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sábado, 1 de julho de 2017

1997: um ano de muito trabalho para a primeira vinda do U2 ao Brasil com a turnê Popmart


Após o lançamento de 'POP' em março de 1997, e o anúncio da turnê mundial Popmart, diversos sites sobre o U2 na Internet, mesmo a título de rumor, incluíam o Brasil na rota da badalada megaturnê. Seria a primeira vez que o país receberia um show do grupo.
Em abril de 1997, se lia e ouvia que os shows seriam no Maracanã, Rio de Janeiro, dia 28 de janeiro de 1998, e Morumbi, São Paulo, dias 31 de janeiro e 1 de fevereiro de 1998.
A gravadora aqui no Brasil (PolyGram) não confirmava e os organizadores (prováveis naquele momento, Water Brothers ou Dueto) desconversavam.
A única confirmação surgiu do Estádio do Morumbi. Segundo o diretor de marketing do São Paulo Futebol Clube na época, Jaime Franco, o clube já tinha recebido um pedido de reserva do estádio para os shows da banda, no final de janeiro e início de fevereiro. Segundo ele, o São Paulo já estava em negociações com uma produtora de shows, mas ele não revelou qual.
Naquele momento, o calendário brasileiro estava atrelado às prováveis três apresentações da banda em Buenos Aires, na Argentina, marcadas para os dias 2, 3 e 4 de fevereiro. Junto com shows no Chile, anunciados durante o lançamento do disco, em Nova York (EUA), mas sem data marcada naquele período, eles formavam a chamada 'quarta perna' da turnê, na América do Sul.
Aqui no Brasil, nos bastidores da gravadora PolyGram, era confirmada a vinda da banda para o país em janeiro de 1998. A demora na confirmação oficial das datas, no entanto, se devia principalmente à dificuldade de encontrar patrocinadores. Isso porque o U2 não aceitava que seus shows recebessem verba de empresas de cigarro ou bebidas, as principais patrocinadoras de megaeventos. Então, ainda segundo a gravadora, era preciso conseguir um pool formado por vários patrocinadores menores. Daí a demora.
Também não estava acertada ainda qual seria a empresa que traria a banda ao país. Naquele primeiro momento, havia duas empresas cotadas: a Dueto Promoções, do Rio de Janeiro, e a Water Brothers. Jeff Neale, da Dueto, desmentiu rumores de que a empresa já tinha tudo certo para a vinda do grupo, com patrocínio da Antarctica. "O show do U2 é muito complicado. Ainda não está nada acertado", afirmou.
A MTV se associou ao empresário Franco Bruni em julho para trazer a PopMart ao Brasil.
Em setembro de 1997, Franco Bruni disse: "Passei 21 dias nos EUA, onde as negociações avançaram 50%. Na última semana, já avançamos mais 45%. Agora não está faltando nada", disse Bruni.
O diretor-geral de negócios da MTV, André Mantovani, também confirmou a reunião decisiva. "Nós vamos apresentar os patrocinadores e será dada a palavra final", afirmou.
Segundo Mantovani, porém, ainda era preciso vender algumas cotas de patrocínio para os shows brasileiros. A turnê estava orçada inicialmente em R$ 10 milhões.
Em outubro, a entrada de um guindaste que suportasse 110 toneladas no portão de 3,72 metros de altura do Estádio do Morumbi foi a única dificuldade encontrada por Tom Armstrong, técnico da produção da turnê PopMart do U2, que vistoriou o estádio paulistano.
Armstrong fez a visita acompanhado de um representante da TNA (que empresariou a turnê) e dois membros da produção dos shows italianos. Antes, a equipe esteve no Maracanã, no Rio.
Segundo ele, seria necessário cavar uma entrada para o veículo, ou desmontá-lo, como aconteceu nas cidades de Roma (Itália) e Memphis (EUA).
Depois, Armstrong esteve em Belo Horizonte vistoriando o Mineirão, onde poderia acontecer o quarto show do U2.
No final de dezembro de 1997, Bruni chegou de NY trazendo o contrato assinado pelos organizadores da PopMart Tour e com os últimos detalhes acertados para a passagem do grupo pelo Brasil.
Para surpresa, quando os shows foram confirmados, um dos patrocinadores foi a Skol, a primeira a confirmar um patrocínio de R$ 2,5 milhões, no final de agosto, derrubando a barreira imposta pela banda contra a participação de empresas de bebidas alcoólicas.
"A postura do U2 tem tudo a ver com nossos projetos de incentivar o rock, como o festival Skol Rock", disse Marco Aurélio dos Reis, o executivo da agência de propaganda F-Nazca, responsável pela conta da Skol. "O pacote da MTV é atraente, possibilita uma série de ações promocionais."
Com isso, ganhou o privilégio de ser o patrocinador principal, limitando as cotas a serem vendidas a outras empresas. MTV e Bruni negociaram com a Gradiente uma cota de R$ 2,5 milhões.
Já a C&A, outro patrocinador, foi responsável pela venda de ingressos em todo país. Segundo Bruni, os valores acordados com a rede de lojas foram suficientes para concretizar a vinda da banda irlandesa ao país.
Franco Bruni contratou o escritório de advocacia Carnide & Associados (que atuou nas vindas de Madonna, Rolling Stones e Michael Jackson) para assessoria jurídica e tributária.
O advogado Herberto Carnide, dono do escritório, afirmou: "Prestamos assessoria ao Hollywood Rock, Free Jazz, Rolling Stones, Madonna e Michael Jackson. Posso garantir que com meus clientes nunca houve subfaturamento". Ele diz que acreditava que não havia o risco no caso U2. "Em eventos grandes isso não ocorre. Todos os grandes grupos exigem comprovação de recolhimento de Imposto de Renda. Eles têm que prestar contas ao fisco de seus países."
Segundo a produção do show, a banda fez apenas duas exigências: 12 toalhas "muito brancas" para cada integrante do grupo durante o show e muitas plantas nos camarins.
Uma quarta apresentação em terras brasileiras (cogitou-se Belo Horizonte) foi descartada.
No Rio de Janeiro, o U2 quis conhecer "a população pobre" e uma escola de samba.
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