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sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Ned e Jack na letra de "The Blackout"


No novo disco do U2, 'Songs Of Experience', Bono escreveu uma longa carta com o título de 'Canções De Experiência', e em uma parte ele explica sobre "The Blackout":

"É uma carta para o momento em que nós estamos onde o apocalipse tanto pessoal quanto político se misturam. Não apenas o monstro de pedra dizimado pelo tempo, mas a democracia jurássica à beira da extinção. A democracia no fundo é apenas um ponto fora da curva na história. Liberdade, igualdade e fraternidade não são condições humanas, são? São aspirações tomadas à força por revoluções sangrentas. É um lance sangrento e conturbado. Assim como traumas pessoais, também com distopia política."

A letra da canção traz em suas linhas, nomes referentes à pessoas do sexo masculino:

Earthquake always happen when you're in bed, Fred
The house shakes, maybe it was something I said, Ned
Statues fall and democracy is flat on it's back, Jack
We had it all, and what we had is not coming back, Zac

Terremotos sempre acontecem quando você está na cama, Fred
A casa treme, talvez seja algo que eu tenha dito, Ned
As estátuas caem e o plano da democracia é deixado para trás, Jack
Nós tínhamos tudo, e o que nós tínhamos não está retornando, Zac

O site U2START através de uma matéria sobre o disco, revela de onde Bono tirou alguns destes nomes citados na letra.
Assim como em 'Songs Of Innocence' e 'Songs Of Experience', Bono utilizou mais de William Blake, agora para "The Blackout". Ned e Jack estão na obra 'The Chimney Sweeper' (O Limpador De Chaminés), uma série de dois poemas estabelecidos contra um pano de fundo do trabalho infantil na Inglaterra georgiana.
O limpador de chaminés aparece em poemas de 'Songs Of Innocence And Of Experience'.
Publicado em duas partes através de 'Songs Of Innocence' de Blake de 1789, e 'Songs Of Experience' de 1794, Ned e Jack foram os nomes de dois jovens limpadores de chaminés mencionados em um sonho pelo jovem narrador Tom. Juntamente com milhares de outros jovens limpadores de chaminés, Ned e Jack foram trancados em "caixões negros". No sonho, Tom recebeu uma chave de um anjo para libertar os limpadores de chaminés de seus caixões. Lendo mais sobre isso, parece que Blake estava fazendo uma declaração sobre as dificuldades do trabalho infantil da época e como a Igreja aparentemente incentivou tais práticas, mesmo que, talvez indiretamente, com a sugestão de que, por dificuldades duradouras nesta vida, um seria recompensado na próxima vida.
A escuridão dos tempos que originou 'The Chimney Sweeper' e a escuridão dos tempos precários e estranhos que atualmente nos encontramos, Bono parece oferecer uma fresta de luz em 'The Blackout", sugerindo que nem tudo está perdido, não estamos em rota de colisão, as coisas podem ser mudadas.



O LIMPADOR DE CHAMINÉS
William Blake em Canções Da Inocência

Ao morrer minha mãe, eu era criancinha;
E meu pai me vendeu quando ainda a língua minha
Dizia “vale-dor!” De “varredor” não fujo,
Pois limpo chaminés, e sigo sempre sujo.

Chorou Tom Dacre ao lhe rasparem o cabelo,
Cacheado como um cordeirinho. E eu disse ao vê-lo:
“Não chores, Tom! Porque a fuligem não mais deve
Manchar, como antes, teu cabelo cor de neve.”

E ele ficou quietinho; e nessa noite, então,
Enquanto ele dormia, teve uma visão:
Viu Dick, Joe, Ned e Jack, - e mil colegas mais, -
Encerrados em negros caixões funerais.

E um anjo apareceu, com chave refulgente,
E abriu os seus caixões, soltando-os novamente;
E correm na verdura, a rir, para o arrebol,
E se banham num rio e reluzem ao sol.

Brancos e nus, sem mais sacolas e instrumentos,
Eis que sobem as nuvens, brincam sobre os ventos;
E esse anjo disse a Tom que, se ele for bonzinho,
Terá Deus como pai, e todo o seu carinho.

E assim Tom despertou; e, antes do sol raiar,
Com sacolas e escovas fomos trabalhar.
Feliz, Tom nem sentia o frio matinal;
Quem cumpre o seu dever não teme nenhum mal.

O LIMPADOR DE CHAMINÉ
William Blake em Canções Da Experiência

Na neve há um pontinho bem negro que vai
E diz “varre-dor!” com os tons do pesar!
“Responde: onde estão tua mãe e teu pai?”
“Os dois foram juntos à Igreja rezar.

“Como entre os espinhos mostrei que era forte,
E ria no inverno, entre a neve a tombar,
Vestiram a mim com as vestes da morte,
E a mim ensinaram os tons do pesar.

E, como feliz eu cantei e dancei,
Acharam que tudo comigo é pilhéria;
E louvam a Deus e Seu Padre e Seu Rei,
Que formam um Céu com a nossa miséria.”
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