de ações da Apple em troca da banda aparecer no anúncio.
Steve Jobs chamou a troca de ações da Apple de "um obstáculo" e recusou a oferta.
Bono acrescentou que apesar da banda aparecer no comercial, Paul McGuinness sempre lamentou ter perdido a discussão sobre ações com o fundador da Apple.
A banda fechou um acordo com a gigante da tecnologia que incluía o lançamento da edição limitada do iPod. Como parte da parceria, a Apple ofereceu o single da banda "Vertigo" – que apareceu no comercial – exclusivamente através de sua loja iTunes.
Bono disse que milhares de pessoas compraram a edição especial do iPod porque ele "não era branco" como os produtos anteriores da Apple.
Bono acrescentou que o acordo e o comercial da banda com a Apple permitiram que a banda alcançasse um público mais jovem e eles se beneficiaram ao aproveitar a "onda da Apple".
"A Apple estava viajando rumo ao infinito e além; tivemos sorte de pegar uma carona", disse Bono.
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