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sábado, 1 de outubro de 2016
Lembrar Para Não Esquecer: U2 em Sarajevo
Sarajevo, 23 de setembro de 1997
Estados Unidos da América, 23 de setembro de 2016
Dezenove anos atrás, eu estava à caminho para o primeiro concerto da minha vida. Eu tinha dezessete anos. Foi divertido, excitante. O dia foi cheio de promessas que a história estava prestes a ser feita. Eu não era uma garota adolescente comum. Os espectadores naquele dia não eram alguns daqueles espectadores comuns. Eram homens, mulheres, adolescentes que foram tirados do mundo ao qual nós pensamos que nós pertencíamos a três anos. Nós fomos esquecidos, abandonados para passar fome e morrer. Até hoje, não acredito que em apenas três anos saímos da mira dos franco atiradores, bombardeios, morte e fome para assistir um show do U2, em sua turnê PopMart. Para mim, esta foi a primeira vez que o mundo foi devolvido para nós. Eles chegaram, os quatro, Bono, The Edge, Adam e Larry, trazendo tudo o que nós desejávamos: liberdade, despreocupação, alívio, vida.
Os organizadores nos disseram para usarmos tênis para preservar a grama no Estádio Kosevo. Para que? Pensei, para todos esses jogos internacionais que não estávamos jogando? Fiz lobby para conseguir o dinheiro para comprar uma passagem de ônibus e pagar meu primo de volta pelos ingressos do concerto. Até os meus pais, que eram muito conservadores, não se opuseram em minha ida para uma cidade diferente para assistir essa banda estrangeira. Eles entenderam como este evento era importante para mim, para todo o país. Não me lembro dos sentimentos que tive naquele dia. Excitação, triunfo, medo, amor? Esta foi a primeira vez que pessoas de todas as partes da Bósnia se reuniram juntas em grande escala depois que elas foram informadas por três anos que elas deveriam odiar uns aos outros. Jovens vieram. Todos vieram, setenta mil deles, bósnios, croatas e sérvios. O U2 nós cobrou um valor trivial pelos ingressos, $10 talvez, não me lembro o valor do dólar naquele momento em relação à moeda da Bósnia, mas foi perto de US $10. Estes caras queriam vir, para nos aproximar do mundo. Assistiram o nosso mundo pela TV por três anos, onde parecia que queríamos eviscerar um ao outro. Nós não fizemos isso. Nós tentamos odiar e rezar a Deus para esmagar o inimigo, mas não éramos inimigos uns dos outros. Isto foi tudo uma confabulação de nossas mentes.
Então, veio o U2. Bono estava no palco, imitando um boxeador. Eu cantava e dançava e beijava um garoto. Foi a melhor noite da minha vida. Senti como se eu tivesse esta conexão especial com a banda. Todos nós provavelmente sentimos. Nós pensamos que Bono, The Edge, Adam e Larry pegaram aquela dor coletiva que estávamos sentindo e levaram para o palco com eles, colocando em sua música e então de alguma forma levando a dor para longe de nós, permitindo-nos apenas sentir e esquecer que só estávamos vivos por algum acaso cósmico. Estávamos vivos por sobreviver a algo que estava além do nosso controle.
Passei a noite na casa da minha tia. Muitos dos meus amigos passaram a noite nas ruas de Sarajevo, onde se depararam com membros do U2 apenas caminhando pelas ruas nas primeiras horas da manhã depois do concerto, talvez tentando entender como uma cidade tão linda e tão sensível à sua música pôde ser tão destruída.
Foi há dezenove anos. Agora, sou uma mulher com dois filhos, vivendo em paz na América, no entanto, este concerto é mais real para mim às vezes que a realidade de agora.
Merima Trako
Do site: The Huffington Post
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