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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

20 Anos de The Million Dollar Hotel: a entrevista com Bono


Ano 2000. Que o diretor alemão Wim Wenders estava com um novo longa-metragem em cartaz, interessava a muita gente. Saber que existiam novas músicas do U2 na trilha, interessava a muitos mais.
Este definitivamente não era mais um caso de banda cedendo música para um filme. Em 'The Million Dollar Hotel' (O Hotel De Um Milhão De Dólares), a relação foi bem mais profunda. Bono assinou as músicas, o roteiro e também a produção.
O filme já havia sido exibido em alguns países da Europa. Só que, por ser considerado um filme "cabeça" "intelectualizado" e de estilo "europeu", estava tendo dificuldade de conseguir distribuição em território americano. No Brasil não existia previsão de estreia, mas a trilha sonora já estava nas lojas.

De onde surgiu a ideia para o roteiro de The Million Dollar Hotel?

Bono: O hotel existe de verdade, no centro de Los Angeles, e ainda está aberto. Eu o visitei no fim dos anos 80 e não acreditei no que vi. Cada quarto traz uma história desse hotel barato, de acomodações simples. Gente boa, gente ruim. Cafetões, prostitutas, mães com montes de filhos, pacientes de hospícios que o presidente americano Ronald Reagan fechou por cortes de verbas para a saúde... Tudo isso no centro da cidade, em um hotel que é um esplendor de mármore. Lá pelos anos 30, a Era de Ouro de Hollywood, aquilo deve ter sido um palácio. E hoje, olhe só para ele. Foi a partir daí que me interessei pelo assunto.

O que, exatamente, no hotel lhe inspirou a escrever a história?

Na verdade, foi uma sensação de trabalho inacabado. Nos anos 80, nós estávamos interessados na América como um tema. Fizemos os álbuns 'The Joshua Tree' e 'Rattle And Hum'. Ao mesmo tempo, curiosamente, Wim Wenders estava fazendo o filme 'Paris, Texas', que trata do mesmo assunto, e influenciou muito 'The Joshua Tree'. Gosto de pensar que 'The Million Dollar Hotel', em parte, é uma espécie de ressaca desses trabalhos. De qualquer forma, é uma grande metáfora para o outro lado da América, aquele que normalmente não vemos. E é também um excelente contexto para uma história de amor. Porque há três histórias dentro do filme. Ele começa como um suspense em torno de um assassinato, cai para um lado mais "art scam", mas no fim é a história de amor, uma linda história de amor, que fica na mente dos espectadores. Eu sempre quis que 'The Million Dollar Hotel' atingisse em cheio o coração das pessoas.

Como Wim Wenders se envolveu com o projeto?

Seria muita arrogância eu achar que poderia escrever um script. Precisava de apoio. Encontrei o roteirista Nicholas Klein em uma festa, e ele me ajudou, reescreveu o roteiro. Como diretor, nunca enxerguei alguém melhor do que Wim Wenders. Ele tem um olho para a América, para sua iconografia. Além do que, essa é uma história de amor disfuncional e esse, no fim das contas, é o tema principal de Wim. Foi uma convergência natural, as coisas foram se juntando. Que sorte a minha! Meu primeiro roteiro e Wim Wenders é o diretor!

Fale sobre o trabalho na composição da trilha.

Wim leva a música muito a sério, acho que ele escuta mais música do que vê filmes. Ele quis se envolver, veio a nós, sentou na sala, contribuiu. Claro, não exatamente metendo a mão na massa, mas estava lá. Quanto a nós, foi divertido. Improvisamos ao vivo, assistindo às imagens do filme. Juntamos essa banda fantástica, com esse gênio do trompete que é Jon Hassell. A música dele meio que perfuma o hotel... Na verdade, é uma trilha puxada para o jazz. E tem lá umas duas canções do U2, no início e no fim.

Como foi o processo de compor a trilha tocando ao vivo?

Tínhamos uma TV enorme no estúdio e repassávamos as cenas, assistindo ao filme e tocando. A orquestra era composta de grandes músicos, como Brian Eno, Daniel Lanois, Bill Frisell, esse baterista incrível chamado Brian Bates... Para mim, foi maravilhoso tocar com todos esses caras. Larry e Adam iam ao estúdio ocasionalmente e ajudavam. Sabe como é, esses caras não sabem meter porrada no instrumento. São músicos de jazz. Quando a gente precisava de algo mais pesado, eles não sabiam fazer... Sei que Wim ficou feliz com o resultado final, e eu também.

Você realizou um sonho pessoal?

Interessei-me por esse projeto porque estava cansado de escrever na primeira pessoa. Tirei férias de mim mesmo, por assim dizer. Nos discos do U2, não fazemos canções narrativas. Escrevemos do ponto de vista de singles. Foi legal poder sumir dentro de outros personagens. Fora isso, tentaram me botar na tela, mas eu fugi. Me acovardei. O papel de Julian Sands teria me agradado, ele até usou óculos como os meus! Ele fez um trabalho brilhante. E, bem, você sabe escrever ou você sabe atuar, não? Nesse filme, eu escrevi. Aprendi um bocado sobre como os filmes são feitos. Sou um cara curioso, enxerido, vivo metendo o nariz nas coisas para saber como funcionam.
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