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quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

O produtor Andy Barlow fala sobre 'Songs Of Experience' para a Billboard


Andy Barlow tem sido um "enorme" fã do U2 desde que ele se lembra. "Achtung Baby foi provavelmente o álbum que me fez querer ser um produtor musical", diz o artista britânico e produtor, integrante do Lamb, a banda eletrônica que ele formou no meio da década de 90 junto a cantora Lou Rhodes, reformada em 2014.
O que Barlow não sabia até recentemente era que Bono também era um grande fã do Lamb, o que levou a um convite para trabalhar com o U2 em 'Songs Of Experience'. Começando com um teste de duas semanas em Mônaco, o produtor passaria dois anos viajando ao redor do mundo com o U2, trabalhando como consultor criativo de turnê e produzindo cinco músicas em 'Songs Of Experience', e na opinião de Barlow, "o melhor disco em 20 anos."
"Parecia que todos os dias algo incrível aconteceria", diz o produtor para a Billboard, ao refletir sobre os desafios únicos da co-produção do U2, como a eleição do Presidente Trump mudou radicalmente o disco e por que o resto da banda achou que Bono estava "fora de si".

Como surgiu o envolvimento com o U2?

O Lamb estava tocando na Rússia e o meu empresário me telefonou assim que estávamos indo para o palco, por isso eu sabia que devia ser algo importante. Ele disse: "Eu vou te dizer uma coisa e você não pode contar a ninguém." "Posso contar ao Lou, certo?" E ele disse, "Não. Não pode contar a ninguém. Você tem que prometer. Eu assinei um termo confidencial. Acabei de falar com o empresário do U2 e eles me perguntaram se você gostaria de ir para Mônaco e fazer um teste de duas semanas" O estranho é que, quando eu tinha 19 anos, tive uma premonição de que ia produzir um álbum do U2 um dia. E então a coisa ainda mais estranha é, 24 horas antes de eu receber aquela ligação, meu melhor amigo me disse: "O que você quer fazer na sequência?" E eu disse, "Eu adoraria fazer um álbum do U2. Isso não seria algo?" Literalmente 24 horas depois, meu empresário me ligou com a oferta.

Rompendo com a tradição, grande parte de 'Songs Of Experience' foi escrita e gravada em espaços improvisados como estúdio quando a banda ensaiava para shows ou na própria turnê. Qual foi o pensamento por trás desse processo?

Eles nunca fizeram nada assim antes. O sentimento de Bono é [geralmente] que quando uma turnê é concluída e todo o divertimento e o falatório sobre a turnê terminam, então é seguir e ir para a parte séria de escrever a música. Eles pensaram [desta vez] que, se levassem alguém enquanto estivessem na estrada e todos fizessem composições, no momento que chegasse a hora de gravar o disco, já teria uma forma e um sentido, e não haveria o mesmo tipo de pressão. Então foi isso que fizemos.
Depois de Mônaco, eles me pediram para ir para Vancouver por seis semanas para outro teste e no final foi me oferecido o trabalho. De lá, eu fui para cerca de 10 países diferentes ao longo dos próximos dois anos, às vezes por meses com nenhum momento [gasto] em estúdios de verdade - talvez 10% apenas dentro de um estúdio. O resto foi [trabalho] em camarins ou hotéis ou mansões onde Bono e a banda estavam hospedados. Nós simplesmente criamos uma plataforma de equipamentos bastante abrangente, mas ainda pequena, e simplesmente fizemos o que quer que fosse.

Qual foi o plano inicial para o disco e como isso se desenvolveu ao longo do tempo?

Inicialmente eu estava trabalhando principalmente com Bono. O resto da banda estava como, "Bono, você está fora de si. Já estamos muito ocupados. Temos muita imprensa para fazer. Nós estamos tentando ensaiar e você tem esse cara que você está escrevendo e gravando com ele. Que porra é essa? Isso é loucura." Assim, nas primeiras semanas, foi praticamente um trabalho exclusivamente Bono e eu lançando ideias sobre. Quando Bono escreve, ele não escreve letras propriamente. Chamamos o que ele escreve de Bongolese. Ele basicamente irá fazer as palavras sobre a visão que está tendo ou sobre a xícara de café que ele está bebendo - apenas uma canalização pura - e à partir disso encontraríamos o que parecia bom e juntávamos. No dia seguinte, ele iria ouvir a forma vocal que surgiu comisso, escreveria uma narrativa e, quando ele estivesse animado com alguma coisa, levaria isso para Edge. De lá, seria como um pingue pongue entre os dois, como Lennon e McCartney jogando ideias um para o outro.

A banda discutiu como os eventos políticos mudaram a direção do álbum no meio do processo de gravação. Como foi isso da perspectiva do produtor?

O álbum mudou maciçamente quando Trump foi eleito. Nós praticamente tínhamos ele na sacola e então a banda veio no dia seguinte e disse, "nós temos que mudá-lo. Não é mais relevante." Então passamos mais um ano nisso. Algumas das músicas foram para outro caminho. Temos músicas novas e muitas letras mudaram. Bono é muito conhecido por deixar as letras para o último minuto possível antes que ele se comprometa com elas, e até mesmo quando iria ocorrer a masterização do disco as letras ainda estavam mudando. A banda era apenas prolífica. Em um ponto, tivemos 60 canções-algumas com letras completas, algumas incompletas - e tivemos que ir diminuindo à partir disso.

The Edge também falou, sem especificar, sobre uma experiência de "pincelada com a mortalidade" de Bono, que levou muitas das letras do álbum a serem retrabalhadas. O que você pode dizer sobre isso?

Isso não aconteceu como um acordo, deliberadamente. Foi feito como de costume, trabalhando dentro de um estúdio. Eu sabia que algo estava ocorrendo, mas parecia muito que a música estava ajudando, então todos nós fomos para a música. Mesmo sendo uma pessoa muito extrovertida, Bono pode ser realmente muito privado.

Como você sente que esses eventos influenciaram o registro final?

Eu acho que eles tornaram o disco mais humano e álbum ficou aberto. Se eu pensar em como o álbum teria sido lá atrás antes da entrada do Trump, não tinha a mesma humildade que tem agora. Eu acho que realmente trouxe mais aspectos humanos da banda à superfície. Eu acho que é o seu melhor álbum em 20 anos. [Seu último álbum] Songs Of Innocence esteve cinco anos em construção e acho que talvez tenha passado do ponto.

Depois de cerca de um ano de trabalho sobre o álbum, a banda entrou no estúdio com o produtor Steve Lillywhite para re-gravar alguns dos arranjos das músicas no meio de sua 'The Joshua Tree Tour 2017'. Como isso mudou as coisas?

Até esse ponto, um monte de partes - especialmente as de Larry e Adam - foram colocadas separadamente. Então a banda disse, "na verdade, precisamos sair e tocar essas músicas como uma banda. Então precisamos re-gravar essas performances com essa energia." quilo os levou de volta a ser quatro rapazes em um estúdio tocando juntos, que remonta ao espírito original dos álbuns anteriores.

Você é um dos vários produtores que trabalharam em 'Songs Of Experience', juntamente com Jacknife Lee, Ryan Tedder, Steve Lillywhite, Paul Epworth e Jolyon Thomas, e é creditado em cinco faixas, incluindo "Love Is All We Have Left", "Landlady" e "Red Flag Day". O que você achou da experiência de trabalhar junto com alguns dos produtores mais bem-sucedidos do mundo?

Tenho que dizer, foi muito angustiante. Nunca fiz um disco com vários produtores. E por 21 anos eu tenho sido um artista onde você se apega muito a ideias e canções são como seus filhos. Assim, quando outros produtores se envolveram e começaram a cortar meus filhos, tive que aprender a abandonar aquela coisa de posse, controle sobre minhas ideias. A coisa boa sobre isso é que estávamos todos dando ideias para a banda e então eles poderiam com todo o arranjo e ver como iria fluir.
Lá no início, [o manager do dia a dia Brian Celler] me levou para jantar e disse: "Há uma faixa chamada "The Little Things That Give You Away"", e ele basicamente apenas leu uma lista dos melhores produtores do mundo - Brian Eno, Steve Lillywhite, Paul Epworth, Danger Mouse - que já haviam trabalhado para eles. Ele disse, "A banda sabe que há uma grande canção lá e se você puder tirar isso da mesa de ideias, então você fará algo que nenhum desses outros produtores poderiam fazer". Então isso se tornou minha missão pessoal. Embora alguns de nós trabalhamos nela, Jolyn e eu realmente fomos os que deram forma à esta faixa. Tem essa coisa que lembra o Lamb. A maneira que ela cresce em um ponto e explode no final.

Como trabalhar com o U2 se compara com outros trabalhos de produção?

Se você perguntar a qualquer produtor que já trabalhou com o U2 como isso se compara a qualquer outra coisa, eu acho que eles diriam o mesmo que eu, que nada nunca vai prepará-lo para trabalhar com o U2. Eles são completamente diferentes de qualquer outra banda. Durante meses, você continua conhecendo novas pessoas que você nunca conheceu antes. É uma família tão grande de pessoas e todos que estão com eles são os melhores no que fazem, desde seu diretor de vídeo para o seu designer de iluminação, eles são todos os melhores [no negócio]. Outra coisa é, muitas vezes eles estão apenas no estúdio por apenas algumas horas por dia, pois estão muito ocupados fazendo outras coisas. Foi algo completamente fora da minha zona de conforto desde o meu primeiro dia. Mas, ao mesmo tempo, eles são muito pés no chão, muito pacientes, respeitosos, amáveis, cortês e realmente abertos a tomar a direção. Muitas vezes, pode levar meses até que um artista passe a se abrir e confiar em você e com Bono foi praticamente no segundo minuto. Nós tivemos um estalo muito rapidamente.

Que impacto em trabalhar com o U2 teve em sua própria música com o Lamb?

Quando você trabalha com pessoas inspiradoras não há como você não conseguir absorver isso. Apenas vendo como Bono encontra a forma das músicas antes de escrever letras. Nós fizemos isso com o Lamb em nosso novo disco, algo que nunca fizemos antes e, até agora, os resultados são realmente bons.
Depois de produzir coisas que têm que ter algum tipo de sentido comercial, como David Gray ou U2, estamos nos permitindo experimentar ainda mais neste novo registro.
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