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sexta-feira, 7 de abril de 2023

Bono conta como há 25 anos conseguiu a imagem definidora da campanha e da marcha em direção à paz na Irlanda do Norte


Foi o show marcante em 19 de maio de 1998 que ajudou a pressionar pelo voto do Sim durante a campanha do referendo para o Acordo de Belfast, realizado apenas três dias depois.
Uma cena do show tornou-se uma imagem definidora da campanha e da marcha em direção à paz na Irlanda do Norte. Era Bono levantando as mãos de David Trimble, líder do Partido Unionista do Ulster (UUP), e John Hume, líder do Partido Social Democrata e Trabalhista (SDLP), como lutadores premiados, vindo – inusitadamente – do mesmo canto e lutando para que a Irlanda do Norte dissesse sim.
"Me encontrei entre dois grandes homens", diz o cantor, relembrando o momento 25 anos depois do acordo. "Não a carne, mas a manteiga no sanduíche. O árbitro da grande luta segurando as mãos para as quais a história deveria ser gentil e todos os que vivem nesta ilha".
Olhando para trás, Bono se lembra de planejar o momento nos bastidores do The Waterfront Hall em Belfast como convidados no show da banda da Irlanda do Norte, Ash. Ele se lembra de ter feito um pedido inusitado aos políticos antes de subir no palco.
"No camarim, tive uma ideia meio boa que acabou ótima", diz Bono, "que era conquistar a multidão com um pedido impossível para um político: 'Você poderia subir no palco e não falar? Se você falar você provavelmente vai atrair algumas vaias, como é tradição nos shows de rock. Uma foto é tudo o que precisamos aqui. Isso é muito sério, mas também é show business'. Os dois sorriram".
Durante a interação no palco com os políticos, o cantor "vislumbrou dois homens de diferentes tradições que chegaram a um entendimento comum sobre o bem comum".
Bono menciona que no grupo One Campaign que ele cofundou, eles dizem que "você não precisa concordar com tudo se a única coisa em que você concorda for importante o suficiente".
Para Hume e Trimble, diz ele, o terreno comum era a paz.
Os dois homens receberam posteriormente o Prêmio Nobel da Paz por seus longos e difíceis esforços para encontrar uma solução pacífica para o The Troubles.
"Alfred Nobel inventou a dinamite e o detonador. Esses dois homens conheciam muito bem o sofrimento que se seguiu a essas invenções", diz Bono.
Esta semana, Mark Durkan, que chefiou a campanha do SDLP pelo voto do Sim e mais tarde sucedeu Hume como líder do partido, disse que o burburinho gerado pelo show ajudou a impulsionar a campanha do Sim contra a forte campanha daqueles que se opunham ao Acordo de Belfast.
O show ajudou a energizar a campanha, disse Durkan à Press Association. Três dias depois, o referendo foi aprovado com retumbantes 71% dos votos a favor do acordo de paz.
Para marcar o 25º aniversário do acordo, Bono colocou a caneta no papel e tentou, diz ele, transformar "vislumbre em elogio fúnebre" prestando homenagem  – "uma poesia, uma prosa" – a dois arquitetos da paz – Hume, que morreu em agosto de 2020, e Trimble, que morreu em julho passado.

Liderança.

Estávamos procurando um gigante e encontramos um homem cuja vida tornou todas as nossas vidas maiores.

Estávamos procurando alguns superpoderes e encontramos clareza de pensamento, bondade e persistência.

Estávamos procurando a revolução e a encontramos nos salões paroquiais com chá e biscoitos e reuniões noturnas sob fluorescência.

Procurávamos um negociador que entendesse que ninguém ganha se todos não perderem alguma coisa... e que a paz é a única vitória.

Procurávamos alegria e a ouvíamos na canção de um homem que tanto amava sua cidade e ainda mais sua esposa. Estávamos procurando um grande líder e encontramos um grande servo. Encontramos John Hume. – Bono


Fé no futuro.

O homem que celebrou o Acordo da Sexta-Feira Santa… indo para uma refeição tranquila com sua família em um restaurante de peixe não era apenas um produto do presbiterianismo. Ele era uma expressão disso.

Na tradição presbiteriana, a congregação se levanta quando a Bíblia é trazida.

Palavras importam. Elas realmente importam. Não para eles os cheiros e sinos e pouquíssimos símbolos... porque os símbolos também importam.

A religião de David Trimble foi definida por uma reverência pela educação, pelo rigor intelectual e um inflexível mas profundo senso de dever moral.

Um homem com um temperamento forte, mas um intelecto ainda mais forte.

Um advogado brilhante que se revelou, quando realmente importava, um ouvinte brilhante também.

Um político que era visto como "um linha dura" que, quando chegou o momento, fez a difícil escolha pela paz.

Um líder cuja tradição sempre disse "não", que compreendeu o trabalho doloroso, mas vital, de garantir que a tradição pudesse dizer "sim".

Tímido, estudioso, um pouco desajeitado socialmente, mas a coragem traz seu próprio carisma.

David Trimble no final, apesar das caricaturas comuns nesta ilha, mostrou a nós, sulistas, que os presbiterianos podem sorrir e até rir – desde que isso não leve à dança! – Bono
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