Na Estrada Com U2 - Revista Bizz - Agosto de 1992
ATLANTA - GEORGIA - 5 DE MARÇO
Mesmo tendo um crachá onde está escrito "acesso total", eu não posso andar tranqüilo no camarim do U2 sem ser acossado por um dos dois grupos de segurança (segurança local, que muda toda noite, e privada, que viaja com a banda). Eles mantêm uma cortina azul na frente da porta do camarim, por razões obscuras.
Cortinas são o grande lance na turnê Zoo TV. Há uma sala coberta de cortinas fora do palco, onde Bono corre para trocar de roupa no meio do show (uma garota o espera lá, e seu único trabalho aparente é segurar o espelho para ele). Também há um buraco abaixo do palco (coberto de cortinas) onde eles mantêm um cara cercado por aparelhos eletrônicos estranhos.
De uma coisa eu sinto falta nessa turnê: a capacidade de mudar e improvisar no meio das músicas que o U2 tinha antigamente. Não há espaço para surpresas nessa turnê - a lista das músicas é tão estabelecida que está até impresso no verso dos crachás do pessoal de apoio. Tem que ser: o impressionante acompanhamento de vídeo está conectado a uma duração específica das músicas.
A banda decidiu nessa turnê tocar somente o que os quatro membros do grupo podem realmente produzir ao vivo, necessitando da imensa gama de pedais de guitarra do Edge. Mas meu ouvido detecta uma grande quantidade de sequenciadores e teclados adicionais acompanhando várias músicas. E o que exatamente faz aquele pequeno homem que senta no buraco coberto de cortinas cercados por máquinas que se parecem bastante como sequenciadores e teclados, se não é para providenciar acompanhamento de teclado e sequenciador? Hein?
Improvisações estão limitadas aos aspectos não musicais do show - como para quem Bono telefona no meio do show, ou que canais ele liga nos bancos de monitores de vídeo.
Após o show, nós viajamos através de uma noite chuvosa da Georgia para a Virgínia, passando por um barraco meio caído ("The Alamo") que anuncia bistecas e danças. Que é tudo que você poderia querer agora. Uma observação de quem já está na estrada a um tempinho: não importa o quão rápido você vá, tem sempre alguém querendo que você vá ainda mais rápido.
DETROIT, MICHIGAN - 27 DE MARÇO
Noite de pizza. Bono tenta pedir dez mil pizzas do palco. Acaba conseguindo só cem, que eles distribuem para a galera. Eu consigo uma fingindo ser da Banda de Abertura. "Nós amamos os Pixies!" eles me dizem. "Coma pizza!" Mais celebridades: Jack Nicholson e Danny De Vito (na cidade, filmando Hoffa).
Hoje a noite todo mundo tem que tirar fotos; os crachás precisam ser trocados porque os velhos começaram a ser copiados. Eu não sei porque alguém teria esse trabalho. Só para entrar nos camarins, talvez? Só porque você tem um pedaço de plástico não quer dizer que vai poder circular pelo camarim do U2 - você precisa ter uma carta para provar quem é, ou então ser "alguém".
No dia seguinte nós dirigimos por dez horas até Minneapolis, através de tempestades de neve. Ao chegar no Target Center, há um boato que Julia Roberts está visitando o U2 no seu camarim. Por que as celebridades sempre se relacionam? Por que Julia Roberts tem uma conexão automática com uma banda de rock da Irlanda? Do que eles falam?
Jim Green