Quando o U2 lançou 'The Joshua Tree' em 1987, a consciência política do grupo já estava estabelecida.
O desejo de a banda abraçar a experiência americana dos anos 80 conduziu-os para uma exploração de suas próprias raízes culturais. Um encontro de Bono com dois Stones num estúdio de Nova York resultou num blues para o disco Sun City, "Silver And Gold". Foi a primeira tentativa do vocalista no blues, apenas para provar que podia escrever música sozinho.
Isso foi fundamental para lapidar o caminho do blues e do gospel em 'The Joshua Tree'.
O álbum também revela uma tensão dinâmica e criativa entre a tendência mais europeia de The Edge e a crescente obsessão de Bono com o conceito de letras narrativas e com o formato das canções.
Mas mesmo assim 'The Joshua Tree' ainda é um álbum bem americano. Seu grande sucesso em número de cópias vendidas - ultrapassou as ambições da banda.
Naquele ano, o U2 atingiu grande parte do território americano, ganhando a capa das revistas semanais Time e Newsweek. Também foram capa da Rolling Stone por duas vezes, naquele ano.
"Eu me assustei com essa enorme repercussão do disco. Tive medo que nós acabássemos atraindo um público que só curte grandes bandas como os Stones e Queen, e não um público participante", revelou Bono.
Tornou-se imprescindível então que eles devessem manter o mesmo prestígio no álbum duplo 'Rattle And Hum' de 1988.
Neste disco eles evocam os fantasmas de Billy Holliday, Elvis Presley, John Lennon e Jimi Hendrix, além de empregarem os serviços de Bob Dylan e B.B.King.
O disco foi recebido com confusão e revolta e acarretou a inevitável resposta farpada do U2. A banda teria mostrado arrogância ao pedir carona no trem da história do rock, foram ridicularizados e hostilizados por isso.
Na busca por suas raízes, o U2 fez uma descoberta importante. Esse caminho levou-os diretamente para suas origens celtas.
Ser bem acolhido na América, a "Terra Prometida", deu um novo sentido para a jovem banda irlandesa.
Por séculos os irlandeses emigraram para escapar das perseguições políticas e religiosas. A partir dos escoceses, que emigraram para as montanhas dos Estados Unidos, no final do século XVIII, muitas hordas de camponeses ocuparam as cidades americanas em meados do século XIX. Eles trouxeram sua música e cultura intactas, que acabaram se espalhando na cultura popular americana.
"Os irlandeses construíram a América", declarou convictamente Bono, certa vez.
Foram oito anos de intensas escavações na cultura americana até que ele e seus companheiros descobrissem como suas próprias raízes foram transplantadas para o rock and roll, folk e música country.
Mas essa considerada arrogância do U2 de se colocar na primeira posição do rock irlandês naquela década e sua pretensão de megastars politizados acabou deixando muita gente descontente.
"A mensagem do U2 é um catálogo de vulgaridades e vagos protestos embrulhados num manto sagrado de justiça e rock´n´roll", escreveu Paul Morley, na revista inglesa Time Out. "O grupo se coloca acima do mundo, que antigamente observava tão bem. Hoje, ele é um pequeno mundo e eles são o Grande Mundo... sua 'paixão' é a paixão por eles mesmos. Sua 'descoberta' é descobrir a possibilidade de descobrir. Eles acreditam na própria crença. Eles são obcecados por eles mesmos".