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segunda-feira, 17 de outubro de 2016
Charles Gavin fala do trabalho do produtor Brian Eno com o U2
Em uma entrevista para a Folha de São Paulo em 2010, Charles Gavin (ex baterista dos Titãs) disse ter tido sorte por haver trabalhado com bons produtores. O baterista disse que a orientação estilística e de repertório pode até ser rejeitada por artistas mais independentes -e fechados musicalmente-, mas a maioria dos músicos usaria, se pudesse pagar, os serviços de um Brian Eno. E falou sobre o trabalho do produtor com o U2:
"Brian Eno se especializou em escutar o que o artista trouxe e dar muitas sugestões. Interfere no resultado. Não se coloca só como músico, mas como pensador. Os discos com Bowie, nos anos 70, tinham essa abordagem de pensar no "conceito". Eno é diferente porque não só entende muito do processo técnico, mas ajuda com ideias para o disco, sem que os resultados fiquem parecidos.
No U2 é mais fácil perceber do que em Bowie, o "camaleão". Bowie sempre mudou muito de disco para disco, tem facilidade em transitar entre estilos. Com o U2, é só ver o que a banda fez antes de Brian Eno. Fizeram discos muito bons com Steve Lillywhite. Mas chegou um momento em que quiseram experimentar uma nova sonoridade. No primeiro disco com Eno, 'The Unforgettable Fire', o som mudou bastante, mas continuou sendo U2. Ele não muda a sonoridade de uma banda como fazem outros produtores, como Trevor Horn. Este faz tudo: escolhe repertório, forma a banda, toca, faz o grupo acontecer, é quase um mágico. Os ingleses sempre apostaram na melodia, e os três primeiros discos do Coldplay investiram nisso. Mas seu vocabulário musical era muito fechado. Já 'Viva la Vida' está cheio de texturas novas, por exemplo ritmos orientais, com tabla, música árabe. Há momentos em que, para se renovar, é preciso mudar a instrumentação. Eno sabe usar a programação de instrumentos como poucos, a favor da banda. Certos produtores usam tantas máquinas que deixam os músicos em segundo plano. No Coldplay, há momentos em que a bateria é programada. Eno fez muito isso com o U2, por exemplo em 'Achtung Baby'. É claro que, ao vivo, é preciso fazer adaptações. Porque, ao vivo, são outros códigos, precisa de humanidade. O único produtor que me vem à cabeça e que tinha a mente tão aberta, apesar de muito diferente, era George Martin -até porque os Beatles precisavam disso."
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