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quarta-feira, 1 de março de 2017
30 Anos de 'The Joshua Tree': os segredos das gravações do disco
A crise de confiança e comprometimento que o U2 tinha sofrido em torno de 'October' de 1981 - quando lutaram dolorosamente com a vida em uma banda de rock and roll enquadrada com a fé cristã, que três dos quatro membros apoiavam - ainda não estava totalmente resolvida. "Éramos e ainda permanecemos fiéis leitores da Bíblia", diz Bono. "E isso faz de você uma companhia estranha. Havia um pouco de... vocês são uns malucos? E a resposta... sim. Nós estávamos lutando por razões de estar em uma banda e para não deixar a banda destruir nossas vidas e nossos casamentos."
Alguma coisa desta angústia veio à tona em "With Or Without You", uma canção que vinculou Bono entre uma vida caseira e uma artisticamente livre. "Eu tinha algumas coisas emocionalmente difíceis acontecendo", confessa. "Eu não entendia que momento era esse de liberdade que eu receberia de um relacionamento sério. (Risos) Me senti culpado e eu fui falar com alguém na gravadora que foi muito atraente. É por isso que "With Or Without You" é tão operística, e é isso, ok?"
A referência para a canção originalmente veio dos playbacks de estúdio dos discos do Suicide (não menos importante, Cheree, do disco de estreia de 1977 da dupla eletrônica de Nova Iorque) e a chegada da guitarra Infinite do amigo de Daniel Lanois, Michael Brook – um protótipo de instrumento prometendo sustentação final, que se montada de maneira errada, daria um grande choque elétrico em quem estivesse tocando. Nas mãos de Edge produziu o som atmosférico, e o zumbido que é o coração da faixa.
"Estava em um sala para experimentar com essa coisa" relembra Edge, e Gavin e Bono estavam na outra sala ouvindo "With Or Without You". De repente, me ouviram tocando, e saíram dizendo: 'que diabos é isso? É incrível.'"
Outro momento de espontaneidade inspirada veio quando a banda estava tocando em uma parte da bateria de Larry Mullen, recuperada de uma canção abandonada, chamada "Under The Weather Girls" e Daniel Lanois começou a cantar um gancho vocal em estilo soul, no ouvido de Bono. "Ele disse 'tá bom, não cante mais!'", recorda Lanois. "E então ele saiu." O resultado foi a busca da luz tingida de gospel de "I Still Haven’t Found What I’m Looking For", criada no lugar. "Não acho que teria acontecido se o Danny não estivesse na sala", admite Bono.
Os títulos provisórios para o quinto álbum do U2 começaram a emergir - The Desert Songs, The Two Americas - parcialmente batizados pelas recentes viagens de Bono à Etiópia e a América Central: em El Salvador testemunhou em primeira mão a intervenção dos Estados Unidos na guerra civil no país. "Sim, viagens para El Salvador e Nicarágua foram realmente de abrir os olhos", ele diz. "Fui com este tipo de grupo esquerdista cristão que estavam traficando pessoas. Mas entramos também em um território rebelde e ficamos assustados quando presenciamos, acho que de longe, o bombardeio do território rebelde."
O resultado foi a estrondosa estilo zepeliano "Bullet The Blue Sky" em que Bono representou Reagan com "o rosto vermelho como uma rosa em um arbusto de espinhos", jogando centenas de dólares. Antes da gravação de seu grande solo de guitarra, Edge foi instruído por Bono para "colocar El Salvador através do seu amplificador". Por outro lado, Adam Clayton chama de "escuridão do esquadrão da morte" a canção "Mothers Of The Disappeared", um hino para aqueles que tinham "desaparecido" nas mãos de regimes na América Central e do Sul.
"É um pouco sinistra", diz o baixista sobre a canção. "Mas há um otimismo na melodia que pode sobreviver a essas forças obscuras, bem como o reconhecimento de que estas forças obscuras são demoníacas nessas situações."
À medida que as sessões para o que se tornaria 'The Joshua Tree' avançaram para o seu final, uma canção estava provando ser quase impossível para funcionar para o disco. Construída em torno de um riff de guitarra de Edge com eco triplo, foi concebida como uma canção que poderia resumir todas as ideias da banda para o álbum e que caminharia naquele cenário (até então, sem pressão). Mas a criação de "Where The Streets Have No Name" trouxe raiva e deixou todos envolvidos com os nervos a flor da pele.
"Foi mais como Neu! que qualquer outra coisa que fizemos antes", diz Edge. "Nenhum de nós havia tido que tocar com esse tipo de precisão e disciplina".
Daniel Lanois recorda ter de "conduzir" o U2 através das mudanças na canção, escrita em uma lousa enorme, em que identificava os pontos apropriados com um taco de bilhar. "Acho que podemos dizer de maneira diplomática e justa", diz, "que o U2 ainda não havia concluído seu doutorado físico em música. Então eu tinha que ser um professor de ciência."
Mas ajustes continuaram sendo feitos na master tape da canção, com acordes e peças sendo alteradas por tempo indeterminado. Na outra ponta da corda, Brian Eno estava tentando estabelecer um "acidente" para apagar a faixa e forçar o U2 à começar de novo, mas foi contido pelo engenheiro de som Pat McCarthy. "Eno não era tão paciente naquela época", ri Lanois. "Era um velho rabugento, mesmo naquela época."
"Foi uma saga ridícula, essa canção", lamenta Eno. "Deus, foi terrível. Acho que 40% do tempo foi perdido naquela canção. Tornou-se uma espécie de estranha obsessão. Então eu pensei, bem, se a fita for perdida ou danificada, poderíamos começar novamente. Mas não fiz isso."
Na última etapa da canção, o U2 trouxe Steve Lillywhite - produtor de seus três primeiros álbuns e um confiante par de orelhas, especialmente para as que eram potenciais singles. "Brian e Danny foram meio que fritados do processo", diz Lillywhite hoje. "Foi um caso de passar o controle remoto". Especialmente importante foi a mixagem de "With Or Without You" do Lillywhite. "Foi como abrir uma flor", ele diz. "Cada música foi se ampliando."
"Um grande 45, como eram conhecidas", disse Bono. "Nós nunca fomos geniais nesse tipo de compressão e coerência. Não era o forte do U2. Steve fez uma mixagem de mestre e de repente ela ficou em foco. "With Or Without You" e "I Still Haven’t Found What I’m Looking For" foram concluídas juntas no final. Então agora nós tínhamos dois singles. A banda que geralmente não tinha nenhum. E a emoção daquilo... acredito que foi onde tudo mudou para nós."
Revista MOJO - Edição N° 281
Do site: U2 News (noticierou2.blogspot.com)
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